Dedicado a Tammyz22
Alguns anos atrás...
Desde muito pequena eu aprendi a me virar sozinha. Com uma mãe cega de amor por um assassino eu sabia que uma hora ou outra teria que aprender a ir a diante.
E depois da morte de Chino, o que não me surpreendeu por como levava a vida, foi o que eu fiz. Tomei minha mãe pela mão e a trouxe ao México com todo o pouco de dinheiro que consegui juntar concertando roupas e cuidando das crianças dos vizinhos, mesmo aos 18 anos.
Nunca me assustou o trabalho, muito mais me assustava andar por um caminho errado, pensava quando cheguei ao distrito, mas semanas incansáveis atrás de emprego e várias contas à minha porta me fizeram refletir sobre o que era certo ou errado.
Ainda mais depois de um exaustivo turno como garçonete onde só consegui tirar o suficiente para pagar uma única conta.
- Não precisa ser assim. Você é bonita, pode fazer muito mais dinheiro de maneira fácil - Me disse uma mulher ao final da minha jornada, me olhando de cima abaixo, sentada na última mesa ocupada do restaurante em que eu fora contratada para trabalhar por aquela noite, sequer era fixo.
- Não sou e nem quero ser prostituta - Afirmei puxando a bandeja da sua mesa e a senhora a puxou de volta, dificultando meu trabalho propositalmente para me manter ali.
- Se estivesse mais disposta a escutar eu já teria explicado que não se trata disso, mas se prefere não fazê-lo não insistirei mais do que eu estou fazendo agora - Garantiu soltando o recipiente de alumínio e eu o tomei nos braços acompanhado como aquela misteriosa mulher saía do restaurante, sem dizer um nome, sem deixar um telefone.
Num guardanapo apenas uma palavra:
Libidinus...
No outro dia, como toda pessoa moderna, eu pesquisei a palavra na internet e descobri que tratava-se de uma boate no centro da cidade, não havendo mais qualquer informação que um simples número que não pensei em ligar por dias.
Entretanto, próxima ao desespero com mais o aluguel e nenhum trabalho realmente rentável eu o fiz de olhos cerrados torcendo e não para que fosse atendida.
Meus pensamentos sobre o certo me recriminavam.
Meus pensamentos sobre o necessário me incentivavam.
Entre o certo e necessário sempre escolha o segundo.
O certo pode ser relativo para uma família inteira, mas o necessário não, e vendo minha mãe chorando certa noite sozinha por tampouco conseguir algo por mais que insistisse me impulsionou a não desligar quando fui atendida.
- Quem é? - Escutei uma voz aveludada do outro lado do telefone e por mais que a intenção fosse acalmar o outro lado da linha com uma entonação tão afável fiquei ainda mais nervosa porque não soube o que dizer.
- É a garota do restaurante. Uma mulher deixou um bilhete comigo há dias atrás que continha o nome desse local e... - Comecei, mas na metade da explicação concluí que estava sendo demasiado idiota e parei sozinha.
Ninguém jamais daria ouvidos a mim com uma história tão...
Não ouvi mais ninguém do outro lado telefone e supus que já haviam me tirado como louca, fato que nem mesmo eu poderia culpa-los e quase desliguei o telefone, parando apenas quando ouvi uma voz do outro lado.
Não era a mesma, essa era mais áspera, e parecia saber exatamente quem eu era e que eu buscaria a maneira de me comunicar.
- Supondo que buscou ligar-me é porque está interessada na minha proposta, correto? - E assim, depois de um suspiro, eu soube que tinha que ir mais adiante do que nunca, solitária como sempre, desafiando tudo o que já me disseram que estava certo...