Capítulo 10

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     Fael acenou para Emma e o constrangimento a tomou. Pensaria mal dela agora? Se comportara de modo desavergonhado? De alguma forma não imaginava Cecília agindo daquele jeito. Ao lembrar de Cecília, a culpa a esmagou.
   - Você está bem? - Fael pressionou, no seu olhar havia preocupação. - Por acaso se arrependeu?
     Emma olhou bem para ele, os cabelos desarranjados, o rosto gentil e a expressão preocupada. Se sentiu envergonhada. Era claro que Fael não pensaria mal dela. O que estava acontecendo de errado com ela, afinal? Ambos se conheciam muito bem, eram bons amigos a anos. Dois adultos, solteiros e saudáveis que se desejaram durante uma viagem de férias. O que havia de errado nisso?
   - Não. - a resposta foi firme. - Não me arrependo nem um pouco.
    Depois de um momento ele riu, a preocupação do momento anterior desaparecida.
   - Venha se sentar aqui comigo. - ele bateu na cama ao lado dele.
   - Onde estão os chocolates?
   - Está dizendo que prefere os chocolates que uma rodada de champanhe? - a expressão de incredulidade que Fael tentava manter com grande esforço, a fez ri.
   - Chocolates primeiro e champanhe segundo. - ela tentou falar no mesmo tom que ele usara.
   - Você é uma negociadora daquelas bem durona. - ele estendeu a mão. -  Vamos comer primeiro seus chocolates.
   - E depois seu champanhe. - ela riu.
     No fundo Emma sabia que estava brincando e rindo, mas se deixara levar longe demais quando fizeram amor. Dera muito mais importância do que havia. Pelo menos não dissera nada a Fael que a comprometesse. E certamente ele estava muito contente com o que acontecera entre eles, assim, se comportaria como ele e ficaria tudo bem.

     Já passava da meia noite quando Fael despertou e ficou observando Emma dormir. Deitada de barriga para baixo com as pernas espalhadas, lembrava uma criança. Sua respiração era lenta e suave com um leve ressonado. Não era uma criança, de jeito nenhum. Era uma mulher linda e o fazia sentir, pensar e querer coisas que deveriam ser esquecidas com grande urgência. Fael estendeu a mão e abriu os dedos nos cabelos dela espalhados sobre o travesseiro, ela se mexeu de leve, murmurou alguma coisa ininteligível, e de novo mergulhou no sono. Ele sorriu e insistiu um pouco mais no toque.  Certamente adorava aqueles cabelos, acariciou uma mecha e a cheirou.
   - Humm. - murmurou Emma.
    Mas seus olhos não se abriram e Fael sorriu. Precisar deixa-la dormir, descansar. Silenciosamente, para não a perturbar mais, ele se levantou e foi ao banheiro tomar um banho de chuveiro. Pela primeira vez em muito tempo mal podia esperar que o dia começasse.

     Quando Emma acordou o sol estava quente e seu estômago embrulhado das taças de champanhe que sorvera com Fael. Se espreguiçou como uma gata e se permitiu lembrar de tudo que havia acontecido na noite anterior. Ruborizou quando pensou sobre como ela e Fael haviam feito amor mais duas vezes de forma gentil, lenta e tão maravilhosa que Emma quase chorou com a pura beleza e alegria de tudo. Depois, ele a mantera presa a seu corpo, no estilo conchinha e adormeceram assim. Onde ele estaria agora? Na varanda? Na sala de estar? Não ouviu o som da televisão. O que estava fazendo?
     Emma levantou-se, pegou o roupão e o vestiu. Sem se calçar, foi até a porta que levava a sala de estar e abriu. O sorriso morreu, Fael não estava lá. Franziu a testa, podia ver a varanda e não estava lá também.  Então, ela viu o bilhete encostado ao vaso de flores sobre a mesinha redonda ao lado do sofá. Aproximou-se e o pegou.

     Ele assinará o bilhete com "Amor, Fael

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     Ele assinará o bilhete com "Amor, Fael." E daí? Disse aquela vozinha interna desagradável e desmancha prazeres. As pessoas estão sempre dizendo "Amor" uma para as outras, especialmente em bilhetes ou e-mails.  Ela mesma faz isso o tempo todo e não significa que ame aquela pessoa.  Apesar do sermão daquela parte dela que jamais acreditava que nada de bom poderia acontecer em relação a homens na sua vida, Emma estava sorrindo quando se dirigiu ao banheiro para tomar seu banho. De repente o dia, a semana inteira, parecia cheia de possibilidades.
    Mas aquela vozinha irritante voltou a lhe atormentar enquanto esperava Fael chegar. E se, apesar de todas as suas precauções, alguém descobrisse onde estava naquela semana e com quem? Mas, isso não aconteceria, garantiu a si mesma. Ninguém soubera que estavam lá juntos e ninguém jamais saberia.

     Fael não demorou a voltar a suíte, passava um pouco das 8h30 quando chegou. Sentia uma fome enorme, já que saira para sua caminhada às 6hrs, e esperava que Emma houvesse levantado e tivesse pronta para tomar o café da manhã. Entrou na sala de estar e imediatamente a viu, estava em pé junto a grade da varanda olhando para as águas brilhante do lado de fora. Mas a sua entrada ela se virou, um sorriso hesitante o saudando. Ele sentiu uma onda de ternura por ela, sabia que estava se lembrando, como ele, de tudo que haviam experimentado na noite anterior. Andava em direção a ela quando Emma deu um primeiro passo tímido para ele. Fael pensou de novo em que mulher linda ela era. Naquele dia seu sedoso cabelo brilhava ao sol, a visão era totalmente encantadora, assim como era a blusa branca e a bermuda vermelha que usava com sandálias de dedo sem salto. No entanto, a atração não residia apenas na aparência. Emma era muito bem sucedida e competente em seu trabalho, sofisticada e mundana por causa de suas origens, até mesmo entediada devido as experiências de vida. Mas era também venerável, uma característica que tentava com firmeza não demonstrar, talvez porque considerasse a vulnerabilidade uma fraqueza. Fael conseguia compreender aquilo, a maioria dos homens tentava esconder as próprias vulnerabilidade. E como demonstrara na noite anterior, Emma era também calorosa e apaixonada, em resumo, tudo que um homem podia querer numa mulher.
   - Oi. - a voz dele era suave.
   - Ah, oi. - respondeu Emma.
     Em curto instante, ele estava ao lado dela e a tomava num abraço demorado. Ela ergueu a cabeça e sorriu.
   - Pronta para o café da manhã?
   - Sim, estou. Quer pedir ao serviço de quarto ou descer?
   - A cafeteria tem um bufê, já verifiquei. - Fael passou a língua nos lábios. - Parece tudo ótimo.
   - Então vamos lá.
    A cor dos olhos de Emma lembrava as delicadas folhas novas que nasciam na primavera. E como Fael nunca havia percebido? A pele limpa e sedosa, levemente maquiada a fazia parecer ainda mais jovem. Fael tentou não se deixar distrair pela expressão nos olhos dela ou não comeriam naquela manhã.
     Quinze minutos depois estavam no bufê. Depois de terminarem de comer se demoraram com uma segunda xícara de café, segunda para ela e terceira para Fael.
   - Isso foi sensacional. - Emma se recostou na cadeira. - Mas se eu continuar comendo assim aqui, nenhuma das minhas roupas vai me servir quando voltar para casa.
   - Faremos exercício para queimar as calorias. - ele ergueu as sobrancelhas e riu. - Então o que quer fazer hoje?
   - Quais são as minhas opções?
   - Podemos passar a tarde na piscina ou nadando na praia. Ou podemos ir de lancha a um dos recifes de coral e tentar um pouco de pescaria. - ele fez uma pausa. - Se preferir podemos fazer mergulho no São Francisco. Ou alugar um bug e sair explorando.
   - Por conta própria? Sozinhos?
   - Sim. Podemos usar roupas de banho e levar um daqueles cobertores, vi que o hotel fornece aos hóspedes. Eles até preparam uns sanduíches e um cooler com refrigerantes.
   - Me parece ótimo. - Emma se decidiu. - Podemos fazer o que tivermos vontade a tarde toda.
     Aquele foi um dos dias mais perfeitos da vida de Emma. O sol, o mar brilhante, o vento lhe erguendo os cabelos enquanto Fael dirigia pela estreita estrada costeira até encontrarem o lugar ideal para parar.  A deliciosa sensação de liberdade de todas as responsabilidades e frustrações e estresse da vida cotidiana. Mas acima de tudo a companhia de Fael. Tudo se somou para transformar a experiência num momento de perfeição do qual ela se lembraria para sempre.
     Tiveram sorte, pois encontraram um local bem protegido onde não havia outras pessoas e apenas um raro veículo passava de vez em quando pela estrada acima da praia.  Assim puderam ficar sossegados.
    Tudo estava incrível e até melhor que a imaginação de Emma pode sonhar. Estava até a cintura na água, pulando ondas, quando uma delas a derrubou e a arrastou para longe.  Quando tentou se levantar outra onda lhe tirou o equilíbrio e Emma caiu de novo. Ligeiramente Fael a agarrou e a puxou para cima. Quando seus olhos se encontraram, Emma apenas ficou parada lá, e Fael observou com atenção a lenta mudança no corpo e nos olhos dela. Alguma coisa pulsou com insistência e a respiração dela se tornou rasa. Fael a tomou nos braços, a levou para a areia e a deitou no chão. Após a aplicação de trinta compressões, lhe cobriu a boca com a dele fazendo duas ventilações.  Repetiu a sequência outra vez e Emma respirou.
   - Perdi o equilíbrio. - Emma se agarrou ele. Estava tremendo com a intensidade do susto.
   - Está tudo bem. - a tranquilizou Fael.
     Agora ele podia ordenar a seu coração que voltasse a bater normalmente outra vez.

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Por um milhão de dólaresOnde histórias criam vida. Descubra agora