Four.

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Emma

3h16 

Não conseguia dormir. Depois de cantar Enchanted para Ceci, da troca de olhares e do quase beijo, minha cabeça ficou a mil. Eu vinha tentando esconder o que eu sentia desde a primeira vez em que nos encontramos naquele parque. Como isso é possível? Eu havia construído diversos muros à minha volta durante os últimos dois anos, mas foi só nos conhecermos que todos eles foram a baixo. Ela derrubou cada um deles sem precisar fazer esforço algum. Sorriso sincero, voz doce e um jeitinho apaixonante. Ceci é tão perfeita que eu poderia tentar colocar esse sentimento em palavras, mas seria inútil. Cada segundo com ela, é uma preciosidade. 

Não sei como é possível se apaixonar por alguém tão rapidamente, como um relâmpago. Rápido e intenso. Não conseguia tirá-la da cabeça, não conseguia ficar longe e saber que ela amava outra pessoa acabava comigo. Andei pelo quarto todo, dando voltas sem parar enquanto Ceci dormia feito um anjo em minha cama. Depois de muito pensar em pé, decidi me sentar na cadeira próxima a cama, a ela. Eu a observei: a boca entreaberta, a respiração regular e tão calma quanto a brisa suave da manhã, as mãos abraçando um dos travesseiros e todo o corpo envolvido no cobertor. Senti meu coração ser preenchido por uma sensação de paz interna. 

Ah céus, eu estava ficando louca por uma garota. Uma amiga hetero, pior ainda. Eu prometi que não iria me apaixonar tão cedo, não enquanto estivesse debaixo de um teto que claramente não é meu lar. Mas lá estava eu, Emma Gomez, sentada em uma cadeira, observando a garota que eu amava dormir na minha cama. Amor... Amor? Sim, amor. O coração acelerado, a ansiedade, o medo, as mãos suando, os suspiros, todos os pensamentos concentrados em uma só pessoa, a necessidade de tê-la por perto, de saber que ela estava bem, de protegê-la, de cuidar, o ciúme só de imaginá-la com outra...

Não podia fingir que tudo isso não era complicado. As horas se passaram rápido em meio a esse devaneio traiçoeiro e logo os primeiros raios de sol apareceram, iluminando todo o céu. Deitei na cama, ao lado dela. Apesar de ter passado a noite inteira acordada, eu me sentia muito bem. Talvez porque a presença de Ceci era capaz de aliviar qualquer tensão, medo ou angústia que ameaçasse minha paz. Ela se virou para o meu lado, ainda dormindo. Estávamos de frente uma para outra e eu continuei observando-a. Seus olhinhos se abriram, tentando se acostumar com a claridade. Eles encontraram os meus em questão de segundos. Nunca tinha visto esse tom de verde.
— Bom dia, coisa linda. — falou um pouco sonolenta, sorrindo pra mim.
— Bom dia neném — sorri de volta. — dormiu bem?
— Melhor impossível. — respondeu, dando aquele sorriso que me tirava o fôlego. — E você?
— Na verdade, eu não dormi.
— Por que não? — havia preocupação em sua voz.
— Tava ocupada demais observando você dormir. — confessei, olhando em seus olhos.
— Devo parecer um cachorro dormindo, né? — e deu risada.
— Pelo contrário. Parece um anjo. Anjinho precioso. — ela sorriu feito boba e eu também. — Acho que precisamos conversar sobre...
— Você acha? — indagou, como se fosse óbvio.
— Tenho certeza. — falei. 
— Precisa ser hoje? — tinha hesitação naquela pergunta.
— Quando você quiser. — deixei claro, ela pareceu aliviada.
— Certo, obrigada. — Ceci se espreguiçou. — Que horas são?
— 06h16. Eu não quero que você vá, mas se meu padrasto te ver aqui, eu tô morta e enterrada.
— Então acho melhor eu ir mesmo. — ela levantou da cama. Fiz o mesmo e decidi acompanhá-la até a porta. Nos despedimos com um abraço apertado e quando seu olhar encontrou o meu, tudo o que eu consegui fazer foi sorrir. Eu a vi ir embora, sem sair da porta até que ela sumisse do meu campo de visão. Voltei para o quarto e me deitei, me permitindo mais alguns minutos de devaneio. Eu queria ter respostas. Não poderia esquecer que Ceci já tinha alguém, um namorado. Babaca, tóxico e abusivo. Mas ainda assim, namorado. Fiquei imaginando se ele já tinha sido um bom namorado para ela algum dia. Será que a observava dormir como eu havia feito minutos atrás? Será que a abraçava quando tudo ficava difícil? Ele tinha fascinação pelo tom de verde dos olhos dela? Eu ficaria tão mais tranquila se ela estivesse com alguém que realmente a amasse e cuidasse dela. Alguém que a elogiasse a todo segundo, que a fizesse sorrir com coisas bobas, que a emocionasse com palavras de amor e carinho...

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