PARTE 1 - CINCO

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PARIS, Dezembro de 2018


Charles POV 

Passamos mais de uma hora andando e conversando, falando das férias que tive e das férias que ela ainda não teve, mas é Paris e enquanto andamos as pessoas nos olham com caras engraçadas, como se soubessem que estamos num encontro.

Encontro. Não tenho como dizer exatamente o que é isso que estamos tendo, mas até agora o dia está mais do que agradável. Encontro o restaurante da mesma forma que encontrei Marin: sem querer. O Bistro Chateu Rouge está scondido entre uma loja tipicamente americana de eletrônicos e um café grande, e parece que não é frequentado por quase ninguém.

Essa é a visão que eu tinha até entrar no restaurante e perceber que ele está lotado. Já são quase 8h da noite e não tenho certeza se acharemos um outro restaurante à tempo, mas um garçom nos vê e sem falar nada acabamos o seguindo.

Sentamos numa mesa perto da janela. O garçom volta até a mesa com os cardápios e então nós olha atentamente e sai, retornando com uma lousa e um pedaço de giz na mão. Lin tira do bolso um esqueiro e acende as velas que estão na mesa, a luz ilumina seu rosto e seus olhos ganham uma coloração achocolatada que me faz ter vontade de beijá-la. O garçom começa a falar em francês rapidamente explicando o cardápio enquanto escreve na lousa as suas indicações. Não entendo nada, há não ser rouge que é vermelho, mas não tenho certeza se ele está oferecendo vinho tinto ou carne vermelha para comermos.

- Você poderia nos ajudar? - eu digo para Lin.

- Americanos? - o garçom diz um pouco frustrado. - Nem estamos na época de férias ainda!

- Italiano. - digo como se fosse uma desculpa.

- Sou brasileira. - Lin diz confiante e então começa a falar em francês. - Nous voulons une bouteille de vin rouge. - ela diz com um sotaque charmoso e tipicamente francês.

Quantos idiomas ela fala? Eu a ouvi falando em inglês comigo, depois em espanhol com o casal no elevador e agora em francês com o garçom? Estou impressionado.

Não consigo dizer nada e apenas observo enquanto ela conversa com o garçom sobre o nosso pedido. Um segundo garçom aparece com uma garrafa de água e outra de vinho tinto, ele está colocando o vinho nas taças, mas percebo que ele não para de olhar pra Marin. Eu também não consigo parar de olhar pra ela, então não posso dizer que não entendo o cara.

O primeiro garçom apaga o que tinha escrito e então olha pra mim e escreve tudo de novo, faz uma lista dividindo as informações e coloca a lousa apoiada na janela. O segundo garçom embora já esteja atendendo outra mesa fica olhando para a nossa mesa. Agora sinto ciúmes. Fico encarando ele até que Marin dá um pigarro e volto minha atenção para ela que aponta para a lousa.

- Frans, o nosso garçom, disse que como eu fiz todo o pedido em francês ele não nos atenderá mal.- o garçom cujo nome agora conheço acena a cabeça positivamente. - Mas disse que você terá de entender o que pedi e traduzir...

Olho para ela em choque. O francês dela é muito bom, parece natural. Estava tão distraído (de novo) que não percebi o que eles conversaram. Olho para a lousa e está escrito apenas duas palavras vin rouge. Penso um pouco e penso que essa é fácil, aliás em Paris tudo é fácil já que em Monte Carlo a língua oficial é francês, mas agora eu não quero falar francês, apenas inglês o que é loucura já que Marin disse que é brasileira e eu não sei falar português. Pego o giz e escrevo vinho tinto na lousa e Frans bate palmas, saindo logo em seguida.

- Muito bom. - ela me diz. - Não é tão difícil assim.

- Não tenho certeza se irei sobreviver a esse curso expresso de francês até o prato principal. - tentando fazer uma piada, mas como Marin não sabe que sei falar francês ela não me dá bola.

ALMOST IS NEVER ENOUGH - CHARLES LECLERCOnde histórias criam vida. Descubra agora