twenty three.

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         — ALGUNS MESES DEPOIS

Produtores gesticulavam eufóricos, membros da equipe técnica zanzavam de um lado para o outro, enquanto maquiadores e figurinistas não economizavam para deixar os grandes convidados da noite ainda mais deslumbrantes. Afinal, não era todo dia que um astro do rock e uma estrela de cinema apareciam juntos no "Robert Salmon Live".
Principalmente duas celebridades tão controversas quanto aquelas.
— Quero que as câmeras foquem mais meu lado esquerdo, Robert. É meu melhor ângulo. — A voz suave e o sorriso polido eram propositais, e ai de quem ousasse falar não para Sabina Hidalgo.
— Vamos logo! Façam o que a estrela pede!— Robert Salmon cuspiu as palavras para Louise Johnson, diretora executiva de seu programa. A mulher deu de ombros, já acostumada ao jeito autoritário do apresentador. — E Louise, pelo amor de Deus, pare de andar em círculos, está me dando nos nervos!
— Claro, Robert. Você entra em menos de um minuto. — A mulher pronunciou sem se deixar intimidar. Então nos instantes seguintes, o apresentador caminhou ao som de jazz tocado ao vivo por sua banda particular (a melhor de toda América, como os críticos costumavam dizer) fazendo a pausa proposital para que a plateia o ovacionasse seguindo indicações claras de um aviso de "applauses" em neon sobre o stage.
Sua voz grave e inconfundível ecoou pelo auditório lotado quando a música cessou:
— Boa noite, Estados Unidos! Boa noite, auditório! É um prazer tê-los conosco em mais um "Robert Salmon Live"! E no programa de hoje, receberemos um dos casais mais queridinhos de toda a América!

*

Nos bastidores do auditório, Noah estralava os dedos enquanto a equipe do programa fazia os últimos ajustes no microfone. Diferente de Sabina, o nervosismo do astro era tangível, algum desinformado poderia até dizer que aquela era a primeira aparição do rapaz em rede televisiva.
Hidalgo levantou-se depois que os maquiadores finalizaram seu trabalho: a pele tal qual a de uma boneca, perfeita.
— Incrível, Hugo! Eu não poderia ter ficado mais deslumbrante! — Disse depois de conferir seu reflexo no espelho do camarim. Ao que o maquiador sênior esqueceu as formalidades e a abraçou (com cuidado para não lhe borrar o rosto).
— Ma-ra-vi-lho-sa! Foi um dos meus melhores trabalhos, sem dúvidas. Claro que toda essa sua beleza natural já garante noventa e nove por cento do resultado. — Em seguida olhou para os lados e disse-lhe baixinho. — E sabe... sei que muitas pessoas te condenam, mulheres principalmente, mas acho muito corajoso e nobre a sua atitude. O perdão é algo divino.
— Oh, meu querido, obrigada, muito obrigada! É realmente importante saber que tenho seu apoio. — Sabina deu um beijo entre o ar e a bochecha do maquiador. Depois o homem saiu andando de um jeito afetado, não antes de lançar um olhar de condenação para Noah. Ao menos não foi um cuspe, nem um empurrão ou um xingamento. Com olhares de desdém, Urrea poderia lidar.
Sabina encarou Noah. E a risada que ela dirigiu-lhe após isso ardeu nos ouvidos do rapaz. Se ele pudesse ter um desejo atendido naquele momento, seria este: apertar um botão mute toda vez que Hidalgo ameaçasse abrir a boca.
— Você está tão lindo, docinho... — Sabina correu as mãos frias pelo colarinho da camisa do namorado. — Posso confiar que não vai estragar tudo?
Noah semicerrou os olhos.
— Por que eu estragaria?
— Porque às vezes sinto que não gosta de mim de verdade. — Ela fez um beicinho e piscou seus cílios postiços de borboleta prestes a alçar voo.
— Quanta desconfiança, docinho. — Ele contrapôs irônico. Alfinetavam-se com tanta frequência que nem se lembrava como era tratar a atriz de forma diferente. — E eu não tenho cumprido o contrato a risca?
— Sim... mas não queria precisar de cláusulas contratuais para garantir que você não escapasse de mim. — Sabina bateu o indicador na ponta do nariz de Noah, que não esboçou nenhuma reação. — Prometa que vai continuar ao meu lado?
— Não é como se eu tivesse outra opção, hum? — Ele respondeu soturno.
Ao que Sabina balançou a cabeça pesarosamente:
— Ah, Noah, meu querido Noah... Sabe? Talvez você venha a me amar com o tempo. E então nós ficaremos juntos como sempre deveria ter sido, sem precisar de nenhuma letrinha miudinha redigida em papel. — Endireitou-se quando avistou Louise Johnson com o walk talk na mão:
— Estão prontos? Já posso anunciar?
— Mais prontos do que isso, impossível! — Sabina disse exibindo os dentes, Noah apenas elevou as sobrancelhas um meio centímetro para confirmar. No outro instante, escutaram o anúncio entusiástico do apresentador:
— Recebam Sabina Hidalgo e Noah Urrea!
A plateia foi ao delírio e Robert deu cambalhotas por dentro. Sabia que a audiência do programa iria disparar. Seus patrocinadores renovariam contratos e "Robert Salmon Live" seria assunto pelas próximas horas em todas as redes sociais.
Sabina entrou deslumbrante. Usava um vestido rosa bebê justo o suficiente para fazer com que todas as mulheres do auditório desejassem ter a sua silhueta. A inocência da peça estava apenas no nome da cor. Noah tentou ser amistoso, mas não tinha certeza se estava convencendo. De qualquer forma, os aplausos superaram as vaias. Um público bem treinado para não ser tão impiedoso assim.
— Sentem-se, meus queridos! Sentem-se! — Robert indicou uma poltrona no cenário mobiliado de forma a lembrar uma sala de estar aconchegante. E se não fosse pelo excesso de câmeras, microfones pendentes, (e principalmente Sabina Hidalgo sentada ao seu lado), talvez Noah até tivesse se sentido confortável.
— Boa noite, América! — Hidalgo gritou animada e recebeu a resposta da plateia de volta. A mulher esbanjava carisma. — É um prazer estar aqui, Robert.
— O prazer é todo meu! E estou honrado que o "Robert Salmon Live" seja o primeiro programa dos Estados Unidos a receber o casal, juntos!
— Oh, Robert — Sabina colocou a mão sobre a do apresentador e declarou com a voz serena — você sempre soube que quando as coisas tranquilizassem, esta honra seria toda sua.
A plateia aplaudiu e o olhar de Noah perdeu-se sobre os próprios sapatos. Salmon esperou o barulho cessar, reajeitou os óculos que insistiam em escorregar pelo dorso do nariz e cruzou as pernas revelando o pedaço de uma meia escura que combinava com o terno risca de giz escolhido para aquela grande noite.
— Então, sem rodeios, vocês dois não só ignoraram todos os tabloides e redes sociais quando declararam ter reatado depois de... bem... depois dos acontecimentos, — A língua de Robert coçou. Quis citar o incidente envolvendo os astros da noite, mas sabia que se fizesse isso estaria descumprindo o único motivo pelo qual ambos concordaram em ir ao programa — como também deram a volta por cima. E agora, Noah Urrea e Sabina Hidalgo estarão juntos em "Five Months of Love", superprodução de James Taggart que estreia na próxima semana em cinemas de todo mundo.
— Sim, demos mesmo a volta por cima. — Um sorriso seguiu-se a declaração de Sabina.
— Fico feliz que tenham. — Robert disse automaticamente, como se a resposta da mulher fosse um mero acessório a preceder a fala de Urrea, depois se virou para o músico. — Noah, esta foi sua primeira experiência como ator e já teve a oportunidade de viver um personagem complexo no cinema. O que sente em relação a isso?
Urrea deu de ombros antes de dizer:
— Minha participação nem é tão grande assim, sou apenas um coadjuvante no filme, Robert. As verdadeiras estrelas são Sabina e Adam Grant.
Em algum lugar dos bastidores, Louise sorriu orgulhosa, não era segredo que a assistente de Robert e Grant eram um casal. O apresentador ignorou o jeito meio grosseiro com que o vocalista disse aquilo e contrapôs com um olhar atento:
— Certo, mas quem já assistiu à pré-estreia disse que você está brilhante no papel e que não seria surpresa alguma indicação.
— Talvez eu esteja brilhante porque o personagem é um alcoólatra com problemas para se ajustar. Algo que desempenho bem na vida real, de acordo com a mídia.
Noah Urrea nem viu quando falou as palavras, mas ao invés de criar um desconforto geral, o público gargalhou. O sorriso demorou um tempo para surgir nos lábios de Sabina, mas apareceu. No fim, o vocalista também sorriu, hesitante.
— Oh, querido, você está sendo modesto! — Sabina lançou um olhar apaixonado para Noah. Garotas suspiraram na plateia. Ele ainda tinha suas aliadas, afinal. Então a atriz voltou-se para Salmon — Robert, o Noah tem um talento nato para atuar. E acho que não seria demais dizer que ele está sem beber há nove meses.
Por um breve momento, Urrea pensou em dar o pior dos olhares para a atriz. Mas controlou e apenas sorriu bem treinado para as câmeras.
— Ah! Parabéns! Meus parabéns! Isso merece uma salva de palmas, não é auditório? — Robert disse e o público o fez, Noah claramente constrangido. Não queria que aquilo fosse de domínio público. — O personagem teve influência para isso?
— Acho que várias coisas influenciaram minha decisão. — Noah disse deixando as coisas subentendidas. — Mas, claro, o papel ajudou.
— Muito bom. Então podemos esperar mais filmes com Noah Urrea? E quem sabe, numa próxima vez, vocês atuando juntos como os protagonistas?
— As chances de que isso venha a ocorrer são grandes. — Hidalgo deu uma piscadinha e Urrea resistiu à vontade de perguntar se seria em algum filme de terror em que ele a matasse no final. Rá-rá. Mas certamente ninguém acharia engraçado.
— Bem, outra coisa que preciso saber... ouvi boatos de que estão dispostos a juntar os trapos definitivamente. É verdade ou seriam apenas fofocas? — disse Robert, na melhor versão de si mesmo e pelo que era conhecido: colocar os famosos em saias justas.
Noah deu um sorriso temeroso, sentindo o rosto corar. Sabina, que se divertia com a pergunta e mais ainda por colocá-lo naquela situação, quebrou o silêncio:
— Claro que são fofocas, ou então eu seria a primeira a saber, não é, Noah? — A plateia ficou acalorada e Urrea recebeu um beliscão da garota que se fosse traduzido em palavras significaria: "fale alguma coisa".
— Bem... Talvez eu ainda esteja pensando em como surpreendê-la. — a declaração do músico fez a plateia ir ao delírio e Robert viu as altas cifras reluzirem em sua conta bancária.
— Vejam só! Vejam só! Estou fazendo o papel de casamenteiro! Então, Noah, podemos dizer que as últimas notícias que saíram na mídia sobre sua vida um tanto... boêmia... — Robert sendo Robert novamente.
— Era minha despedida de solteiro... — o autor fez uma pausa intencional na sua fala — prolongada.
E o público rolou de rir quando Sabina fingiu puxar a orelha do músico após aquela declaração cheia de ironia.
— Ah, claro! Ficar com uma garota como Sabina Hidalgo pode ser um pouco intimidador, não?
A mente do astro aquiesceu em silêncio à pergunta do apresentador: "Ah, sim... no pior sentido da palavra." Mas foram palavras falsas as que saíram de sua boca: — Lógico! Vejam esta garota: ela é linda, inteligente, talentosa... ok, Robert, pode parar de olhar — Salmon levantou as mãos como um sinal de trégua e o público riu novamente. — Não sou um santo. Cometi muitos erros no passado por causa da bebida e outros excessos... mas tive o perdão da Sabina e juntos superamos isso. Não seria louco de trocá-la por qualquer outra.
O beijo que Noah deu no rosto da atriz fez o auditório ser tomado por novos suspiros apaixonados.
— Obrigado por estar ao meu lado, querida.
Aquilo sim era uma atuação digna de um Globo de Ouro.
— Entendi o aviso, mas seria uma concorrência desleal: eu contra você, não acham? — A plateia negou e Robert fingiu cara de decepção. — O que há com vocês? São minhas telespectadoras, esqueceram-se? E o que as mulheres veem em cantores de rock? Tudo bem que Noah é boa pinta, tem este olhar penetrante e cabelos bagunçados... mas... o que eu estou dizendo!? Vou parar antes que questionem a minha sexualidade!
Todos no set gargalharam, até Louise esboçou um sorrisinho torto e esqueceu por um minuto suas diferenças com Salmon. Por consequência, Noah também se sentiu mais calmo, finalmente entrando no jogo.
— Obrigado. Você também não está nada mal, Robert. — Disse confortando o apresentador.
— Posso então fazer uma última pergunta?
— Sim, sem problemas. — O cantor falou tranquilo mesmo sabendo que quando Robert Salmon pressagiava a si mesmo dali não poderia sair boa coisa.
