7 de setembro de 2019, sábado
GP DE MONZA - ITÁLIA
CHARLES POV
Os segundos se passam e ninguém fala nada. As luzes principais se apagam deixando-nos no escuro, a luz da lua iluminando a sala apenas o suficiente para termos consciência de onde cada um de nos está. Marin me olha desconfiada, o peito subindo levemente enquanto tenta se acalmar, ela me observa enquanto eu a observo.
Eu quero explicar as coisas, tentar entender o que aconteceu, mas não sei por onde começar. Enquanto isso observo Marin, ela está diferente de alguma forma, parece mais madura ou mais determinada, como se tivesse tido o coração partido ou tenha que ter feito uma escolha, pela primeira vez percebo que alguma coisa maior aconteceu naquela noite e talvez ela não tenha me abandonado. Ou eu tenha a abandonado.
- Você foi ao squad? - eu pergunto cauteloso.
- Sim. - ela diz tirando o boné e deixando o cabelo se soltar sobre seus ombros. Algo nela me atraí de forma descontrolada, mas esse não é o momento por isso apenas a observo amarrando o cabelo num coque largado. - Eu apareci no squad cerca de 21:15h eu acho, eu atrasei e te vi ali parado perto da porta do squad...
- O que aconteceu? - eu pergunto. - Por que eu fiquei até meia-noite te esperando e eu não te vi. Marin, o que aconteceu?
- Eu recebi uma ligação importante... - ela diz abaixando o olhar. - Não me olha assim, era importante e eu fui para um lugar onde o sinal estivesse melhor e quando voltei você ainda estava lá. Eu... Eu lembro de ficar tão nervosa em te ver, você parecia tão decidido e estava tão lindo Charles, que quando eu fui me aproximar... Eles não deixaram.
- Quem não deixou você se aproximar de mim? - eu pergunto.
E então eu lembro. O que eu achava ser um zumbido no meu ouvido sempre que a via se torna mais claro agora: o barulho das botas e do metal batendo no chão, o sangue pulsando pelo meu corpo trazendo adrenalina pelo meu corpo. E a sensação de medo pela vida, que só naquele momento era perceptível. É claro, os skinheads do grupo SOS. Lembro que pesquisei sobre eles e os ataques deles a várias pessoas por toda França e que estavam na mira da polícia.
- Os skinheads voltaram Charles. Eles... - ela estremece e ando em sua direção.
- Eles te machucaram? - eu pergunto, embora eu saiba a resposta.
Ela balança a cabeça informando que isso não importa agora, mas preciso entender o que aconteceu de fato.
- Eles disseram que iam te machucar, Charles. - ela diz se aproximando de mim, parece que estamos dançando, mas dessa vez ninguém sabe dar o próximo passo. - E eu não podia deixar eles te machucarem. E então eles seguraram meu braço e me puxaram pra longe de você, eu estava com medo... E ...
- O que eles fizeram? - estou rosnando agora. Furioso. Determinado a saber se eles a machucaram.
- Um deles só cortou meu braço... - Marin diz casualmente e com o polegar massageia o parte interna do braço esquerdo.
É o suficiente para eu me permitir tocar de fato nela pela primeira vez. Coloco minhas mãos no seu rosto, igual eu fiz no squad e parece que estou repetindo as palavras que disse a ela naquela noite, como uma oração. Será que ela se lembra?
"Eu vou cuidar de você..." "Eu não vou deixar eles te machucarem..." "Você foi a melhor coisa que essa cidade me trouxe."
- Como você se livrou deles? - pergunto com minhas mãos ainda em seu rosto, ela dá um sorriso travesso.
- Aaron.
Aaron: a peça no quebra-cabeça que até agora não encaixava, mas parece ser fundamental.
- Eu havia comentado com Aaron que eu tinha passado a noite com você, já que eu liguei pra ele e informei sobre os skin =heads e então desapareci por algumas horas... - seus olhos me encaram, sabemos exatamente o que estávamos fazendo. - E então Aaron meio que foi investigar o que estava acontecendo e viu os caras e chamou a polícia. Sabe, ele consegue ser um irmão muito protetor as vezes.
Irmão. O alívio toma conta de mim. Por saber que eles são irmãos e que ela estava bem.
- Então, porque você não voltou? - eu pergunto enfim.
Ela segura minhas mãos, o calor do corpo dela passando pro meu. Ela treme levemente, mas continua.
- Charles foi um mal entendido. Quando eu voltei após a polícia me liberar você não estava mais lá... E Aaron estava tão preocupado comigo, me pressionando para saber com quem de fato eu estava e eu estava tão nervosa e não queria falar seu nome, e ainda tinha que resolver as coisas sobre a ligação que havia recebido... - ela parece resumir a história. - Então as semanas se passaram e quando eu consegui decidir que eu queria mesmo você já tinha se passado muito tempo e você estava... Você estava namorando com a Giada, na verdade vocês namoravam há muito tempo. Então eu não precisava colocar meu time num jogo que estava ganho.
- Não. - eu digo fazendo ela olhar nos meus olhos. - Eu e Giada tínhamos terminado. Eu estava solteiro quando você me achou em Paris... Marin, você me achou naquela noite. Só eu sei o quanto estava perdido até te encontrar e então eu estava livre e vivo... E então eu te perdi.
Ela sorri, como se eu estivesse descrevendo o mesmo sentimento que ela sentiu. E então seus olhos ficam tristes. O que foi dessa vez?
- Charles, eu... Eu fico muito feliz em saber que eu fui marcante na sua vida, mas... Charlie...
Gosto do jeito como ela fala meu nome: Charlie. Há uma intimidade ali, boas memórias, algo que vale a pena lutar. Eu vou lutar por isso.
- Marin... Eu estou aqui e podemos...
- Charles. - ela fala segurando minhas mãos gentilmente e as afastando do seu rosto. - Eu segui em frente.
Minhas mãos estão soltas agora na lateral do meu corpo. Automaticamente eu olho em volta procurando alguma resposta, mas a única coisa que encontro é o maldito casaco do Esteban Ocon no chão.
"Eu acho que o Daniel disse que ela é a quase a namorada do Esteban..." a voz do Sebastian entra novamente nos meus pensamentos.
Almost. Quase.
Se tem uma coisa que eu aprendi hoje foi que quase nunca é suficiente. Eu tenho uma chance, não vou desperdiçar. Respiro fundo, se quero mesmo ter essa garota na minha vida eu preciso fazer a pergunta certa.
- Marin... Eu preciso que você me responda uma coisa. E que seja sincera. - seus olhos não refletem nada. - Você me esqueceu? Porque se você me esqueceu eu vou embora e deixo você em paz.
Os segundos se passam em silêncio, um vento leve entra pela porta e sinto frio. Olho pro relógio e percebo que é tarde, eu deveria estar no hotel descansando. Marin aquece as mãos uma na outra, mas ainda não me respondeu, antes que ela vista o casaco do Esteban eu ando e fecho a porta, mas quando volto minha atenção para Marin ela está segurando o casaco nas mãos. A luz da lua à ilumina e quando ela olha pra mim parece que estamos em Paris novamente: com ela brilhando e sorrindo, mas dessa vez é um sorriso triste.
- Ah Charlie, eu nunca te esqueci.
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ALMOST IS NEVER ENOUGH - CHARLES LECLERC
RomanceParis, dezembro de 2018. Foi quando me apaixonei a primeira vista. Apenas uma noite na cidade mágica onde conheci Marin e mesmo assim a abandonei. Agora se passaram vários meses e estou em casa, na Itália. Estou focado em ganhar esse GP, meus result...