Por um milhão de dólares

Capítulo 19

     O sábado finalmente chegou. Na igreja a fragância de centenas de rosas flutuava no ar. Emma conferia cada mínimo detalhe, Reed acomodava os últimos convidados em seus lugares e Eva arrumava as dobras do vestido de cetim branco que Cecília usava. No interior da igreja se ouvia os murmúrios dos convidados que esperavam com impaciência o surgimento da noiva.
     A orquestra começou as primeiras notas majestosas de "Ária" em ré maior de Bach, a peça que Cecília e sua a mãe haviam escolhido para entrada. Era a escolha perfeita, pensou Emma. Bem adequada para a noiva régia naquela igreja antiga.
   - Entendi. - respondeu Cecília com um sorriso que mostrou suas covinhas. - Não há pressa, hesitar entre cada passo.
   - Exatamente. - Emma voltou silenciosamente para o fundo da igreja e observou a procissão cerimonial sem defeitos.
     Quando a noiva e o pai começaram a caminhar, Eva e Reed se juntaram a Emma. De vez em quando Emma olhava Fael entre os convidados fazendo seu trabalho perfeito e se sentia aliviada. Sabia que falaria com ele mais cedo ou mais tarde, no entanto, preferia que fosse mais tarde, quando tivesse mais controle sobre suas emoções.
     Começou a tradição dos votos e Cecília foi entregue a Garret por seu pai, o ator Alex Paiva, que todo orgulhoso e sorridente se voltou e sentou ao lado da esposa Aurora. Depois uma amiga de Cecília cantou "Always", que ela havia dito a Emma que estava tocando quando o seu pai pedira sua mãe em casamento.
     As palavras de sentimentos na canção foram tão lindas que Emma não conseguiu se controlar. E ela finalmente enfrentou a verdade que tivera escondido de si mesma por tanto tempo. É claro que acreditava em casamento. Apenas tivera medo de ser magoada de novo, de entregar seu coração a alguém que não o valorizasse, como fez seu primeiro namorado. Entre lágrimas Emma se perguntou por que Fael não a conseguiu amar? Por que ela teve que ser apenas um caso que o fizesse se esquecer de Cecília?
   - Você precisa tomar um ar. - sussurrou Eva e Emma saiu discretamente para fora da igreja.
     Após a cerimônia, os convidados seguiram para a galeria onde seria realizada a recepção. Estava tudo lindo aquela noite, decorado com centenas de orquídeas e rosas brancas. As fontes do lado de fora brilhavam num arco-íris de luzes coloridas deixando o ambiente mágico ao salão de baile. Todos estavam muito elegantes, os homens de ternos escuros e as mulheres em vestidos de coquetel e cobertas de jóias. Fael trabalhava com dedicação, tirando diversas fotos dos convidados, conhecia muitos deles, inclusive Alex que quase se tornara seu sogro. Escondido atrás de uma planta alta ao lado de uma das portas de abertura para o salão, Fael ficou a observar Emma. Ela estava linda em seu conjunto de terninho justo de seda clara e sapatos de salto de dez centímetros.
   - Que bom que veio, Fael Ferraz.
   Fael se virou e viu Cecília Paiva parada lá. Ela estava impressionante, como sempre, seu vestido de noiva realçando a figura maravilhosa de suas curvas.
    - Olá, Cecília. - Fael esperava que ninguém tivesse a ouvido dizer seu nome naquela voz estridente.
     Ele lançou um último olhar na direção de Emma, ela estava de costa para ele, ocupada falando com um dos garçons.
   - O que está fazendo escondido atrás dessa planta? - os olhos de Cecília brilhavam.
   - Não estou escondido.
   - Mas é assim que parece. - Cecília estendeu a mão, segurou a de Fael e o puxou de trás da planta. - Dance uma música comigo.
   - Desculpe, mas eu... - ele não conseguiu terminar a frase porque Cecília já estava se movendo sem dar atenção a sua relutância.
     Fael percebeu alguns olhares, sabia que estaria nas colunas de fofocas na manhã seguinte por dançar com a recém casada.  Continuava sendo observado, por isso decidiu fazer a coisa cavaleiresca e dançar uma única música com ela e se despedir. Ele a levou para o meio do salão, onde teria mais espaço. Soube o momento exato que Emma os viu. Por um breve segundo os olhos dela se encontraram com os dele, então Emma os desviou de pressa. Mas não antes que ele visse o choque nos olhos dela ou como seu rosto empalideceu ao ve-lo dançar com Cecília, sua ex noiva.
   - Fael, eu não tive tempo para me desculpar, pelo rompimento repetindo de nosso noivado. Por isso resolvi aproveitar essa oportunidade. - a voz de Cecília estava trêmula. - Por favor diga que me perdoa.
   - Não há necessidade de pedir perdão, Cecília. Você fez a coisa certa para nós dois. - Fael estava serio. - Me sinto feliz porque encontrei uma pessoa depois que rompeu comigo e sei que você encontrou também.
   - Você é um ótimo homem. - Cecília elogiou com sinceridade - Sempre foi leal e generoso. Fico feliz de verdade por você superar a gente.
   - Obrigado. Também fico por você. Boa sorte com o Garret. - Fael sorriu seco. - E agradeço por me ensinar a ter coragem e buscar meus objetivos.
   - Bem, desejo que a pessoa que você encontrou saiba a sorte que tem. - Cecília o soltou antes da música terminar e foi ao encontro de Garret.
    - Na verdade sou eu que tenho sorte. Isso é, se as coisas correrem como espero que ocorram.

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