✩ Sixteen ✩

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Emma

— Você está aqui. — sussurrei, enquanto ela entrava e eu tranquei a porta. Lá estava Ceci, as mechas loiras pouco abaixo do ombro, usando um lindo vestido branco. Suspirei diante dela, tão linda bem ali na minha frente. Mas eu não podia tocá-la, não ousaria. Ela já não era mais minha. Talvez nunca tenha sido.
— Estou. — ela sorriu, se aproximando em passos lentos. 
— Não. — neguei, dando um passo para trás. Se ela chegasse mais perto eu…
— Você não me quer por perto? — perguntou hesitante, a voz se quebrando aos poucos. 
— Não é isso — comecei, coçando a nuca. — perto demais eu…
— O que? — perguntou, sem entender. E se aproximou mais. — Se eu chegar mais perto, o que acontece, Emma? 
— Eu não vou me conter. — sussurrei, mas ela já estava perto demais e me ouviu. Seu dedo tocou meu queixo, erguendo-o para que eu a encarasse.
— Não quero que você se contenha. — pediu, olhando em meus olhos. Eu queria mergulhar naquela imensidão esverdeada. 
— Você não me quer. — falei. 
— É claro que eu quero. Você não sabe o quanto meu amor… — sua palma tocou minha bochecha em uma carícia cheia de ternura. Ela havia atingido meu ponto fraco. 
— Então por que você me deixou? — ousei perguntar. — E por que voltou com ele? — meu coração bateu enfraquecido.
— Você não entenderia. — ela tirou a mão de mim e baixou o olhar.
— Então me explique. — pedi, realmente disposta a ouvir o que ela tinha a dizer.
— É mais complicado do que parece. 
— Não é. — conclui, séria. — Você não a ama. Por isso me deixou para voltar com ele. — dei meia volta e comecei a andar na direção oposta. Não sei por qual motivo acreditei que ela ainda sentia o mínimo por mim, mas qualquer esperança que eu tivesse sobre isso, tinha acabado ali.
— Emma… — me chamou, com lágrimas nos olhos. — Fiz isso por você. 
— O que? — eu devia estar ouvindo coisas.
— Fiz por você, para que pudesse ficar bem. Ele iria te machucar e eu jamais permitiria.
— Passou pela sua cabeça como eu iria me sentir diante disso? 
— É claro que sim. Algum dia, você entenderá, mas hoje, entendo que esteja brava comigo. 
— Eu queria muito estar brava. Mas pra ser sincera, estou triste. 
— Devo perguntar o porquê?
— Acho que você sabe muito bem. 
— Não faz assim, por favor, está me machucando também… — ela voltou a se aproximar.
— Não faz assim você. Machuca tanto que você está com ele, não é? Melhor você ir. 
— Não — sussurrou. — por favor. Você prometeu que eu podia ficar. 
— Prometi, mas isso foi antes de você partir meu coração. 
— Emma…
— Não. Eu já entendi que você não me quer, que não me ama e que está com ele. Apenas me deixe ir, por favor. — doía tanto dizer aquelas palavras. Mas eu não queria machucá-la, céus, definitivamente não. Eu queria me machucar porque talvez assim, eu deixasse de amá-la, o que só me motivou a andar mais rápido em direção a porta para abri-la. As lágrimas caíam rapidamente, havia uma certa fúria queimando em meu peito e eu soluçava baixinho. Foi tão rápido, mas bastou para que eu perdesse a linha de raciocínio. Ela me puxou pela cintura, com as mãos firmes em meu corpo, como sempre. Por puro instinto ou reflexo, as minhas se espalmaram em seu peito enquanto seus lábios esmagavam os meus. Uma lágrima solitária escapou nesse mesmo instante e sua língua exigiu passagem. Não pensei duas vezes e permiti que ela explorasse minha boca inteira. Suas mãos se firmaram em minha nuca e depois em minha cintura, me impedindo de fugir do seu aperto. Mal sabia ela que eu nunca poderia. Nem me importava com a falta de ar se era ela quem estava me deixando assim. Me concentrei apenas no gosto de seus lábios, doce e familiar.
— Eu nunca quis nada disso, essa situação, ou ele... Nunca quis nada além de você e sabe disso, já que não pensou duas vezes antes de corresponder ao meu beijo. — sua testa descansava na minha e ela estava ofegante. — Só estou te protegendo. 
— Me protegendo de que? Por favor, me conte. — praticamente implorei, ainda sem ar. 
— Não posso contar, me perdoe. — me soltei de seus braços imediatamente, decepcionada. 
— O que está fazendo aqui, afinal de contas? Deveria estar com ele. 
— Estou aqui porque te amo. — explicou. — E não quero que me odeie.
