Juliana
- Saberia que eu jamais faria qualquer coisa que envergonhe você e não pelo que pensaria de mim, mas pelo que eu teria que me tornar para sentir tamanha vergonha. Eu sou uma mulher honesta, sou convicta disso, e nada do que a rua, o bairro ou até o país digam vai mudar isso para mim. Eu nunca feri ninguém e nunca me feri irreversivelmente no processo e não porque alguém cuidou para que isso acontecesse, mas porque eu aprendi a cuidar de mim no processo de ter que fazer isso desde cedo sem ajuda de ninguém. Então não me venha depois de anos sem sequer me enxergar para dizer que sabe o que é melhor para mim - Determinei dando de ombros e abandonando uma Lupita revoltada na cozinha de casa enquanto entrava para o meu quarto e fechava a porta, deitando na cama.
- E pensar que eu quase disse... - Mas um resquício de senso me fez duvidar no último segundo e traguei todas as minhas palavras enquanto apoiava meu antebraço na minha testa, fitando o teto enquanto segurava algumas lágrimas.
A frustração de querer muito uma coisa e que aconteça, mas no momento errado, era uma das sensações mais ingratas que se poderia sentir.
Por muitas vezes enquanto minha mãe ficava no parapeito da janela a espera de Chino que prometera voltar a pelo menos dois dias atrás eu desejei que voltasse o olhar para dentro de volta, para o interior e me percebesse, primeiro pequena, depois maior e eu nem mesmo era ambiciosa.
Por um tempo só quis um sorriso.
Mas quando ele se foi naquela cadeira elétrica eu me tornei esse alguém que temi.
Fiquei egoísta, quis encontra-la a meia noite a minha espera, desejei até seus reclamos, comum a todas as mães.
Se uma coisa aprendi com sua falta de interesse foi que não há falta de consideração maior com alguém que se diz amar que a indiferença. É um diálogo que vira monólogo, é um olhar na direção oposta quando dois bem sabiam onde deveria pousar, é um alguém que só olha para dentro quando você já se foi de onde deveria ser sua morada mais segura.
Antes que eu desse vazão as lágrimas que começavam a se tornar irritantes o meu celular toca.
Conferi a tela e me deparei com o inesperado: Uma ligação de Candela, minha contratante, em pleno dia de folga.
Enxugando as lágrimas rapidamente decidi atender.
- Olá Candela - Cumprimentei sem vontade.
- Com essa voz não conseguiria manter o clima nem no funeral. Na verdade, suponho que os deixaria mais tristes - Revirei os olhos e num suspiro eu realmente cogitei desligar o telefone, entreranto, antes que eu alcançasse o botão Candela se adianta - É melhor se animar, tenho uma proposta para você e para que esteja apta para recebê-la deve estar o mais atraente possível. E sabemos que nariz vermelho não é atraente - Continuou e as engrenagens da minha mente começaram a girar, neguei imediatamente.
- Eu não faço programa e você sabe disso. Não importa o preço, meus valores não estão a venda - Já fui me adiantando e a mulher deu uma risada breve e elegante, como quem me achava torpe ou quem sabe até um pouco entediante.
- Você já me disse isso e eu já concordei que não acontecerá. Não gosto de gastar meu latim com perguntas às quais sei a resposta antes de fazer. Então acredite Juliana, se liguei para você agora é porque sei que pode considerar a proposta. Espero você na boate amanhã por volta das nove da manhã para que discutamos... - E antes que eu pudesse pedir um adianto da conversa para que eu decidisse se valia ou não a pena ir Candela desligou o telefone.
Confusa apenas voltei a me deitar na cama, lugar de onde incrivelmente não movi um dedo até o dia seguinte, caindo na inconsciência algumas horas depois daquela conversa.