Por um milhão de dólares

Capítulo 3

    Quando Fael chegou a casa de seus pais, ainda pensava sobre sua conversa com Emma. Criar um clima amigável com ela não foi o único motivo por que aceitara o pedido para fazer o trabalho fotográfico de Eva. A verdade era que apesar de todas as razões pelas quais dissera a si que Emma não era para ele, queria manter a amizade deles como antes.
    Os jantares nas noites de terça-feira na casa dos seus pais era um ritual semanal na família Ferraz. Embora, nem todos podiam acompanhar sempre. Francy é professora de teatro e seu marido, Tom, um engenheiro sempre muito ocupado. O mesmo era verdade sobre Felicity, o marido dela é médico e ela consultora de finanças com dois filhos adolescentes.  Geralmente Fael gostava daqueles jantares, com as agendas ocupadas de todos, não via muito as irmãs, os cunhados e sobrinhos, embora todos vivessem nas proximidades. Naquela noite, porém, gostaria de conseguir escapar porque todo mundo, especialmente Francy, havia lhe lançado olhares cheios de pena. Ele sabia que todos pensavam que estava arrasado por causa do rompimento do noivado com Cecília. Outra vez percebeu que a melhor coisa que poderia fazer para acabar com todos os mexericos e a pena indesejável de sua família seria começar a ver outra mulher depressa. Céus. Não importava o quanto tentasse não conseguia tirar Emma da sua mente.  Nem conseguia parar de pensar sobre a forma como ela reagira antes.   Naquela manhã usara sua espécie de fivela na forma de uma borboleta gigante no cabelo e um dos seus típicos vestido preto padrão que mostrava o par de pernas realmente perfeita. Ele riu pensando naquelas pernas.
   - Ei, Fael, está tudo bem com você? - Felicity sentara ao lado dele enquanto seus filhos adolescentes foram lavar as mãos antes de sentar a mesa.
   - Estou ótimo. Por que?
   - Você sabe... - abaixou a voz, embora ninguém mais na mesa estivesse prestando atenção.
   - Confie em mim. - Fael sufocou um suspiro. - Estou ótimo.
    Ela apareceu querer dizer mais alguma coisa, no entanto, apenas mordeu o lábio inferior. Seus olhos tinha uma expressão preocupada, mas Fael estendeu a mão e apertou a dela.
   - Bem, eu acho que a coisa toda é uma droga, o que há de errado com aquela mulher, afinal? - Francy não conseguiu se impedir.
   - Não há nada de errado com Cecília, ela apenas foi mais honesta que eu. Romper foi a melhor coisa para nós dois.
   - Não está apenas dizendo por dizer?
   - Não, não estou apenas dizendo por dizer. Sempre houve alguma coisa faltando entre nós, eu sentia, mas não queria enfrentar. Estou contente por Cecília ter visto e resolvido a situação.
   - Sabe eu também nunca achei que ela era a mulher certa para você. - agora Felicity mostrou um sorriso de verdade.
   - O que está acontecendo aí? - Ana Lisa, a mãe deles se aproximou.
   - Não faço ideia. - as palavras de Joseph, o pai, eram atrevidas quando piscou pra Fael. - Mas o jantar está maravilhoso.
   - Obrigada, querido. Não há nada de que goste mais do que alimentar minha família.
   - Ouvir dizer que Theo Meier ficara noivo e Emma é a planejadora do casamento do filho da juíza. - Francy procurou inverter o assunto pra algo menos sombrio.
   - É mesmo? - Ana Lisa soltou um suspiro. - Vocês não matariam por um convite?
   - Sei que eu mataria. - Francy acenou.
    Fael se perguntou se deveria mencionar que as fotos do casamento seriam tiradas por ele. Melhor não, decidiu. A juíza não gostava de plateia, principalmente numa sessão de fotos que estavam lhe custando uma declaração de um milhão de dólares.
   - Os eventos da Alencar tem se destacado com magnetismo. - comentou Tom.
    Fael percebeu que todos só sabiam falar do entediante assunto de casamentos.
   - Eva tem feito muito sucesso. - Joseph afastou a cadeira da mesa com relutância. - E Emma também.
   - Tenho que dizer que admiro muito a Eva pela forma como se levantou após o ataque cardíaco fatal do marido. - Ana Lisa lançou um olhar sentimental.
   - Sim, o que é surpreendente. Todos achavam que ela não tivesse esse tipo de coragem e energia.
   - Fael, quer ver o resto do jogo na televisão? - chamou Joseph depois que terminara sua janta.
    Ele balançou a cabeça. Sabia aproveitar uma oportunidade de fugir de um inconveniente quando havia uma. Mas, mesmo depois que ele e o pai estavam confortavelmente na sala de televisão, diante da enorme tela digital que Joseph havia comprado há apenas quatro meses, sua mente estava apenas marginalmente no jogo.  Grande parte dela se concentrava na sua amiga, Emma. E quanto mais pensava nela, mais queria continuar o que haviam começado naquele dia.  Por que não conseguia tirar Emma de sua mente? Talvez seu inconsciente estivesse tentando dizer alguma coisa.  Talvez em vez de tentar esquecer, devesse pensar numa forma de tê-la.