Ceci
Tínhamos nos mudado há pouco tempo. Papai queria que tivéssemos uma vida mais confortável, então achou que essa cidade seria perfeita. Algumas mudanças fazem bem, então concordei quando ele falou sobre vender a casa e nos mudarmos. Claro que sentiria falta da antiga cidade, mas só queria ver meu pai feliz. Desde a morte da mamãe, quando eu nasci, a vida dele não era mais a mesma. Ele tentava fingir que estava bem, que conseguia cuidar de tudo sozinho, mas eu sabia bem o quanto a morte dela o deixou devastado. Pelas fotos dos dois, dava pra perceber que eles eram muito apaixonados e unidos. Sempre quis um relacionamento como o deles, algo intenso, puro e eterno. Meu pai nunca deixou de amá-la e nem sequer passava pela cabeça dele se apaixonar de novo. Talvez porque mesmo que isso acontecesse, não iria ser como o que ele e a mamãe tiveram. Intenso e verdadeiro. Papai fazia questão de falar sobre a mamãe pra mim e para o meu irmão mais velho, Charlie, provavelmente tentando manter a memória dela viva.
Quando ela morreu, meu irmão tinha 7 anos. Ele se parecia muito com o papai, já eu parecia muito com a mamãe. Apesar de nossas diferenças, nos dávamos muito bem, embora às vezes eu parecia ser mais velha. Eu sentia falta da mamãe o tempo todo. A sensação era de que faltava uma parte de mim, principalmente porque o papai fala muito dela, então de certa forma era como se eu a conhecesse. Conseguia imaginar ela brigando comigo porque sempre chegava atrasada na escola, ou porque tirei nota baixa em alguma matéria. Também conseguia imaginá-la me dando colo após brigar com Ian. Apesar do fato de que brigávamos mais do que qualquer casal, eu ficava feliz de tê-lo por perto. Ele se recusou a ter um relacionamento a distância comigo.
— Acha mesmo que eu vou deixar você sozinha numa cidade desconhecida? Só se eu fosse louco. Não vou deixar ninguém me tirar o que é meu. — foi o que ele disse quando contei que papai colocou a casa à venda.Às vezes, o ciúme dele parecia ser meio possessivo, mas eu sabia que ele era apenas protetor demais. Tínhamos nossos problemas como todo casal, mas era normal, certo? Que casal não brigava? Eu me sentia horrível por muitas vezes não reconhecer o quanto ele me amava. Acho que cara algum teria praticamente trocado de vida pela namorada. Ele tinha um ótimo emprego na nossa antiga cidade, a família toda estava lá, mas ele não pensou duas vezes antes de largar tudo por minha causa e ir morar com um amigo enquanto não conseguia um emprego. Se isso não era uma prova de amor, eu não sabia o que era. Me sentia estranha em relação a ele há algum tempo. No começo do nosso relacionamento, eu era louca por ele, não suportava ficar longe e morria de ciúmes. Mas... Não sei. Talvez fosse pelo fato de não estarmos mais tão próximos como antes, ou pela falta de química. Talvez eu só precisava me lembrar de como era ótimo estar com ele. Estávamos juntos há quase dois anos. Dois anos.... Poxa! O que estava acontecendo comigo?
Sorri ao lembrar da coisa boa que tinha acontecido. Depois de discutir com Ian pela milésima vez na semana, conheci uma garota encantadora. Emma. Ainda não tinha amigos no bairro ou na escola, então foi muito bom finalmente conhecer alguém novo. Ela era linda, gentil, inteligente. O tipo de pessoa que passa muita confiança. Era tão raro encontrar pessoas assim, que me deixasse confortável para falar sobre tudo, mas ela conseguiu fazer isso com uma facilidade incrível! Poucas pessoas fariam o que ela fez: sentar do lado de uma pessoa desconhecida e ouvir ela tagarelar durante horas sobre a vida dela. Era isso o que eu mais admirava nela. Nos conhecíamos há horas ou anos? Não sabia que era possível alguém fazer você se sentir bem a esse ponto. Transformar segundos em eternidade. Nunca havia me sentido assim com ninguém, mas com ela, eu senti. E foi mágico.
{...}
Assim que eu cheguei em casa, vi Charlie estava vendo um jogo de futebol qualquer na TV e meu pai preparando o jantar. Fui até ele e o beijei no rosto.
— Como foi o seu dia, querida? — perguntou, mexendo na panela. O cheiro estava tão bom que fiquei ali mais um pouco.
— Foi bom e o seu?
— Ótimo. Vai jantar logo ou só mais tarde?
— Logo! Tô morrendo de fome. Vou tomar um banho e já volto.
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RomancePrimeira temporada (segunda: cruel summer). Um relâmpago cai toda vez que Ceci Martinez se move e Emma Gomez está completamente ciente disso. As duas possuem uma conexão que ultrapassa qualquer limite desde o dia em que se conheceram. Mas será que e...