Valentina
Mãos recorrendo o corpo moreno, descendo pela pele das suas costas até que se arrepiasse.
Dedos lentos, respirações cada vez mais rápida e gozo. Eu e ela.
Isso mesmo, ela como não pensei que poderia ser no momento em que senti aquele primeiro fio de curiosidade cruzar a minha mente. Mas até então eu não conhecia a pessoa que transformaria minha fantasia em realidade. E como eu poderia prever alguém como ela? Que com sua máscara desnudou a minha verdadeira e íntima face de forma que ao mesmo tempo que me sentia estranha me sentia feliz.
Feliz como não era a muito tempo.
Mordi a ponta do polegar com uma risadinha incontida enquanto colocava a mão livre por dentro dos bolsos sentindo como por um segundo a felicidade se esvaia como a mesma velocidade que a luz tocava a minha pele quando encontrei com meus olhos um Sérgio confuso sentado no bar com um copo de uísque na mão e o celular no outro prestes a me chamar.
Gostaria que estivesse sóbrio o suficiente para que eu pudesse reclamar de que era uma tremenda dor de cabeça quando queria, mas no estado em que se encontrava eu supus que tudo o que poderia fazer por hoje era apenas arrastar esse homem em casa no silêncio mais discreto possível.
Avançamos alguns passos com dificuldade por eu ter de sustentar boa parte do seu peso e ainda pedir que abrissem espaço para eu e meu amigo bêbado, mas por bem e por esforço chegamos a saída daquela boate.
- Foi impressão minha ou você saiu do camarim da Camila? - Meu corpo todo ficou tenso e por um segundo quase o derrubei, mas então, o mantive em meu braço.
- Nem um nem outro. Penso que deve ter sido uma alucinação sua que adveio da bebida - Foi o primeiro que me veio a mente para dizer e não porque eu quisesse esconder aquela relação, mas tampouco queria sair alardeando por aí ainda mais a Sérgio que tinha uma súbita obsessão pela garota a que acabara de ter em meus braços.
Por um segundo algo ruim se moveu dentro de mim e eu desejei saber o que pensaria ao saber que a amiga que trouxe aqui para conseguir uma garota para ele a havia tomado para si, mas então o lado melhor de mim, o que tinha coerência e discernimento das coisa refreou meus pensamentos equivocados e mais bem exigiu que eu me colocasse a andar até o ponto de táxi para que fosse devidamente levado a casa.
- Não vai entrar no táxi? - Perguntou com curiosidade me olhando com seus olhos de bêbado quase inconsciente, mas ainda sim esperto o suficiente para perceber se eu cometesse o erro de olhar para a libidinus imaginando que não poderia entrar.
- Sim. Claro - Afirmei a contragosto trancando a porta de trás e me encaminhando a da frente com um inevitável suspiro frustrado quando ainda em mim habitava a possibilidade de voltar a Juliana depois de manda-lo embora em segurança.
- Você parece meio triste em ir agora... Acaso queria tomar mais uns drinks e tentar conhecer rapazes? - Perguntou o meu amigo com um dedo levantado mesmo que o tronco já não conseguisse.
- Não diga besteiras Sérgio. Beber não te dá a liberdade de falar tantas incoerências - Adverti baixando o olhar tentando com que ao menos ficasse calado.
- Você sempre baixa o olhar quando está mentindo. O que significa que se não tem ninguém ainda certamente vai ter... Lucho ficará uma fera - Terminou rindo de si mesmo e depois finalmente se calou para o bem da minha já crescente dor de cabeça.
O que queria com evocar Lucho? Havíamos terminado já alguns anos e não tínhamos mais nada a ver. Na verdade, o próprio Sérgio uma vez tinha deixado escapar de que as coisas com Nayelle iam cada vez mais sérias, fato que eu não pude tomar mais do que como algo excelentemente bom, pois não ser feliz com alguém não implicava querer que seja infeliz com outras pessoas, portanto, considerei sua fala tão fora de lugar que somente ignorei suas palavras alcoólicas me voltando para a direção da janela a qual apoiei minha cabeça tentando pensar em por qual motivo valeria a pena entrar em uma história em que claramente teria que andar com o todo cuidado.
E a resposta veio mascarada e com um sorriso de tirar o fôlego...
***
Quando cheguei de volta a mansão tirei o sapato já da entrada para não terminar acordando ninguém enquanto tentava bem devagar caminhar com a ponta do pé acabando por falhar miseravelmente ao chegar na escada que rangeu em meu passo despertando a atenção de Lucía que estava ainda acordada.
- Valentina? - Chamou em minhas costas e senti a alma transmigrar do corpo um segundo antes que eu me virasse em sua direção com um sorriso sem graça - Porque entrou em casa de fininho como uma assaltante? - Indagou em seguida apoiando os braços nas cadeiras com diversão.
- Não queria acordar ninguém - Entreguei mexendo no cabelo.
- Imaginando que se entediaria da festa bem cedo eu decidi te esperar, mas imagine minha surpresa ao chegar a meia noite sem sinais de você? - Disse com um sorriso de orelha a orelha me dando a impressão de que minha pequena transgressão era aos seus olhos carinhosa.
- Perdão por isso, mas é que lá estava del... divertido - Me corrigi no último segundo sobre o seu olhar e sabendo que ao prolongar a situação poderia me entregar ainda mais resolvi dar de ombros e subir os degraus da escada.
- Delicioso mesmo é ver que a antiga Valentina dá sinais de volta - Não deixou passar minha madrasta assim que atingi de volta o chão plano e não a respondi porque a Valentina como todos conheceram, a Valentina que gostava de festas e álcool tinham morrido com meu pai e não porque sua morte o apagou e sim porque com ela entendi que eu o deveria fazer, a vida era curta demais para gasta-la de gole em gole que mais te matavam que outra coisa, no fim todos iríamos morrer, mas não significava que tínhamos que adiantar isso, e era bem o que eu costumava fazer com meu pai ainda aqui, o que me deixava sobretudo triste.
Balancei a cabeça de um lado a outro pretendendo esquecer a lembrança amarga a substituindo por uma morena mascarada que ainda tinha o gosto.
- Camila... - Disse no escuro testando cada sílaba na língua como sua pele naquele dia mais cedo, mas ainda não chegando onde queria - Juliana... - Sim, agora sim, poderia dormir a noite repetindo o nome que marcou minha pele no curso dela até pegar no sono.
Acordei no outro dia de manhã depois de sonhar com seu corpo vendo o lado da cama ao meu lado vazio e sorrindo para aquilo como não o fazia em muito muito tempo, tomando o celular em seguida pensando em escrever-lhe uma mensagem, mas apagando em seguida até que me dei conta de que mesmo que soubesse o que escrever não tinha como enviar, pois não havia pegado seu número na noite de sexta.
Levantei da cama me encaminhando a grande janela do meu quarto que se estendia do teto ao chão vestida com meu hobby negro de seda admirando a manhã, mas não vendo a hora da noite outra vez porque essa era uma boa desculpa para voltar a libidinus.
O quanto antes possível...
Capítulo curtinho, mas foi o que deu para escrever hoje que produzi muito entre entregas e atualizações de fanfic. Espero que tenham gostado e tentarei ser mais regular com essa história, enquanto isso, que tal elaborar teorias sobre o futuro dessa história?