PARTE 1 - QUATTRO

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PARIS, Dezembro de 2018


Charles POV 

Quase três semanas se passaram desde que vi Marin naquele elevador. Quase três semanas em que fui atrás de August para saber sobre ela e ele estava de férias. A equipe do hotel me auxiliou a achar o quarto de Marin, mas quando bati na porta descobri que Marin já tinha saído do hotel. Como descobri isso? Um chinês abriu a porta do quarto e ficou confuso quando eu estava com uma caixa de chocolate na mão. Eu também fiquei confuso.

Nenhuma informação me foi passada após isso. E não posso dizer que eles estavam errados. Eu deveria parecer um louco procurando por uma garota que eu só vi uma vez e que me ajudou quando eu estava bêbado num elevador. Como procurar por uma garota que você não sabe mais nada?

Não ajudou muito o fato de Giada me ligar no mesmo dia perguntando sobre as flores e o bilhete e enfim descobrir que as flores de fato foram enviadas por ela, mas o bilhete estava perdido no meio das flores e não vi, apenas o de Marin. Ela não gostou da minha falta de consideração. Assim como, segundo Daniel, foi falta de consideração eu ter encontrado outras pessoas conhecidas na festa e não ter falado com nenhuma delas. Onde eu estava com a cabeça?

Faltam ainda algumas semanas para as minhas férias acabarem e assim de fato começar a minha concentração total para o Campeonato de 2019. Essas últimas fizeram muita diferença e pela primeira vez me diverti muito com os meninos. Revi alguns corredores da F3 que Arthur conheceu também, fazendo mais amizade com ele do que comigo.

Daniel, Pierre e eu enquanto ainda estávamos em Londres fizemos um tour pela cidade, incluindo o Big Ben, o Museu de Harry Potter (a minha escolha) e aqueles ônibus vermelhos bem turísticos. Embora eu não tenha postado quase nenhuma foto, meu celular tem muito mais fotos do que antes.

O Natal já passou e não tive minha viagem romântica com Giada. O Ano Novo está mais próximo do que queria e estou tentando manter o ânimo das férias, afinal de contas estou em Paris!

Paris está mais agradável do que Londres estava. Ainda é frio para meu gosto, mas mesmo assim está um dia lindo. Embora esteja aqui com Arthur, ele já se mandou cedo para encontrar Renata, aquela garota do mochilão.

Eles se conheceram em Londres visitando um museu, saíram e agora marcaram de se encontrarem aqui em Paris. Admito que fiquei com inveja do meu irmão, após o fracasso de tentar encontrar Marin peguei todos os telefones das garotas que conheci naquela balada e joguei fora. Não estava mesmo com cabeça para tentar uma nova possível paquera, embora Marin ainda aparecesse nos meus sonhos. Eu a procurei em todas as redes sociais que tinha, mas não encontrei nada. E então fingi que esqueci essa história de vez.

Pego a programação do dia que Arthur me indicou: visitar o Louvre, visitar a Torre Eiffel, Arco do Triunfo, entre outros pontos turísticos e fico pensando. Durante meus dias com os meninos em Londres acabamos brincando muito de "rabo de burro" que consistia em escolher de olhos fechados um lugar aleatório no mapa  ir, descobrindo um lugar totalmente novo. E foi uma das melhores coisas que fiz durante as minhas férias.

Em vez disso coloco meu óculos de sol, uma jaqueta de couro com uma blusa preta (dessa vez sem ser polo) e saio do hotel, ando distraído até a estação de metrô mais próxima. Fecho os olhos e escolho uma estação aleatória, quando abro eu sorrio. Aparentemente irei passar o dia na Estação Chateau Rouge.



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Chateau Rouge consiste num bairro charmoso com várias cafeterias e uma mistura de povos surpreendente. Existem pessoas tomando seus cafés, famílias com suas crianças voltando no meio da tarde das escolas e pessoas trabalhando, mas num ritmo mais calmo. Sorrio aliviado pois minha escolha casual me gerou um dia muito agradável  após passar horas num quase anonimato. Estou pensando em tomar um café e voltar para o centro de Paris para encontrar Arthur quando passo em frente a uma banca de frutas e fico em choque. Comprando uma salada de frutas está Marin.

Eu rapidamente subo a calçada e começo a mexer em alguns cartões postais disfarçando enquanto a observo, mas tenho certeza que é ela. Embora a primeira vez que a vi ela estava usando roupas folgadas e um moletom que tampava seu rosto, aqui ela está o oposto: usa uma blusa cropped vermelha com estampa de pequenas flores, uma calça jeans de cintura alta com boca de sino e uma sandália de plataforma com tiras nos pés. E uma bolsa pequena na lateral. Quero ouvir o que ela diz, mas o barulho da rua me impede de ouvir direito, mas a única certeza é que ela fala francês. E acho que ela é fluente.

O vendedor devolve seu troco que ela coloca no bolso da calça e então ela vira a esquina mais próxima e segue seu caminho. Fico nervoso o que é ridículo, pois passei uma semana pensando nela até que desisti completamente de tentar achá-la. Tudo bem, eu estava pensando nela ontem mesmo. E agora eu a encontro em Paris! Sem procurar! Levanto os olhos e ando alguns metros para saber se ela continua a subir a breve ladeira quando percebo que ela sumiu. Desvio dos cartões postais que estava olhando para tentar encontrar alguma dica de onde ela possa ter ido quando ouço um breve pigarrear. Olho para baixo e percebo que estou com alguns cartões postais na mão.

- Desculpe, Senhor. - eu digo automaticamente em inglês. - Quanto custa?

- Não sei. - a voz me responde em inglês. - Mas posso perguntar... Tem certeza que não quer escolher outros modelos?

Me viro lentamente e sorrio. É Marin. Eu reconheceria aquele sorriso tímido em qualquer lugar do mundo. E então percebo que de fato ela é linda: seus cabelos são longos e caem em ondas leves pelas costas, usa uma franja presa na lateral do seu rosto, com lábios em tom vermelho de forma quase natural. Ela parece irradiar luz e então sorri me oferecendo sua salada de frutas.

- Você gosta mesmo de melão. - digo dando um passo em sua direção. Pego o pote de salada de frutas da sua mão e ataco o morango.

- Na verdade... - ela diz. - O melão foi a única fruta que achei naquele dia no mercadinho mais próximo. Agora o pão doce de fato era a única coisa que eu queria comer...

- Desculpas por ter comido toda a sua refeição naquele dia. Mas obrigado, a comida e os remédios me salvaram de uma dor de cabeça pior.

Ela inclina a cabeça e continua a me observar, mas não diz nada. Continua comendo o restante da sua salada de frutas.

- Sou Charles. - digo estendendo a mão. - Charles Leclerc. E você?

- Marin Warner. - ela diz.

Estou pronto para cumprimentá-la quando ela diz:

- Já jantou?

- Não! É tipo quatro horas da tarde... - eu digo olhando meu relógio, mas então observo que já passa das 18h e que em breve vai anoitecer.

Marin já está a um passo de sair andando quando percebo que aquilo foi um convite para jantar.

- Sabe... - eu digo. - Você precisa se comunicar melhor. Eu poderia ter planos para jantar...

Ela joga sua embalagem no lixo mais próximo e me olha. Há algo quase místico na forma que ela me olha, como se as células do meu corpo estivessem despertando pouco a pouco para a vida. E então, percebo que sou eu que devo fazer uma escolha e não ela.

- Obrigado por ter cuidado de mim naquele dia. - eu digo. - Será que podemos sair e jantar? Quem sabe... Quem sabe agora?

- Claro. - ela me responde tranquilamente. - Você conhece esse bairro e tem algum lugar para me indicar?

- Claro que não. - eu digo jogando os braços para trás para relaxar os músculos. - Pela manhã eu saí de casa e vim parar aqui por acaso. Mas acho que podemos andar e tentar achar alguma coisa. E sem celular!

Dou um passo em sua direção, minha mão estendida como se a convidasse para dançar. Fico aguardando ela perguntar o motivo de não estar usando celular,  ou apenas aceitar meu convite para jantar. Ela me olha como se pesasse os prós e contras de ir jantar comigo e eu pacientemente aguardo. Algumas pessoas nos olham, mas não me importo. Eu disse que queria achar essa garota e agora ela está aqui: na minha frente e não tenho nada a perder com isso. Ela aceita minha mão e então eu a rodopio pela rua, fazendo-o a parar na minha frente e soltar uma gargalhada.

- Vamos jantar, Charles! - ela diz. - E enquanto isso você vai me contando sobre a sua vida e como foi a sua recuperação da ressaca daquele dia.

- Ai! - coloco a mão na cabeça. - Podemos mudar de assunto?

Ela dá de ombros e então vamos andando pelas ruas daquele bairro charmoso. Estou em Paris com uma garota linda. Nada pode dar errado. Ou será que pode?

ALMOST IS NEVER ENOUGH - CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora