Mais um dia vivo.
Não exatamente vivendo, mas infelizmente existindo. Eu sinceramente nem sentia mais os dias passando, tudo era tão automático, que quando eu via... Já era um novo dia com a mesma rotina monótona de sempre, parecia que eu vivia preso no mesmo dia, um ciclo sem fim.Acordar. Estudar. Trabalhar. Igreja. Dormir. E repetir exatamente a mesma coisa no dia seguinte.
O desgaste tanto físico quanto emocional que ando passando, estão acabando comigo, me transformando em um rabugento.
Recém havia acordado e minha mãe já me xingava, não precisava ter motivo para fazer isso, ela sempre arrumava um jeito de brigar comigo, se eu respirar perto dela, já sofro consequências.
"Louis, eu não vou admitir um filho fracassado. Você vai sim prestar vestibular para medicina, não adianta discutir." Mary bufava sem parar, ela simplesmente não aceitava ter um filho que não tinha a mesma ambição por dinheiro que ela.
Eu apenas revirei os olhos e respirei fundo, tentando não perder a cabeça, o melhor a se fazer era apenas concordar e não perder meu tempo com isso.
"Mãe, eu só disse que talvez medicina não seja exatamente o que eu quero, mas se você insiste tanto, eu vou sim tentar." Ela não parecia satisfeita ainda com minha resposta. Então complementei. "Eu não irei te decepcionar, pode ficar tranquila." E assim, fui lavar meu prato na pia, deixando um singelo beijo em sua bochecha.
"Tudo bem, filho." Ela sorri vitoriosa, seus olhos brilhando por ter a certeza de que mandava na minha vida sem nem precisar se esforçar. Eu apenas assenti, como um derrotado. Ela deveria sentir vergonha do fracasso de filho que tinha. "Quer carona para escola?"Perguntou-me.
"Não precisa, eu acordei a tempo de pegar o ônibus." Por mais que eu não gostasse de pegar ônibus, eu definitivamente preferia andar nele do que ficar sozinho com minha mãe dentro de um carro, porque ela sempre começava com suas perguntas desnecessárias ou me oferecendo alguma menina da igreja, ela achava um absurdo um garoto de 17 anos não estar compromissado.
Sai apressado de casa, indo para o ponto de ônibus que ficava há uns 150 metros de casa.
Coloquei meus fones, fechando os olhos e aproveitando a música que tocava, era Ride da Lana del Rey, eu não sei porque mas, essa música sempre me deixava instigado, com vontade de mudar todas essas coisas que me atormentava, com gana para encontrar quem era o verdadeiro Louis.
Como sempre, o ônibus chegou atrasado, mas eu nem me importava mais. Apenas sentei em um banco qualquer, mas que para minha felicidade ficava na janela. Sempre gostei de observar as pessoas na rua, imaginar suas histórias, seus problemas e como elas eram em sua vida pessoal e profissional. Sempre imagino se um dia eu também terei uma história como a deles.
Perdido em meus pensamentos quase não desço na minha escola e para melhorar tudo, quase caio em frente a todos. Droga.
A escola sempre foi um lugar impiedoso comigo, não a escola em si, mas os alunos que nela estudam e principalmente a estrutura social que existe nela. Minha escola é uma verdadeira hierarquia, o básico clichê de toda escola, eu ficava na base dessa hierarquia, no grupo dos "ninguém importante para se saber o nome" acho que eu deveria até estar abaixo dessa categoria, pois nem amigos eu tinha aqui. Eu agradecia todos os dias por finalmente estar no último ano, não vejo a hora de sair desse inferno.
Eu fazia questão de ser o primeiro a chegar na sala, para me sentar bem no fundo. Eu sempre fui um aluno aplicado e na minha, nunca arranjei confusão com ninguém, mesmo que alguns alunos tentassem me provocar me dando apelidos e empurrões, eu simplesmente ignorava.
Mais uma aula começava, eu sempre gostei de biologia, mas hoje eu não estava afim de ouvir o que o professor Aaron tinha para ensinar sobre os tipos de tecido.
