Seventeen.

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Ceci 

Eu estava a caminho da casa de Emma quando vi uma garota no parque. Aquele parque onde tudo começou. Consegui sorrir em meio a tensão que me cercava. Tão pouco tempo que a minha vida tinha mudado completamente, mas parecia uma eternidade. Incrível. Mas voltando à garota: ela parecia confusa, perdida. Pensativa. Não faço ideia do que me passou pela cabeça, mas no minuto seguinte eu estava parada na sua frente. Ela era uma morena linda, olhos castanhos expressivos, não parecia ter mais do que 18 anos, talvez até menos. Cabelos castanho-escuro um pouco depois do ombro... Espera aí, Lorena! 
— Hey, tá tudo bem? — perguntei. Ela ergueu o rosto, séria. 
— Sim, eu só tava pensando. — A garota passou as mãos pelo rosto, como se estivesse limpando lágrimas. — De onde eu conheço você? Perdão pela péssima memória. 
— Meu nome é Ceci, não somos exatamente próximas. Você estuda na mesma sala que eu, mas nunca conversamos antes. Te conheço apenas de vista e porque a Isis não tem falado de outra coisa ultimamente. — eu ri, ela ergueu os olhos e sorriu. Eu conhecia muito bem aquele tipo de sorriso. Apaixonado. 
— Claro, ela me persegue por todo lugar. — murmurou. Sentei no banco ao seu lado. 
— Tem certeza de que está bem? Quando eu te vi de longe parecia... Confusa. 
— Essa é realmente a palavra certa pra me definir nesse exato momento. — ela falou, rindo desanimada. 
— Será que eu posso te ajudar? Aconteceu alguma coisa? 
— Bem... — ela pareceu pensar. — Sabe quando parece que a sua vida inteira, você não estava sendo você mesma totalmente? Você nem sequer tem certeza de quem você realmente é. E então, aparece alguém que vira sua vida de cabeça pra baixo quando já tinha tudo planejado...
— Já ouviu dizer que a vida é o que acontece quando se está ocupado fazendo outros planos? — ela sorriu, sinceramente. 
— Claro. Mas não é justo, sabe? Sua vida está tranquila e de repente esse alguém te deixa com dúvidas e mais dúvidas e você simplesmente não se reconhece mais. 
— Acho que você deveria agradecer a essa pessoa por isso então. Enquanto nós questionarmos quem somos, o porquê da nossa existência e etc, está tudo bem. Porque ter certeza muitas vezes a certeza não te leva a lugar algum. Mas a dúvida te leva muito longe. Ela te leva, por exemplo, a um autoconhecimento surpreendente. Novas aventuras, novas experiências. A dúvida, nesse aspecto, é algo necessário. Mas se estivermos falando de sentimentos... É mais complicado. 
— Exatamente! Esse é o ponto onde eu quero chegar! Antes eu tinha certeza de tudo. O que eu iria pensar, no que falar. Agora... Eu me sinto vazia por não saber mais nada disso, mas ao mesmo tempo, as dúvidas me preenchem totalmente. Deu pra entender?
— Sim, eu entendo você. E com certeza, entenderia mais se você pudesse e quisesse ser mais específica sobre o que te incomoda tanto. 
— Okay, algo me diz que você é confiável e acredito que o destino trouxe você aqui pra me ajudar. 
— Na verdade, esse parque parece ter uma mágica para coisas importantes acontecerem... Foi aqui que eu conheci o amor da minha vida! 
— Sério? Mas isso é incrível! Me conte sobre ele! — fiz uma careta e ela me olhou sem entender.
— Bem, ela — enfatizei. — é incrível. Não consigo imaginar minha vida sem ela. Ou aquele sorriso, aquela voz, aquele cheiro, aqueles olhos. 
— Isso é melhor ainda! Então, você e ela — enfatizou sorrindo. — estão juntas há quanto tempo? 
— Mais de um mês. No momento, nós estamos... Passando por umas coisas difíceis, mas vai valer a pena. Tenho certeza disso. 
— Eu fico feliz por vocês! Mas posso te perguntar... Algumas coisas?
— Claro que pode! 
— Quando você percebeu que estava apaixonada por uma garota, não sentiu medo?
— Claro que senti! Todas nós sentimos, eu acho. E isso é completamente normal. É difícil lidar por causa dos conflitos internos, mas principalmente porque a sociedade homofóbica tenta, de qualquer jeito, enfiar na nossa cabeça que isso é uma fase, que estamos errados e etc. Mas sabe, ter o total apoio das pessoas que você ama, isso sim é importante! Ter o apoio de duas pessoas que eu amo muito foi ter certeza de que o amor pode salvar o mundo. 
— Entendi. Eu fico muito feliz por você, imagino que isso " facilite " um pouco as coisas, ou a processar tudo pelo menos. Você parece ter lido muito bem com a descoberta da sua sexualidade, ou sempre soube que era mas em algum momento decidiu se assumir?
— Bem, isso é uma coisa complicada. Eu nunca tinha questionado minha sexualidade até alguns meses atrás, nunca foi " preciso " sabe? Até porque, você deve entender que desde pequenas somos orientadas a saber como se comportar, se maquiar, se vestir e etc para agradar um homem, porque é óbvio que " a minha filha vai gostar de homem ", certo? — ela assentiu. — Eu não vivi tanto isso na minha infância porque fui criada apenas pelo meu pai, mas com uma educação excelente e nada machista ou sexista. Mas eu via muito minhas tias fazerem isso com minhas primas. — e eu pensei por instante no quão sortuda, apesar de ter sido criada apenas pelo meu pai, não ter tido uma criação machista. — enfim. O único namorado que eu tive me tratava como se eu fosse um objeto, queria mandar em minhas roupas, em como eu me comportava, com quem eu andava. Não gosto nem de lembrar. Mas a garota incrível cujo nome é Emma me salvou, literalmente.
— Emma... Emma! Então essa é a batata frita forever de quem a Isis tanto fala! E ela também se gaba muito por ter previsto que vocês iam ficar juntas, mas eu não fazia ideia de que eram vocês a Emma e a Ceci! 
— Sim! Isso me fez pensar no motivo responsável por ela ainda não ter apresentado você oficialmente para nós duas. 
— Ah! Ela sempre diz que só vai fazer isso quando eu aceitar namorar com ela, vê se pode! — rimos ao mesmo tempo, isso era bem a cara da Isis. 
— Espera um pouco, é a Isis essa pessoa de quem você tá falando? Que te deixa cheia de dúvidas e tal? 
— Hum... Talvez! — mas ela ficou vermelha. 
— Ah meu Deus, é ela sim! Você tá apaixonada pela Isis! Eu não fazia ideia disso enquanto você falava, a lerdeza meu pai! Mas Emma sempre soube que iria rolar alguma coisa. — dei risada e ela revirou os olhos de um jeito fofo. 
— Tudo bem, eu confesso, eu amo a Isis! — seus olhos brilharam. — Eu só tenho medo, sabe? É tudo novo pra mim, o coração acelerado, as borboletas e a ansiedade... Eu me sinto como uma personagem literária boba e apaixonada desde que ela veio me pedir ajuda com as notas! 
— Ah meu Deus! Ah meu Deus, eu tô tão feliz! E sobre o medo, eu entendo perfeitamente, como eu disse antes é normal, você só não pode deixar que esse medo domine você, okay? 
— Obrigada, Ceci! Por ter ficado comigo, conversado e me ajudado a esclarecer tudo! 
— Por nada, meu bem! Eu apenas acho que você deveria contar a Isis sobre seus sentimentos. Ela vai ficar muito feliz e tenho certeza, absoluta aliás, que é recíproco. 
— Não sei se me sinto pronta pra isso ainda, mas eu vou pensar bastante no assunto! E eu também não sei se é recíproco...
— Talvez precise ver ela falando de você, sério, os olhinhos brilham tanto, aquele sorriso se expande mais do que o normal e ela fica toda boba quando se trata de você! Acredite em mim. Eu a conheço o suficiente para saber que é uma boa pessoa e que está louca por você! E por favor, não deixe que nada nem ninguém atrapalhe vocês, okay?
— Obrigada, mas por que disse isso?
— Depois eu te explico, preciso ir agora, mas foi maravilhoso conversar com você. Conte comigo sempre! — eu abracei a sai correndo. Ela gritou alguma coisa, mas eu já estava longe demais para ouvir. 

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