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Louis POV

Era dia de culto, o dia que eu iria "voltar" para igreja e limpar a imagem da minha família, sinceramente... Faz apenas dois dias que eu estou aqui nesse cativeiro e tudo que eu consigo pensar é; Como eu aguentei viver tantos anos presos em quem eu não sou?

Preso numa casa onde eu não era bem-vindo sendo quem eu realmente era, só tinha aprovação quando fazia o que mandavam. Preso numa família que jamais fez por merecer meu amor. Preso na minha insegurança, na infinidade de perguntas que eu pensavam que me faziam anormal, me sentia um alienígena no meio dos humanos.

Agora eu conseguia olhar para caverna... Do lado de fora. Posso enxergar o quão maior que isso tudo eu sou, o quanto todo aquele medo que eu tinha foi embora, não importa a situação que eu me encontro, eu sempre terei coragem o suficiente para enfrentar e ir atrás de quem eu realmente sou. Não importa os riscos ou as consequências, nada é maior pra mim do que ser eu mesmo.

Ajeitei minha gravata preta e desci as escadas, sem demonstrar que tinha um plano para sar daquela situação, fiz a mesma atuação que me acostumei por anos.

Mary e John me observavam com olhares diferentes, o de John era aquele carregado de perversidade e arrogância, mas o de Mary... Era de medo.

Ela não conseguia olhar dentro dos meus olhos, a cabeça baixa e o rosto inchado.

"Você está bem?" Perguntei baixinho, quando cheguei perto.

"Apenas cólica... Você está lindo." Sorriu sem graça.

Eu apenas agradeci com a cabeça e logo John nós guiou até o carro.

Como sempre, foi silencioso e gelado. Ao olhar as ruas tão bem arborizadas
não pude deixar de sentir um pedacinho de Harry em mim. Ele  gosta de caminhar por essas ruas e sempre diz que quando caminha junto comigo, consegue sentir as árvores falando sobre o quanto somos o casal mais lindo que já passou por elas. Não consegui conter o sorriso lembrando disso.

"Você precisa deixar claro que mudou por nossa causa, ok? Adam e Ethan vão subir ao altar junto com você, para sair bem na foto, chamei o jornal local..." John falava com animação, o seu ego sendo amaciado por se imaginar sendo notícia.

Eu sorri, completamente cínico, mas é óbvio que ele não percebeu.

(...)

Para minha surpresa, Lisa e Cindy estavam lá... Lisa agora tinha o cabelo pintado de azul e e estava de mãos dadas com uma Cindy sorridente, a família de Cindy não parecia incomodada, ao contrário... Lisa parecia se dar muito bem com todos ali. Eu fiquei chocado e feliz, eu sabia que pessoas cristãs podiam não ser completos babacas homofóbicos, mas ver isso sendo colocado em prática e ainda sendo colocado dentro da igreja foi novo.

Eu acenei discretamente para ambas, que me devolveram com sorrisos simpáticos e uma leve piscadinha de olho foi dada por Lisa.

Chegamos perto do altar, pude notar os olhos arregalados em minha direção.

"É, ele está de volta." Adam anunciou ao pessoal do coral, que apenas soltou um baixo 'bem-vindo de volta'.  Me entregaram um papel com a lista de músicas e eu me dirigi ao piano.

Era só me controlar até a hora certa.

(...)

Harry POV

Minha mãe se arrumava para o culto... Assim como eu, ok, é realmente esquisito falar isso. Finalmente vou conseguir meu Louis de volta, está tudo planejado. Malas no carro e nossas coisas empacotadas.

Eve andava abatida nesses dias, voltou a usar a cadeira de rodas e passava os dias dormindo, ela se aproximou de mim e me entregou um papel

"Harry, eu quero que você dê isso ao Louis, eu já estou muito velha... Preciso ficar em repouso, é um presente para ele." As mãos gordinhas e trêmulas me entregaram o envelope. "Eu te amo, meu sobrinho lindo, cuide bem do Lou, eu o amo como um filho... Talvez seja a última vez que veja sua velha tia." Não pude deixar uma lágrima escapar com essa declaração, eu sabia que as sessões de quimioterapia estavam sendo difíceis e para piorar ela escondia de todos o quanto seu caso era bem mais grave.

Abracei com todo carinho e gratidão, deixando um beijo em sua bochecha.
Gemma apareceu e se juntou a nós.

"Não querendo atrapalhar o momento fofo, mas precisamos nos apressar." Anne tentou esconder a lágrima que escorria, mas seus olhos vermelhos não a deixavam.

Nós rimos, tentando aliviar a tensão que tinha se instalado.

"Ok, agora nós temos uma missão pra cumprir." Disse alto, já saindo da sala junto de minha mãe.

(...)

Louis POV

Tocar piano de novo era uma inegável sensação de puro êxtase e saudade, por mais que não fosse as músicas que eu gosto, minha conexão com o instrumento ia além. Para minha alegria, pude enxergar Jay e Anne chegando, o que significava que metade do plano tinha dado certo, eu espero que Jay nem desconfie. A partir do momento que o fim ia se aproximando, meu coração ia pulando pra fora do peito, eu podia sentir a tensão formada a minha volta.

Pude enxergar pelo canto dos olhos minha mãe sorrindo, um sorriso aliviado, fiquei muito feliz, mas sabia que aquele sorriso só ia aumentar no final dessa manhã.

Surely love and mercy
Your peace and kindness
Will follow me
Will follow me

Toquei a última estrofe tremendo. Estava na hora.

Todos do coral se retiraram do altar, ao som de estrondosos aplausos vindo dos fiéis. Mas eu fiquei lá, com uma cara de pavor.

John, Ethan e Adam subiram e se juntaram a mim, me mantendo firmemente ao lado deles, seus sorrisos comerciais estampados de forma cínica.

"Bom, como todos vocês sabem, esse é um culto especial... Eu sempre fui um pai muito presente e deixei meus filhos livres para voar, só que eu não contava que um dos meus poderia se perder durante o voo por esse mundo tão cruel." John me abraçou de lado, uma lágrima teatral escorreu pela bochecha, juro que eu não sabia com o quê me apavorar mais, com suas palavras mentirosas ou sua performance. "Louis sempre foi o mais tímido dos meus meninos e o mais frágil, mas também o mais dedicado e responsável, mas eu não imaginava que nossa sociedade pervertida poderia persuadiar tanto, mas Deus nunca falha, nós conversamos e eu consegui colocá-lo de volta nos trilhos, rumo ao caminho certo, tirá-lo da perdição. Eu trouxe Louis de volta para a igreja, glória irmãos!" Falou a última parte mais alto, com demasiada convicção. E nessa hora pude ver Mark entrando pela porta, se sentando atrás de Jay... Mais uma parte do plano deu certo. "Filho, conte a a eles como é estar de volta." Me passou o microfone.

Estava na hora. Não posso vomitar tudo agora. Preciso manter o teatro e chutar o pau da barraca só no final, se bem que... Qual será a diferença?

"Eu agradeço muito aos meus pais e irmãos por ter me mostrado o caminho certo, por ter me tirado do caminho da perdição, os jovens esquecem de Deus pelo prazer." Fiz uma falsa cara de tristeza, esse teatro ia acabar agora. "Droga, eu sei o quanto é bom transar com outro homem... as mãos fortes, a pegada, sentir um corpo como o seu encaixando perfeitamente, bom, mas o que adianta se não tivermos um ser onisciente e onipresente que nunca vimos para servimos, não é? O que adianta amar alguém e se sentir como se você e aquela pessoa fossem
únicos no mundo, se não pode vir todo domingo e ao invés de ouvir sobre o que acredita, ficar falando mal dos outros e destilando veneno? Eu estou errado?" Meu pai estava pálido e meus irmãos vermelhos, a cara dos fiéis era de completo espanto, a não ser por Lisa e Cindy que riam sem parar. "Então, pastor John, eu estou curado! Mas curado dessa sujeira, curado da submissão a esse circo, curado da cegueira e da tristeza que me acompanhavam, o amor me curou! Sim, o meu amor por outro homem e que me ama também, me curou." Harry estava apoiado contra a porta da igreja, seu sorriso ia rasgar sua cara. "Amar não é uma doença, é a cura! Doença é esse mau caratismo e cara de pau de se aproveitar da fé dos outros, meu sincero adeus para vocês." Sai correndo do altar, indo em direção aos braços de Harry. Pulei em seu colo como um coala.

"Eu adoraria ficar te abraçando amor, mas precisamos ir embora antes dos crentes nos lincharem.", Harry sussurou no meu ouvido. Então juntos corremos até o carro, deixando para trás não só aquelas pessoas, mas tudo que aquela cidade tinha me feito durante todos esses anos.

(...)

Esse dia não acabou ainda kkkk próximo capítulo vai explicar tudo mais detalhado, com calma
Já estamos no final dessa fic, faltam dois capítulos+ epílogo
Prometo um capítulo bem grandão.
Fiquem em casa e lavem as mãos e não ouçam o merda do presidente do Brasil.

Soft as flowers (L.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora