One.

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“ Isn't this why we came? Gotta get with you ”

— Hayley Kiyoko: Girls Like Girls ♡

Emma 

Existem momentos que mudam nossa vida, marcando-a para sempre, definitivamente. E eles nos fazem questionar sobre tudo, quem somos, porque estamos aqui, passado, presente e futuro. Mesmo que eles pareçam ser nosso próximo erro, como vamos saber se nunca arriscar uma tentativa? Em I Did Something Bad, Taylor Swift disse: “ se eles dizem que é ruim, então por que me sinto tão bem? ”. 

Eis uma lição importante que aprendi sobre o amor: é um sentimento inexplicável, intruso, traiçoeiro e quando ele bate na nossa porta, não adianta dizer não. Ele entra sem ser convidado e faz a bagunça que quiser. 

Mas às vezes, precisamos dessa bagunça. 

A primeira vez que eu a vi foi no corredor da escola, no meio de uma multidão. Mas, em meio a tantas pessoas, ela se destacou. Como uma luz no meio da escuridão, uma mistura de pureza, amor, paixão, ternura, charme e tantas outras coisas que eu nem conseguia explicar direito. Não acreditava em amor à primeira vista, isso é coisa só de ficção. Mas eu não posso negar que quando eu a vi naquele dia, de alguma forma eu soube. Ela tinha cabelos loiros, pele branquinha, mais baixa que eu, apenas um pouco, olhos verdes. Era linda, mas não uma beleza qualquer: uma beleza sensacional, única, diferente. Daquelas que se destacam a distância de quilômetros. O nome dela, descobri horas depois já que estávamos na mesma sala, era Ceci. Incrível. Até o nome era lindo, marcante e gostoso de pronunciar. Nossos olhares se cruzaram quando ela sentou bem na minha frente, segundos antes de sorrir pra mim. Um sorriso puro e sincero, que me fez sorrir também. 

O resto da aula seguiu tranquilamente, exceto pelo fato de que eu não conseguia me concentrar em mais nada. Mesmo de costas para mim, ela me atraia e fiquei torcendo do fundo da minha alma para que ela se virasse e eu pudesse encarar suas orbes verdes novamente. Apenas olhe para mim, pedi, como se ela realmente pudesse ouvir meus pensamentos. Num passe de mágica (ou como se o universo estivesse ao meu favor) ela atendeu meu pedido, o que fez meu coração acelerar e minhas mãos tremerem. 

Ah, eu estava perdida. 

{...}

Assim que a aula terminou, cogitei ficar na sala, mas desisti quando avistei a loira sair enquanto o sinal acabava de tocar. Tive vontade de falar com ela, mas o que eu diria? De qualquer forma, eu provavelmente não iria conseguir dizer nada. Fiz um coque em meu cabelo enquanto ouvia minha playlist aleatória no fone de ouvido e fui direto para a minha mesa, que ficava afastada da multidão de estudantes, no refeitório. Coloquei minhas mãos no bolso do meu moletom — por Deus, estava bastante frio — e me encostei na parede, meus olhos passeando pelo local à procura de qualquer sinal da dona do par de olhos verdes. Nada. Isis veio sentar do meu lado e antes de qualquer coisa, ela perguntou:
— O que você achou da aluna nova? — com toda intimidade do mundo (e era realmente essa a que nós duas tínhamos) ela pegou um lado do meu fone de ouvido e colocou no seu. 
— Oi, tudo bem com você? Sim, eu estou ótima. Acredita que a minha melhor amiga chega pra mim e não diz sequer boa tarde? — ela revirou os olhos. Isis era minha melhor amiga desde que eu me entendia por gente. Alta como eu, cabelos castanhos na altura do ombro e de olhos claros, ela tinha uma personalidade única e muito forte. Sempre dizia o que vinha à cabeça sem se importar com a opinião alheia e eu sentia uma certa inveja da sua autoconfiança. 
— Babados primeiro. — respondeu. Foi a minha vez de rolar os olhos. 
— Ainda não sei o que pensar sobre ela, é cedo demais para qualquer conclusão. — dei de ombros. 
— Tá, agora me conta das suas observações. — ela deu uma mordida em seu hambúrguer, não sem antes me oferecer, mesmo sabendo que eu detestava. 
— Cabelo loiro bem claro, olhos verdes, beleza rara, sorriso sincero, uns 15 ou 13 cm mais baixa que eu. — será que eu tinha esquecido alguma coisa?
— Hum, observação interessante. Se eu não te conhecesse bem, diria que você gostou dela. — contive um sorriso, que não passou despercebido pela morena. 
— Eu nem a conheço, Isis. — argumentei. Não sabia se estava dizendo aquilo para ela, ou para mim mesma. 
— Isso não quer dizer nada quando se trata de coisas do coração. 
— Podemos mudar de assunto? — pedi, mudando a música. 
— Ei, tava tocando Getaway Car! 
— E por que você acha que eu mudei? — mas ela não me deu ouvidos e perguntou: 
— Alguma coisa me diz que você gostou dela sim, mas não sei porquê está mentindo para mim. Sou sua batata frita forever, ou não sou?
— Claro que é, sua dramática! E eu já pedi para mudarmos de assunto, deixa de ser chata.
— Não é ela bem ali, olha. — apontou para frente.
— Onde? — perguntei, imediatamente, procurando pela loira, mas não a encontrei. Ouvi a risada vitoriosa de Isis do meu lado. 
— Eu sabia! Emma Gomez, você não me engana. Lembra o nome dela?
— Ceci. — falei, o que fez minha mente viajar. 
— É apelido de Cecília, certo? — perguntou, mas eu não respondi, presa em minha própria mente. Nem percebi quando ela tirou o celular do meu bolso traseiro. — Significa "cega", porque ela ainda não percebeu que você é o amor da vida dela! — praticamente gritou, com o celular na mão. 
— Para de gastar meus dados móveis, não é você quem paga! — fingi estar brava.
— Hum, alguém ficou bravinha. — zombou. Tomei meu celular da mão dela e espiei o resultado da pesquisa. 
— Também significa " sábia" ou "a guardiã dos músicos". — falei. 
— Viu só? Você tá caidinha — acusou, maliciosa. — devia falar com ela. 
— E o que eu diria? 
— Qualquer coisa, puxa assunto sobre algum desses seus livros! — apontou para a minha pasta. 
— Não toque, é arte! — brinquei, bloqueando a tela.
— E como estão as coisas na sua casa? — perguntou, escolhendo uma música da minha playlist. 
— Bem, né? — falei, vagamente. 
— Tem certeza? — insistiu, preocupada. — Eu já te falei que qualquer coisa, você e a Hannah podem ir morar comigo sem problemas né?
— Claro, obrigada. Isso significa muito pra mim. — ofereci um sorriso para ela. Pensei no motivo de sermos amigas: nos meus piores dias, ela era a única capaz de me fazer sorrir. Uma irmã de outra mãe, talvez até trocada na maternidade. Conversamos sobre assuntos aleatórios e depois que o sinal bateu, voltamos pra sala.

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