— Eu queria muito poder te odiar. — sussurrei. — Mas meu coração parece não se conformar diante dessa situação. 
— Ele ainda é meu? — sussurrou, tão próxima que eu me senti encurralada. 
— Sempre. — deixei escapar, num suspiro. 
— O meu sempre será seu. Apenas seu. — suas mãos seguraram meu rosto e ela me encarou profundamente ao dizer isso. — Eu senti tanta saudade de você, do seu beijo, do seu cheiro… — ela se enterrou em meu pescoço, a procura de jasmim. E sussurrou cada palavra, sabendo que assim iria me ter entregue, rendida. Derretida. Sua boca mordiscou minha orelha, causando arrepios. — Ah Emma, se você soubesse o quanto me enlouquece… — sua voz perdeu a força, transformando-se quase em um sopro de palavras contra a minha pele. 
— Por favor, não… — suspirei, jogando minha cabeça para trás, dando a ela mais acesso a minha pele, antes que eu me arrependesse. Não tinha mais controle de mim ou do meu corpo, eu apenas precisava dela. Ela depositava beijos contínuos em meu pescoço ao sussurrar: 
— Diga que não quer e eu paro agora mesmo. — ela estava me dando a chance que eu precisava para escapar de sua armadilha. Mas como que para me colocar entre a cruz e a espada, fui colocada contra a parede, suas mãos me deram impulso para que eu sentasse na mesa e adentraram meu vestido comprido, parando em minha perna e desferindo um aperto forte ali. Suspirei contra seu pescoço antes de morder o local e puxá-la para mais perto. Eu queria mais e ela entendeu isso. Porque me conhecia como a palma de sua mão e sabia exatamente como baixar minha guarda. — Eu te quero tanto…
— Então me faça sua. — pedi, me rendendo. 
— Você sabe que eu vou ter que voltar para ele depois…
— Não me importo. Apenas hoje, a noite inteira… 
— A noite inteira. — prometeu, me tomando em seus braços. Minhas costas bateram contra a cama macia e seus lábios cobriram os meus em um beijo calmo, mas cheio de segundas intenções. Ela me despiu com calma, beijando meu corpo inteiro, cada pedacinho de pele que ela conhecia muito bem. Precisávamos ser rápidas se não quiséssemos causar suspeitas. Dois corpos em busca de um, mesmo que mínimo, alívio. Duas almas entrelaçadas correndo perigo por um pouco de paz. A procura não de prazer, mas daquele sentimento cravado no fundo do peito, guardado a sete chaves poderosas. Seu toque me incendiou rapidamente e eu só queria que ela me levasse de volta àquele paraíso secreto. O nosso pequeno oásis. Seu nome estava entalhado em minha cama, nas profundezas da minha alma, do meu corpo. Não foi preciso muito para que eu transbordasse, gemendo seu nome, choramingando para que ela não me deixasse silenciosamente. Eu havia me rendido em meio a aquela situação tão dolorosa e não me arrependia. Me senti fraca, mas precisava desesperadamente que ignorei minha culpa. Sua boca calou meu choro e ouvimos trovões seguidos de uma chuva tempestuosa. Ela poderia ficar mais um pouco se não quisesse adoecer. E assim, ficou. — Eu senti falta disso. — confessou, comigo em seu peito. 
— Não foi apenas você. — deixei claro. 
— Está tudo bem, meu amor? — ela não podia me chamar assim…
— Vai ficar. 
— Você se arrepende? — perguntou, com a voz trêmula. 
— Sinceramente? Não. De jeito algum. — a chuva passou. 
— Eu preciso ir. — se vestiu depressa e eu observei a cena, imaginando que aquela poderia ser nossa última vez juntas. — Olha, eu não espero que você entenda. É complicado demais, mas sabe que estou fazendo isso pelo seu bem. Só queria que você me perdoasse por tudo. Todo o caos, te machucar, nunca foi minha intenção… 
— Eu sei. — suspirei. — Até quando? — perguntei, ela sabia o que.
— Eu não faço ideia… Tenha paciência, está bem? 
— Algum dia, você vai… — não consegui terminar, pois o choro que se prendia em minha garganta queria reivindicar sua liberdade. 
— Eu prometo. Vai ser o nosso “ finalmente ”. — eu me sentei apertando os lençóis contra meu corpo e ela veio beijar meus lábios uma última vez antes de ir. Eu ainda não estava pronta para deixá-la, então a trouxe para o meu colo de maneira traiçoeira. — Vou correr para os seus braços e sussurrar o que você já sabe quando chegar o momento certo. — garantiu antes de beijar minha testa. 
— Vou estar à sua espera, meu amor. — sussurrei, vendo-a sair porta a fora. — Enquanto isso, te vejo nos meus sonhos. 

Ceci 

Acordei assustada. 

Uma vez, eu li na internet que quando sonhamos, nosso cérebro tenta resolver os problemas que nos ocupam durante o dia. Portanto, dormir pode ser a solução para um problema que não conseguimos resolver. Sigmund Freud dizia, em seu livro chamado A Interpretação dos Sonhos, que “ os sonhos são a realização de desejo ”. Freud descobriu que existe uma área da mente chamada inconsciente. Quando uma pessoa fala sobre o sonho, dá uma explicação muito objetiva, lógica, exata. Ele chamou isso de conteúdo inconsciente, que é o que gera esse sonho. Por isso, não podemos fazer uma interpretação genérica. Cada sonho tem significado com relação à vivência de cada pessoa. Uma curiosidade interessante que achei na internet dizia que “ durante o sono REM, uma fase normal do sono caracterizado pelo rápido movimento dos olhos, o corpo fica paralisado por um mecanismo no cérebro, a fim de evitar que os movimentos que ocorram no sonho provoquem o movimento do corpo físico ”. 

Bem, talvez a teoria de Freud estivesse certa, afinal, pensei enquanto sentava no parapeito da janela depois de sair da cama, abismada com o sonho que tive. Esse sonho mexeu comigo. Na minha teoria, nossas almas só podiam ficar juntas nos sonhos. E todas as noites, nos encontrávamos na profundidade deles. Era como se o nosso amor fosse tão forte que estava acima de tudo aquilo. Com certeza, era algo sobre o qual a Taylor Swift deveria escrever. Uma conexão de almas, um laço inquebrável. 

Passei horas pensando se deveria contar ou não a Emma, até que decidi seguir meu coração. Mas quando mandei a mensagem contando, ela demorou a responder. Estranho. Ela sempre respondia no mesmo segundo, algo que eu definitivamente não achava ruim. E já havia algumas horas que ela não estava online. Fiquei tensa só de pensar no que teria acontecido para ela sumir. Problemas com a família talvez? Só Deus sabia o quanto eu odiava o padrasto dela. Das poucas vezes em que o vi, ele não me pareceu ser uma boa pessoa. De jeito algum. O olhar dele irradiava tudo que me dava medo. Escuridão. Mais algumas horas se passaram e nada de Emma aparecer. E foi tomada por uma sensação tão horrível de que ela não estava bem que decidi ir até sua casa só por via das dúvidas. 

{...}

Emma 

Eu acordei num sobressalto, Hannah batendo palmas ao meu lado me fez sentir um certo alívio, eu estava de volta ao mundo real, sã e salva, no final das contas.. Mas ao mesmo tempo, eu sentia um desespero. Era só um sonho? Ou eu estava ficando louca? Tentei refazer meus passos: eu estava no jardim lateral, fazendo um piquenique com Hannah. Deitei com ela no tecido quadriculado e peguei no sono. Agora que a garota que eu amo invadiu meus sonhos tenho certeza de estou ficando louca. Ou talvez eu já tivesse perdido a sanidade há muito tempo e não havia percebido. Bem, se a minha teoria do laço estiver certa, esse sonho era um sinal de que eu não deveria perder as esperanças? Bem, já dizia Taylor Swift em Miss Americana: vá, lute, ganhe! O laço significava acordar praticamente todas as noites de madrugada à procura de Ceci, então o que o sonho significava? Que ficaríamos juntas no final de tudo? Que eu também deveria ter paciência fora dele e esperar pelo momento certo, pelo finalmente? Haviam tantas perguntas rondando meu cérebro. Será que acabou por ali? Eu ainda iria sonhar com tudo aquilo de novo? As inúmeras perguntas já estavam me deixando tonta. Mas eu queria desvendar tudo aquilo.

Pensei em ligar para Ceci e contar do sonho, mas o que eu diria? Trouxe Hannah para o meu colo na tentativa de me acalmar. Meu coração ainda batia forte, mas ela começou a cantar, do jeito dela, uma música qualquer e pensei que aquilo fosse o suficiente para me deixar tranquila. Eu tentei repassar o sonho em minha mente como se fosse um filme, queria memorizar cada momento que vivi ali, até os relâmpagos iluminando o rosto de Ceci, seu corpo cobrindo o meu. Eu quase podia sentir o gosto daquele beijo. E ainda sentia a sensação do coração se partindo ao acordar no sonho e perceber que tudo não passava de um sonho. Céus, que loucura! Tudo ficou escuro e alguém me puxou pelo pescoço. Eu tentava gritar mas não conseguia. Estava presa. Tudo o que eu ouvia era o choro de Hannah e então não ouvi nada. Não sabia dizer se estava sonhando, ou apenas dormindo. Mas quando acordei, meus braços estavam amarrados e minha boca, amordaçada. Eu conhecia muito bem a figura masculina que se aproximou de mim com um sorriso malicioso no rosto. 

Ian.

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