PARTE 3 - DICIANNOVE

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8 de setembro de 2019, DOMINGO

GP DE MONZA - ITÁLIA

MARIN POV

A vida muda rapidamente. Isso é um fato comprovado, mas nem sempre conseguimos perceber essa mudança.

Em agosto do ano passado, por exemplo: Oscare e eu corríamos pelas ruas de Sevilha na Espanha. Os dois tínhamos saído de uma festa e estávamos bêbados, corríamos risonhos e sem medos, quando chegamos no hotel que estávamos o nível de álcool já estava alto e acabamos transando. Na manhã seguinte, quando acordamos e vimos o que tinha acontecido começamos a rir, mas eu ficava pensando: e se? Fiquei pensando nisso por muito tempo até ver Charles naquele elevador em Londres.

Eu estava preocupada com o destino do ano de 2019. Tinha enviado meu currículo como historiada de arte para o Metropolitan Museum of Art, conhecido informalmente como The Met para uma vaga nova. Oscare tinha acabado de saber que tinha sido contratado como piloto de testes pra Alfa Romeo, o bistrô do Aaron estava com a agenda lotada até junho e ainda era dezembro. E eu parecia que estava flutuando aguardando o próximo passo. 

Então Charles entra naquele elevador. Acho que não repara em mim, mas eu reparo nele de primeira. Algo nele me força a lembrar de alguma coisa que eu deveria saber, uma informação importante, mas não consigo lembrar. 

Trocamos algumas palavras e lembro de sentir uma energia nova passando pelo meu corpo, uma estranha sensação que eu não saberia reconhecer. E depois o vi na festa que estava com Oscare, a festa em que os pilotos da Formula 1 estavam e num impulso saí da festa e informei que iria pro hotel, pois estava me sentindo mal devido a febre de mais cedo, não era mentira. 

E encontrei Charles no elevador! Mas Charles estava passando mal e eu o levei pro hotel, cuidei dele, queria ter ficado, mas seria loucura. Eu não sabia explicar o que estava acontecendo no meu coração. Na manhã seguinte deixei apenas um recado, covarde demais para entender o que estava sentindo.

No trem indo para Paris eu ainda tive que explicar pro Oscare que eu não estava daquele jeito devido a noite que passamos juntos, lembro de Aaron entrando na cabine do trem e ouvindo essa conversa e da briga sobre isso e sobre as consequências, meu irmão muito preocupado com a possibilidade de estar me apaixonando pelo Oscare. Mas não era isso.

E então veio Paris. A idéia era passar nossas férias juntos: Oscare, eu e Aaron, mas as semanas seguintes foram estranhas. Mesmo quando estávamos todos juntos, algo estava diferente. Então eu me forcei a esquecer os meus problemas: a resposta do The Met não tinha saído, eu não queria ficar em Paris trabalhando nos arquivos históricos do governo (não naquele momento), não estava com ânimo para ajudar Aaron no restaurante e Oscare agia como se a nossa amizade de repente tivesse ganhado um peso extra. Eu estava tão chateada, mas fingi que estava tudo bem. E segui em frente.

No dia que acordei melhor, sem me sentir desanimada ou de ressaca gripal, Paris me presenteou com um dia de sol no meio dos dias frios. Eu visitei os museus que gostava, as cafeterias que ainda não tinha ido e me reconectei comigo mesma, pode parecer loucura, mas no momento que eu me senti eu mesma e leve depois de tanto tempo, eu vi Charles.

Parado do outro lado da rua, parecia confuso, como se tivesse visto alguma coisa e depois tivesse desaparecido. E então, eu dei a volta e fui ao seu encontro. E tivemos uma noite mágica em Paris e depois ele sumiu, teve as complicações com os skinheads do SOS, mas não importava, Charles sempre aparecia na minha vida, não importava o momento. Não importava nem mesmo se eu não tinha coragem para falar com ele. Ele era uma constante. 

E agora estávamos os dois aqui. De novo. Nos reencontramos sem querer, embora eu soubesse que o veria a qualquer momento, mas antes tinha Esteban Ocon. 

ALMOST IS NEVER ENOUGH - CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora