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Eu juro que eu senti meu rosto esquentar quando o vi. Eu senti como se tivesse babando, tudo em volta estava embaçado e só ele era nítido. Deus, quem era ele?

"Louis, está tudo bem?" Eve perguntou preocupada. O homem ao seu lado me encarava, sem expressar qualquer emoção, apenas mantinha seus olhos fixos em mim.

"Sim, eu estou, apenas fiquei um pouco tonto de andar para lá e pra cá." Dei um sorriso forçado para disfarçar, Eve sorriu e deixou um beijo em meu rosto.

"Eu quero te apresentar meu sobrinho Harry." Ela sorriu docemente enquanto puxava o homem mais pra frente.

Eu sinto que poderia passar horas apenas olhando aquele rosto, os traços tão marcantes, os olhos em um tom esmeralda que pareciam uma imensidão de beleza e intensidade, os lábios rosados tão convidativos eram de encaixe perfeito com o resto de seu rosto,  ah, e aquele sorriso... Era tão verdadeiro, como se todo sua beleza que por mim estava sendo equiparada a de um Deus grego não importasse, aquele sorriso o deixava como uma criança feliz.

"Prazer, Louis, minha tia fala muito de você." Harry estendeu sua mão enorme para me cumprimentar. "Vejo que ela tem razão, você tem uma visão incrível sobre estética das flores, esse lugar está lindo." Corei levemente, dando um pequeno sorriso e aceitando sua mão.

"Obrigado, eu apenas gosto do que faço." Respondi um tanto envergonhado. Eu me sentia intimidado por sua presença.

"Louis, mostre ao Harry nossa estufa." Eve disse sorridente como sempre. "Você vai adorar, Harry. Louis cuida daquela estufa com se as plantas fossem seus bebês." Um arrepio percorreu minha espinha nesse momento.

"Claro." Digo baixinho, tentando não mostrar o quanto eu estava afetado. "Me siga, a estufa fica nos fundos." Tentei não caminhar na sua frente, isso poderia soar sem educação, ou pelo menos eu acho.

"Então, Louis... Você é filho do pastor John, certo?" Ele tentava iniciar uma conversa comigo, tentando ser simpático. Apenas acenei com a cabeça. "Ele não vai gostar muito de saber que você falou comigo." Riu um pouco.

Eu fiquei tão confuso nesse momento. Como assim ele conhecia meu pai? Como meu pai não gostava dele? Meu pai é simplesmente o maior puxa saco de rico cristão do mundo e a família Styles é exatamente tudo isso que ele adora. Não fez nenhum sentido na minha cabeça. Mas eu preferi não entrar muito no assunto, não quero parecer invasivo.

"Meu pai não é exatamente alguém fácil de se lidar." Olhei de relance pra ele. Eu parecia muito mais tímido do que realmente sou. Por que diabos estava assim?

"Na verdade, ele que acha que eu sou alguém difícil de lidar." Riu fraco passando a mão por seus cabelos nervosamente.

Parecia que alguma coisa séria tinha acontecido entre esses dois, talvez não agora, mas eu com certeza iria descobrir.
Assim que entramos na estufa eu me acalmei, estava num lugar que amo e que tenho demasiado orgulho.

"Harry, aqui é onde a maior parte das plantas que nós vendemos é cultivada, nós compramos apenas as flores mais sofisticadas como as que eu estava organizando na vitrine." Eu o levei na minha parte favorita; as plantas que davam flores.

"Que tipo de flor é essa?" Apontou para algumas astromélias.

"São astromélias, sabe... uma coisa muito curiosa sobre elas, é que não suportam o frio, e bem, nós moramos em uma região que faz frio na maioria dos dias." Eu arranquei uma florzinha e entreguei para ele. "Por isso elas ficam numa parte aquecida, a terra onde são plantadas deve ser muito fértil, elas dão muito trabalho, mas eu não posso negar que por esse motivo eu as trato como meus bebês, elas são especiais e cada dificuldade que me fazem passar me mostra isso." Harry parecia extremamente focado no que eu falava.

"Acho que como a maioria das coisas na nossa vida ... às vezes andam devagar, mas é importante continuar acreditando e insistindo, fazendo de tudo para dar certo, o importante é não parar no meio do caminho." Ele sorriu para a flor entre seus dedos. "E é óbvio o quanto você é dedicado, parabéns. " Ele colocou a flor na minha orelha, dando um sorriso doce. Deus, ele ia me matar e nem ia ficar sabendo.

"Eu só gosto do que faço... Acho que as coisas dão certo quando fazemos com gosto." Eu queria enfiar minha cara em qualquer lugar que tapasse ela, eu mais parecia um pimentão.

"Meninos?" Dona Eve chamou e nesse momento eu agradeci aos céus por sua intervenção. "Desculpem, mas Harry aconteceu um problema, sua irmã precisa que você a leve para o hospital." Eu arregalei os olhos e o homem ao meu lado parecia estar em choque também.

"Mas o que aconteceu com ela, tia?" Perguntou enquanto procurava as chave do seu carro nos bolsos.

"Ela quebrou o pé." Quando Eve fala isso, Harry respira aliviado. "Louis, você pode ir pra casa se quiser, hoje não está muito movimentado, nós vamos para o hospital, só feche a loja pra mim, por favor?" Eu asssinto rapidamente.

"Pode deixar, fiquei tranquila. Melhoras para sua irmã, Harry." Disse por último, ele apenas me lançou um olhar grato sorrindo nervoso, Eve me deixou um beijo molhado na testa e apertou minha bochecha com força.

Deus, o que tinha acontecido comigo?

(...)

Eu já estava em casa, mas precisamente deitado na minha cama olhando pro teto e pensando.

Pensando em Sócrates, como ele via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo. Mas como buscar a verdade quando nem sabemos quem somos realmente? E por que diabos estava pensando sobre isso?

Eu só queria ser livre.

Liberdade. Em seu sentido mais geral, o termo liberdade designa o estado de ser livre ou de não estar sob o controle de outrem; de estar desimpedido, de não sofrer restrições nem imposições.

Eu só queria ter um gosto disso, poder provar pelo menos uma vez  como é não estar sobre o controle de como agir, de fazer o que eu quero sem medo.

Suspirei pesadamente, alguma coisa tinha mudado dentro de mim. Eu precisava me alimentar, eu sempre esperava minha mãe sair da cozinha para comer, a minha mãe não gostava quando eu comia, ela sempre dizia que eu iria engordar e que ia descer pras minhas coxas e bunda e que eu ficaria uma bolota. Eu sempre me senti pressionado perante isso, tanto que durante anos sofri com crises de ansiedade e bulimia nervosa, foram bons meses fazendo terapia para controlar isso.

Eu descongelei uma pizza e coloquei no forno, fazia tanto tempo que eu não comia uma. Estava lendo um livro chamado Assim disse Zaratustra, de Frederich Nietzsche, sempre gostei dele, mesmo considerando algumas colocações suas frias demais, mas acho que esse é exatamente o ponto, a realidade, ela é dura e fria, não é um poema de amor.

Enquanto comia minha pizza, lembrei de Harry, por algum motivo aqueles olhos verdes apareciam nos meus pensamentos de vez em quando.

Eu estava ferrado.

Soft as flowers (L.S)Onde histórias criam vida. Descubra agora