E ele estava certo. No telão central do auditório, uma sequência de fotos suas ao lado de Sina eram mostradas para toda a América. Os dois na lanchonete em Denver. Meu Deus... Fotos tão antigas... Ao menos o rosto da garota não estava nítido em nenhuma delas e Urrea agradeceu por isso. Como se não tivesse feito estrago suficiente, Salmon continuou com o que de repente deixara de ser um programa de auditório para se transformar em um júri popular:
— Essa moça misteriosa então foi um caso que ficou no passado?
O coração de Noah apertou e seus lábios não emitiram nenhum som. As câmeras agora focavam o rosto de Sabina que desempenhava o papel de vítima com maestria. Até conseguiu fazer com que os olhos enchessem-se de lágrimas. Bravo. Uma atriz estupenda. Robert ofereceu-lhe um lenço ao mesmo tempo em que dirigiu um olhar de reprovação para Urrea.
— Parece que um gato comeu a língua do vocalista da Chump Change... Ou seria um tigre? — Pessoas riram do trocadilho e Salmon balançou seu sapato caro fingindo impaciência, mas no fundo, adorava o fato dos astros estarem excedendo o tempo estipulado no contrato. — E então, Noah?
O sonoplasta resolveu colocar uma musica dramática transformando aquilo num show de horrores para o músico. O burburinho crescia entre os telespectadores.
E ele exalou forte o ar antes de dizer:
— A garota destas imagens... foi um erro. Só há uma mulher em minha vida. E esta mulher é Sabina Hidalgo.
*
Já estava escurecendo quando a limusine do programa os levou de volta para a casa em Bel Air. O interior do veículo lembrava uma sala apertada de consultório dentário e cheirava a aromatizante floral. Noah abriu o frigobar recheado de cortesias do "Robert Salmon Live" e sentiu uma leve ansiedade quando viu garrafinhas de uísque enfileiradas, mas foi forte e escolheu água. Sorveu o líquido de uma vez e ficou olhando para o copo vazio antes de encarar Hidalgo:
— Muito bem. Que merda foi aquela, Sabina?
A atriz levantou os olhos do celular e arqueou as sobrancelhas, sem entender:
— Hum? Do que está falando, docinho?
— A intenção em participar deste maldito programa era melhorar minha imagem, não piorar as coisas. — Noah falou baixo, mas claramente zangado.
— Noah, querido, quer ser mais específico? — A garota tampou os lábios pintados com exatidão artística e deu uma leve desequilibrada no banco quando o motorista passou por um buraco na pista.
— Você pode ser muitas coisas, Sabina. Menos burra. A insinuação de um pedido de casamento, as fotos da Sina. Quer que eu acredite que aquele pamonha do Salmon teve todas essas ideias sozinho?
Sabina bufou. Retirou um espelhinho da bolsa Celine e conferiu a maquiagem. Tudo ainda impecável.
— Ora, pense o que você quiser.
— Sim, eu estou fazendo isso. E o que eu penso neste exato momento... é que você quer continuar me ferrando mesmo depois de tudo. — O homem continuou encarando até que ela largasse o espelho e o olhasse. — Por que diabos, Sabina?
Ela aspirou forte o ar.
— Ok. Se precisar que eu explique, eu explicarei.
Urrea ofereceu-lhe um sorriso falso. Pegou uma trufa no barzinho improvisado e jogou na boca. Chocolate ajudava a lidar com a abstinência do álcool.
— Sim, eu preciso.
A mulher colocou o celular na bolsa e subiu a divisória da limusine. Deu um suspiro bem longo, após o qual começou a dizer:
— Sempre soube que você não era do tipo que se apegaria fácil. Mas, puxa, pensei, tudo bem, se no final for eu a garota mais importante da vida dele, não me importarei com essas groupies que querem seus quinze minutos de fama. — Sabina disse dramática. — E então aquela professora aparece e você me humilha. — Seu tom evoluiu para algo que lembrava uma ameaça, era como se tivesse interpretando vários personagens dentro da sua historinha. —A leva para festas públicas, a convida para sua casa e até viaja para encontrá-la! — De repente estava gritando. — Eu, Sabina Hidalgo, uma atriz de renome, trocada por aquele ser insignificante! Como acha que eu me senti, Noah?
Quando ela terminou de falar, o músico ficou tentando entender o que se passava na cabeça dela. Deus...
Que quebra-cabeça complexo.
— Eu me apaixonei, Hidalgo. — Urrea disse. — A finalidade não era te prejudicar. Nunca foi. Não tinha necessidade de mostrar fotos de um relacionamento que ficou no passado.
—No passado? Interessante, porque algumas vezes, você diz o nome dela durante a noite.
Mas o quê?! Noah sentiu o rosto corar. Dizer o nome de uma mulher enquanto dormia ao lado de outra? Seu subconsciente era um filho da puta que não tinha apreço à própria vida.
Além disso, já fazia quase um ano... ele não deveria estar pensando naquela garota, não mais...
Sabina continuou, retirando-o de seus pensamentos:
— Por isso, achei por bem mostrar ao Salmon e ao público aquelas fotos. — Ela abriu o mesmo tipo de sorriso de quem acaba de receber uma boa notícia. — Não é interessante como a sociedade tende a se rebelar contra cretinos traidores, Noah? E proteger a mim, mulher, o sexo frágil da história? As coisas sempre serão assim... E não se esqueça de que ainda estamos tentando reerguer a sua moral perante a mídia.
Noah parecia estar diante de outra pessoa. Toda a suposta candura e controle de Hidalgo haviam desaparecido.
Ele quebrou contato visual, mas sentiu quando a atriz tomou assento ao lado dele. Empertigou-se uns centímetros, distanciando-se dela.
— Noah... eu só quero que você me ame. — Disse com as mãos sobre as dele. — Quero que você esqueça de uma vez por todas as outras garotas, aquela garota e em troca eu serei tudo o que você quiser. É pedir muito? — Agora a atriz falava como uma criancinha que precisava de proteção, seus olhos translúcidos de pedra preciosa, embargados. Era incrível como sofria várias alterações de humor em pouco tempo.
Urrea cerrou as sobrancelhas, os olhos estreitados para garota:
— Qual parte da lição sobre o amor você faltou, Sabina? Não é assim que as coisas funcionam. Eu não posso amar você só porque está me pedindo.
— Mas você já me amou uma vez.
O músico nem hesitou ao dizer:
— O que tínhamos não era amor, nós nos encontrávamos para sexo casual, apenas isso.
— E você sempre queria repetir. Não entendo porque me evitar agora que estamos oficialmente juntos. — A voz de Hidalgo tornou-se melosa e sugestiva. — Lembra o que costumávamos fazer no carro?
Então Hidalgo resolveu dar-lhe um ótimo refresco para a memória: ajoelhou-se entre suas pernas, as mãos prestes a desabotoar-lhe as calças. Em outra época, a cena teria deixado Noah Urrea subindo pelas paredes.
Segurou as mãos dela antes que terminassem de descer o zíper.
— Sabina, isto não vai funcionar. Sinto muito.
A garota piscou bem devagar.
— Tem a ver com o fato de não estar bebendo, Noah? — Ela disse tentando ser compreensiva. — Eu li sobre o que a abstinência pode fazer com...
Noah a interrompeu:
— Não, Sabina, não tem a ver com a bebida.
A atriz parou. Encarou o músico com olhos arregalados e lábios semiabertos. Noah esperou que ela fosse chorar, gritar, arremessar algumas das comidinhas que estavam sob o frigobar (ou todas essas opções juntas). Mas Sabina apenas voltou para o seu lugar, sentou com as pernas cruzadas, e sorriu comportada.
— Tudo bem, Noah, eu sou paciente. Não vou desistir de nós dois. Eu e você fomos destinados um ao outro. E você vai me amar... Ah, se vai. — Disse e deu uma piscadinha para ele. Noah grunhiu baixo, o maxilar tenso:
— Cristo... você é maluca.
— Maluca por você. — Ela lançou-lhe um beijo no ar. Apoiou o rosto na mão e o encarou com olhos brilhantes de paixão doentia.
O carro agora subia as colinas de Bel Air, era perceptível como a temperatura caia alguns graus e conferia ao lugar arborizado a mesma sensação térmica de um ambiente refrigerado. Construções suntuosas passavam pela janela da limusine como tomadas cinematográficas, lares milionários que aparentavam pertencer a pessoas felizes e de vidas perfeitas.
Só aparentavam.
O rapaz teria suspirado aliviado por estar tão próximo de casa, se esse também não fosse o destino de Sabina. Ela virou-se para ele quando os portões terminaram de abrir, a limusine adentrando os jardins bem cuidados:
— Não vê o quanto funcionamos bem juntos, docinho?
Urrea sorriu sombrio.
— Claro. — Você me ferrou, eu te ferrei: somos uma dupla de fodidos.
Formavam mesmo o par perfeito.

Don't Talk To Paparazzi - noart adaptation Onde histórias criam vida. Descubra agora