twenty five.

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                       DIAS ATUAIS

Josh parecia decepcionado. Ainda assim, os lábios expressaram um meio sorriso para convencê-la do contrário. Sina também sorriu para tentar esconder o desespero: sobre o criado-mudo ao lado da cama, dois convites para a estreia do filme de Sabina Hidalgo e Noah Urrea. Ela engoliu em seco. A garota precisava ter uma conversa séria com a central de controle do destino.
— Tem certeza de que não quer ir? — Josh perguntou. — Achei que gostasse desses filmes de mulherzinha.
— Bem... acho que o senhor me subestimou. Talvez eu não seja tão mulherzinha assim.
Josh arqueou uma sobrancelha provocando:
— É... eu deveria ter deduzido que filmes de ação e violência fazem mais o seu tipo.
— Isso mostra que você não conhece tanto assim sua namorada. — Sina zombou fitando os olhos azuis do rapaz, mas sua risada saiu trêmula. Foi até o armário e começou a mexer nas roupas a esmo, só para ganhar tempo até que o sangue voltasse a circular. Virou-se quando a mão de Josh contornou-lhe a cintura. Ele então a levantou até que os lábios dela ficassem à altura dos seus.
— Talvez se minha namorada tivesse mais tempo para mim e não se esquivasse tanto... eu poderia saber mais sobre ela.
Oh...
Mesmo que fosse um mauricinho egoísta (palavras de Heyoon), Sina conseguia ver virtudes em Josh. Era divertido, carinhoso e... lindo. Tinha uma graça quase angelical, ainda que o corpo esguio fosse mais um incentivo para o pecado do que qualquer outra virtude celeste. Ela podia se considerar uma garota de sorte.
— Quem mandou escolher uma nerd? Trabalho é meu sobrenome. — Sina deu-lhe um selinho rápido, depois olhou para o chão, um indicativo sutil para que ele a colocasse de volta. O homem atendeu-lhe, não antes de oferecer um sorriso torto.
— Mas essa garota nerd pode muito bem arrumar um tempo para o namorado... — insinuou — a começar por um almoço com os sogros este fim de semana.
Sina sentiu um frio na espinha em pleno calor que fazia em Berlim naquela época do ano. Josh concentrou uma sequência de beijos no pescoço da namorada com a clara intenção de embarga-lhe os pensamentos. Ela deu um passo para trás. Josh suspirou.
— Sogros? Não acha que ainda é muito cedo para isso? — Sina respondeu evitando o olhar exigente do rapaz que não estava disposto a desistir.
Josh bufou.
— Cedo? Não aguento mais minha mãe e seus interrogatórios. Todos querem conhecer a garota que me colocou nos eixos.
— Eu fico honrada em ser a responsável por fazer de você um rapaz mais decente, mas realmente acho que devemos esperar mais um pouco. Envolver os pais implica em um passo sério. — Ela disse. — Ei, quer ver um filme na Netflix?
Belo jeito de desviar o assunto.
Josh cerrou os olhos. Cruzou os braços e sentou-se na beirada da cama. O esplendor do homem não combinava nenhum pouco com o cômodo de paredes mofadas. Algo entre raiva e desapontamento ardeu em seus olhos antes que perguntasse:
— Tá legal. Qual é o seu problema?
Sina piscou duas vezes. Surpreendendo-se com o tom repentinamente agressivo do rapaz.
— Por que está falando comigo desse jeito, Josh?
— São as suas evasivas, Sina. A impressão que tenho é a de que você só quer se envolver até certo ponto e se eu tento dar mais um passo, dá um jeito de fugir.
Da janela do quarto, podia-se ouvir o barulho irritante de buzinas. Um engarrafamento condizente com o horário de pico: fim de expediente para a maioria dos alemães. Sina fechou o vidro, depois se virou para o namorado com um leve balançar de cabeça. Mas a quem queria enganar? Era óbvio que Josh tinha razão. Tão óbvio quanto o fato de que jamais poderia admitir isso.
— Você está exagerando.
— Estou? Então prove. E almoce na minha casa este fim de semana. — Ele desafiou e fez aquela coisa de arquear só a sobrancelha direita novamente. Sina costumava adorar o gesto, mas naquele momento só o que sentiu foi uma leve irritação.
— Tá, tudo bem... — Ela disse com a desculpa já na ponta da língua. Era algo tão automático que não conseguia controlar. — Mas esta semana não vai dar, tenho um pacote de provas para corrigir. E também preciso enviar aquele artigo para a revista que te falei e...
Ele revirou os olhos.
— Já entendi. Você não quer conhecer meus pais, não quer ir ao cinema comigo... A propósito, sabe como foi difícil conseguir estes convites? A Any disse que está tudo esgotado.
Any...
"Any" era Any Gabrielly: a secretária do escritório publicitário em que Josh trabalhava. Sina não a conhecia pessoalmente, mas o nome surgia esporadicamente nas conversas, o que deixaria qualquer outra garota com um pingo de autopreservação no mínimo enciumada. Alguém por favor, avise o rapaz que a única abreviatura de nome feminino que pode sair dos lábios dele é o da namorada. E talvez o da genitora. Ninguém mais.
— Difícil de conseguir, é? Aposto que os ganhou em troca da publicidade que faz para o shopping. — Ela disse na defensiva.
— A questão não é essa.
— Leve a Any Gabrielly então. — Sina falou e até tentou fazer uma ceninha para deixar o suposto ciúme mais verossímil.
— Ah, ela certamente iria adorar. — Josh falou incrédulo, e isso deveria ter acertado o coração da garota como uma lança.
Mas Sina não sentiu nada.
O rapaz a olhou por tempo necessário para tomar a decisão. Então pegou a carteira sobre o criado-mudo e saiu do quarto, mas deixou as porcarias dos convites. Tudo bem. Sina poderia queimá-los num ritual de vodu mais tarde. Só quando escutou a porta da sala batendo, foi que o pouco de bom senso que ainda lhe restava ordenou: "vá atrás dele. Já."
Correu descalça pelo corredor e agradeceu pela primeira (e certamente última vez) o fato do elevador do prédio demorar uma eternidade para chegar ao seu andar. Josh ainda esperava no hall, e Sina respirou aliviada.
— Josh, por favor, não vá embora. — Ela disse baixo para o caso das paredes terem ouvidos e interessarem-se por brigas de casal. — Eu sinto muito.
— Bem, Sina. Quer saber? Foda-se. Está bastante claro que eu dou muito mais importância ao nosso relacionamento do que você.
A porta do elevador abriu para logo apitar impaciente. Sina abraçou Josh, mas os braços do rapaz permaneceram abaixados. Nada de reciprocidade.
— Não, é verdade, Josh. É só que... você sabia, quando começamos a namorar eu disse que ainda estava fragilizada.
Josh expirou, irritado.
— Sina, pelo amor de Deus! Já tem três meses que estamos juntos, e quase um ano que esse seu ex sumiu do mapa.
Bem, talvez se Josh soubesse a identidade do ex em questão, não trouxesse convites para filmes estrelados por ele para dar a Sina.
— Dez meses. — Ela o corrigiu.
— Que seja. — Josh revirou os olhos. — Todo mundo já levou um fora na vida, e passou da hora de você superar isso. Porque a verdade, é que eu estou bem cansado de ser o cara que está substituindo outro.
Sina exalou forte o ar. No final do corredor, uma porta abriu um tanto suficiente para permitir que alguém espiasse.
— Ei. Você tem razão. — Ela apertou a mão do rapaz. — Eu... quero fazer isso funcionar.
— Quer mesmo?
— Quero. E nada melhor do que um cinema na sexta, e no sábado podemos almoçar com seus pais — abriu um sorriso, mordendo o lábio, receosa antes de propor — mas prometa que vai achar um filme melhor.
Ele sorriu de lado e balançou a cabeça, afundando os dedos nos cabelos lisos com pontas ondulados. Bom sinal. Sina teve certeza de que aquilo era um indicativo de que seria perdoada.
— Tudo bem. Te pego às sete?
Ufa.
— Sete e meia — Ela falou categórica — quando é para sair com o meu namorado, eu gosto de me arrumar como mulherzinha.
O sorriso de Josh começou tímido, mas de repente tomou seu rosto: o segundo sorriso mais bonito que a garota já conhecera (nenhum segredo a quem pertencia o pódio). Deus... Seria tão mais fácil se o coração dela aceitasse o que seu cérebro já entendeu há tempos...
Então se permitiria gostar de quem realmente se importava com ela.

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