Então decidi dormir um pouquinho.
(...)
Finalmente fora daquele inferno, me senti como um passarinho sendo libertado de uma gaiola quando o sinal tocou, praticamente corri para fora dos portões da escola. A melhor parte do meu dia já ia começar.
Meu trabalho.
Eu adorava trabalhar em uma floricultura, gostava de organizar os arranjos e cuidar das plantas vendo seu crescimento a cada dia. Eu fui a pé mesmo.
Ela ficava três quadras da escola, mas eu ia tão rápido que parecia que ficava do lado. Eu sempre digo que lá é minha casa, meu verdadeiro lar. Eu trabalho ajudando dona Eve, uma senhora de 65 anos que é simplesmente minha melhor amiga e meu maior exemplo de ser humano. Ela sempre foi amiga dos meus pais, há dois anos ela me chamou para ajudá-la na sua floricultura, 20 horas por semana, na época apenas aceitei para me afastar dos meus pais e da prisão que vivia naquela casa, mas sem imaginar fui me apaixonando cada dia mais por tudo isso, um dos únicos motivos dos meus sorrisos diários.
"Querido! Que bom que chegou, preciso sair, buscar meu sobrinho no aeroporto." Eve já estava com a bolsa na mão, ela estava muito arrumada, esse sobrinho deveria ser muito especial pra ela.
"Oh, tudo bem, fica tranquila, pode ir buscar seu sobrinho." Sorri sincero segurando sua mão gordinha e quente. "Eu cuido de tudo aqui."
"Obrigada, docinho." Ela beijou minha mão e se despediu. "Por ser tão maravilhoso, você é o filho que eu não tive." Eu sorri tão verdadeiramente que meus olhos fecharam. Eve saiu correndo, nem parecia uma senhorinha.
Então hoje seria apenas eu e as flores. Sem problemas, de fato segundas-feiras não eram dias extremante movimentados eu conseguia dar conta sozinho. Eve nunca me contou sobre esse tal sobrinho, eu conheço sua irmã Anne, mas eu só sabia que tinha Gemma como filha, ambas frequentam a igreja do meu pai.
Eu decido passar um pano no lugar e organizar a vitrine, deixar tudo impecável. Eu me sinto tão bem nesse lugar, acho que nasci para fazer isso, mas eu sei que num futuro próximo tudo isso irá se dissolver, virando apenas uma doce memória.
Eu decidi comprar algo para comer, já que não tinha almoçado e precisava livrar minha cabeça de dolorosos pensamentos que nela vinham.
(...)
Meu expediente já tinha acabado, eu sentia como se um caminhão tivesse passado vinte vezes em cima de mim, só queria ir para casa descansar, mas eu sabia que era dia de ensaio no coral da igreja, sinceramente... Eu me sentia esgotado, eu odiava como aquelas pessoas me olhavam, como ver todos cochichando como eu era diferente dos meus pais, que não parecia ter herdado o dom da palavra de Deus do meu pai.
Eu realmente não tinha herdado isso dele, ainda bem. Na verdade eu nem sei no que eu acredito, essa ideia de ter uma divindade às vezes me deixa confuso, não sei se isso tem a ver com os meu ideais, mas eu sequer tenho direito de decidir sobre isso, meus pais não me dão essa escolha.Eu fui apenas alguns minutos no ensaio, saí com a desculpa de estar passando mal. Eles provavelmente perceberam a mentira, mas eu não ligava, definitivamente não me importava mesmo. Peguei o ônibus e finalmente podia deitar, dormir, acordar amanhã e fazer tudo igual.
(...)

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Soft as flowers (L.S)
FanfictionPara Louis Tomlinson aquela realidade e aquele cotidiano que vivia não parecia ser o mundo, muito menos aquilo que ele queria para a sua vida. Então, decidiu sair da "caverna", mas como sair da "caverna" quando se é filho de um pastor rigoroso e de...