A mudança é o único constante

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Valentina

Naquele sábado eu realmente acordei com toda a intenção de que chegasse a noite. Passei o dia contando minutos, olhando de volta pela janela para ver se o sol se punha mais rápido, mas nada no universo parecia conspirar com a minha pressa, ainda mais quando depois de me arrumar para sair enfim dou de cara com Lucho na sala da minha casa.

Retrocedi uns degraus e parei com os lábios entreabertos na metade da escada ainda mais estática quando o loiro avançou os passos que eu não parando a um degrau de mim quando alcei a mão para que se detivesse, ele e suas malditas margaridas.

- São para você - Me falou alçando-as a minha direção, mas como não fiz menção de toma-las ele simplesmente as abaixou.

- Lindas flores, também são as favoritas da sua noiva? - Nayelle era uma pessoa que sempre considerei como amiga, mas como costumava ser por algumas vezes, ela não me via da mesma maneira, se aproveitava dos meus bons sentimentos para ser popular as minhas custas, para participar das melhores festas, e como muitos outros acabou se afastando quando abdiquei de tudo isso, não esquecendo de levar meu namorado no meio disso, mas não que eu me importasse, porque se não o tivesse arrastado eu mesma teria o algemado em seu pulso para que desaparecesse com ele e não porque eu quisesse seu mal, mas porque não nos fazíamos bem mutuamente e os dois merecíamos alguém que fizesse isso por nós, como todos.

Da mesma maneira que eu pensava que existiam pessoas que deveriam estar juntas havia pessoas que definitivamente não, e eu e Lucho éramos uma dessas, o que só fazia dessa visita mais infundada.

- Ela não é minha noiva - Negou com a cabeça me olhando com sua típica cara de cachorro sem dono, a mesma que um dia me fez ceder aos seus desejos ainda que não fossem os meus.

- Mas certamente é sua namorada - Desviou o olhar do meu e fitou o chão sem saber bem o que dizer.

- É de você que eu gosto -

- Sério? E onde esteve esse gostar anos atrás quando eu chorava a morte do meu pai? Ou quando pensei em me matar? Onde esteve esse gostar quando terminou comigo no pior momento da minha vida? -

- Era pesado demais para mim também. Num dia você era a minha Valentina, uma mulher alegre, que gostava de sair e curtir a vida e no outro você era cinza e eu não te reconhecia mais, não pode me culpar por não ter segurado a onda quando ela também te levou Val - Seus olhos lacrimejaram e eu levantei o olhar para não precisar vê-lo nesse momento.

- Eu não te culpo. A única pessoa culpada nessa história é esse assassino que ainda está em algum lugar por aí dormindo noites tranquilas enquanto tirou a vida do meu pai. Mas você também não tem o direito de aparecer anos depois e me dizer essas coisas depois de tudo o que passei  sem você - Esclaresci tentando ultrapassa-lo, mas parando em sua má vontade.

- Isso quer dizer que fui importante? Que custou a me esquecer? - Perguntou levando a mão ao meu rosto, mas eu desviei do seu toque.

- Isso quer dizer que quando perdi meu pai eu também perdi você, mas nenhuma dessas coisas doeu tanto quanto perder a mim mesma e me ver sozinha quando aconteceu - Foi assombroso, me doeu como nada tinha doído na vida, mas eu encontrei forças em mim e na minha família, tudo o que me restou.

Tentei passar outra vez e nessa eu consegui tentando finalmente sair de perto dele e daquela casa, não fosse outra presença se impondo a minha saída.

- Valentina, vai sair? - Perguntou Eva, mas era claro que ela estava aqui, Lúcia não teria permitido a entrada de Lucho nem que tivesse trazido um jardim inteiro com as mãos, ela sabia de tudo o que aconteceu comigo, foi quem mais me apoiou quando meu pai foi embora e quem ficou comigo quando meu irmão se despediu da empresa e dessa casa, ela sabia muito mais de mim que minha própria irmã.

CamilaOnde histórias criam vida. Descubra agora