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Ao longo de nossas vidas, sempre ouvimos histórias sobre crianças que são abandonadas pelos pais, sejam por motivos fúteis ou sérios. Nós, filhos abandonados, quando não descobrimos toda as camadas que existem por trás dessa decisão, experimentamos um turbilhão de sensações que dilaceram nossa confiança, nos faz sentir como uma pedra no sapato na vida de alguém.

Eu não posso dizer que esses sentimentos são nulos dentro de mim, mas com certeza eles não são os principais.

Chegar em Doncaster foi uma sensação de frio na barriga e ansiedade se revirando dentro de mim, por mim... Eu saia correndo para encontrar Jay e fazê-la a grande pergunta, mas Harry me disse para esperar nos acomodarmos e perguntar com calma, já entrando no carro que estava no estacionamento do aeroporto de Londres, Harry ligou uma música calma e alegre, sorrindo para mim.

"And i need you." Balançou a cabeça no ritmo da música. "And i miss you." Me lançou um olhar brincalhão. Eu revirei os olhos, mas sorrindo e cantando o resto.

"And now i wonder, If could fall into the sky." Cantei alto, imitando a voz da Vanessa Carlton. "Do you think time would pass me by?
'Cause you know I'd walk a thousand miles
If I could just see you tonight."

"Meu Terry crews." Brincou e eu não pude evitar de rir da comparação, agradecendo internamente por ter ele em minha vida, até mesmo no momento mais tenso de todos. "Você mantém um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo." Mesmo depois de tudo que já passamos juntos, eu ainda corava com suas declarações.

"Eu te amo e sei que se existe algum Deus, ele jamais condenaria o nosso amor." Suspirei.

"Eu te amo muito, mas agora eu fiquei curioso... Você anda pensando sobre religião? Achei que fosse um assunto morto." Ele respondeu.

"Digamos que sim, eu me considero agnóstico ateísta, não consigo provar a existência de Deus, mas não acredito nele. Agnosticismo é a visão filosófica de que a veracidade de certas reivindicações é desconhecida ou incognoscível, pode parecer estar perdido sobre sua fé, mas não é, eu sei exatamente meu ponto de vista sobre isso e pronto. Sem indecisões." Respondi.

"Eu acho incrível você ter cabeça para pensar nisso, mesmo tendo sido criado dentro da igreja, você não sente a necessidade de acreditar em algo que não faz sentido dentro de você."

E assim fomos o resto do caminho, conversando sobre tudo... Menos o assunto da minha suposta mãe, o que me acalmou bastante.

(...)

Eve, Gemma e Anne nos recepcionaram com doces e muita alegria.

"Você fez tanta falta... Eu juro que suas plantas quase choraram de saudades." Dona Eve disse me abraçando, eu ri alto com a revelação. "É sério, elas me estranharam."

"Aposto que ficaram felizes por serem cuidadas por suas mãos de fada." Disse acariciando a mãozinha já envelhecida e gordinha.

Do meu lado, Harry levava uma bronca de Anne.

"Garoto, você mal me ligou, esqueceu que tem mãe?" Disse abraçando e dando um tapinha no seu peito, o cacheado apenas ria do exagero da sua mãe.

"Calma, mãe, nós estivemos muito ocupados, há tantas novidades... A senhora vai ficar apavorada." Eu o ouvi falando.

"Louis, deu tudo certo?" Gemma se aproximou.

"Bem, eu creio que sim, juro que conto todos os detalhes quando terminar de resolver, mas falta uma boa parte da história a ser resolvida." Conto, meu estômago revirando pelo nervosismo.

"Você parece renovado, com outro ânimo." Ela comenta, fazendo um carinho nos meus cabelos e sorrindo docemente.

"Eu estou mesmo, não posso negar." Sorri sincero.

Anne e Harry sentaram ao meu lado no sofá, enquanto Gemma e Eve sentaram nas grandes poltronas em frente, encostei minha cabeça no ombro de Harry, todo o nervosismo tinha me pegado de jeito, eu precisava focar de volta.

"Mãe, onde a tia Jay está?" Harry perguntou, parecendo ler minha mente.

"Vendo as últimas coisas da casa dela, mas ela vai dar uma passada aqui." Comentou naturalmente."Por quê?"

"Nada, estou apenas com saudades dela." Disfarçou.

Gemma puxou assunto sobre as paisagens da Grécia e Harry e eu nos perdemos contando com quase uma infinidade de detalhes sobre as comidas maravilhosas que provamos e lugares novos que conhecemos.

(...)

Eu tomei um banho rapidinho, colocando um moletom confortável e quentinho, o inverno já era realidade agora.

Enquanto seco meus cabelos, ouço batidas fracas na porta e quando atendo meu coração dispara; Jay.

"Oi." Falei baixo, ainda em choque.

"Oi, tudo bem, querido? Harry disse que você quer falar comigo." Ela falou leve, sem imaginar o que seria a nossa conversa.

"Sim... Sente-se, por favor." Dei passagem para ela. A mulher de cabelos castanhos se sentou na cama, me olhando com seus olhos brilhando e foi aí que eu senti que estava há um passo da verdade. "Como você sabe, nós fomos fazer uma viagem para Grécia, o motivo foi descobrir quem são meus pais, creio que você não saiba a motivação, pedi para deixar em segredo. Enfim, eu achei um homem, que me contou uma história sobre um casal de jovens que acabou tendo um bebê por acidente e ele revelou ser meu pai, nós fizemos um teste de DNA e deu positivo, mas ele havia se perdido da minha mãe, o destino os separou, o nome dele é
Mark." Meus olhos encheram de lágrimas e os dela também. "Ele comentou sobre minha mãe ser uma mulher inglesa e a chamou de Jay, óbvio que eu não pensei em você, afinal... Qual a chance? Mas depois de um tempo Harry se lembrou de uma história, sobre você ter tido um filho... Eu preciso te perguntar, Johannah, você sabe alguma coisa sobre isso? Existe possibilidade de você ser minha mãe?" Ela me abraçou com força, chorando abertamente. Eu senti um calor diferente emanando daquele abraço,um tipo de sensação tão nova... Tão confortável, eu queria morar naquele abraço.

"Então eu estava certa... Você é o meu filho! Eu finalmente estou te vendo, meu bem, vejo que você se tornou um rapaz maravilhoso e lindo... Eu tenho tanta coisa para te contar." Saiu do abraço para segurar minhas mãos e olhar em meus olhos. "Eu quero que você me perdoe, eu era jovem e irresponsável... Mas eu precisava crescer na vida e não poderia lhe oferecer nada, eu te amo tanto, meu bem, passei por tanta coisa, foram anos de depressão profunda, imaginando seus olhinhos azuis crescendo, como ficaria seu nariz adorável, seu rosto angelical... Todos os anos eu me matava estudando para conseguir aprovar na faculdade, você foi minha motivação, a chance de te encontrar um dia... Faz uns oito anos que eu comecei a te procurar... Nunca achei uma pista sequer. Quando te vi com Harry aquele dia, eu não enxerguei você, eu enxerguei o meu bebê! Por isso fiquei tão em choque." Ela secava as lágrimas que escorriam pela minha bochecha."Sei que Mark deve ter te contado tudo, ele foi o amor da minha vida, apesar de toda confusão que terminamos. Filho, eu quero aos poucos conquistar um espaço na sua vida, não quero entrar do nada nós temos muito tempo para recuperar. Me perdoa?"

"Eu cresci numa família horrível, sem amor algum, entendo suas razões, mas meus sentimentos não, eu te perdoo e te aceito na minha vida, mas precisamos ir com calma." Disse, voltando a abraçar ela.

Soft as flowers (L.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora