twenty nine.

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Sina marcou com Josh na cafeteria de costume, a que ficava entre o trabalho dos dois. Daquela vez não dispensou o cardápio. Sempre teve vontade de experimentar algo diferente da combinação expresso com pão de queijo, e era bem provável que não voltasse ali durante um bom tempo. Talvez nunca mais voltasse. Via as coisas assim: em qualquer rompimento, cada uma das partes tinha direito a uma porção das coisas que construíram juntos. E foi Josh quem descobriu a cafeteria. Ele poderia ficar com ela.
— Oi, doçura. — Ela sentiu o beijo sob sua têmpora. Josh arrastou a cadeira e sentou-se de frente, bem no lugar que Sina achou que o publicitário se sentaria. Ele estava com uma de suas camisas sociais caras e rescendia ao perfume cítrico usual.
— Oi. — Respondeu de volta, a voz baixa o bastante para que nem ela própria se ouvisse direito. De repente, deu-se conta de que aquilo seria só dez vezes mais difícil do que imaginou.
Seu mocaccino especial chegou logo em seguida. Não encontrou apetite para saboreá-lo. A garçonete perguntou ao rapaz se ele já queria pedir. E Josh escolheu expresso. Previsível ao extremo. O homem não se arriscava.
— Ei. — Josh disse e, por debaixo da mesa, Sina sentiu o sapato dele cutucar seu pé. — Nem me esperou, hein? Está com pressa?
— Não, só não sabia quanto tempo iriam demorar para fazer. É uma bebida mais sofisticada do que um expresso.
A voz dela falhou. Mas o rapaz não percebeu, em seguida revelou os dentes brancos que contrastavam com a pele:
— Sofisticada igual à minha linda namorada.
Uma risada tímida tremulou no rosto da garota. Sorrisos de propaganda dental e elogios agora não iriam ajudá-la. Nem o que viria em seguida.
Josh empertigou-se na cadeira, apoiou os cotovelos na mesa, as mãos forneceram apoio para o queixo. Uma alegria intensa tomava conta do seu rosto.
— Sina, estou ansioso para contar. Achei que deveria esperar até dia dezessete porque poderia fazer disso uma surpresa, mas não consigo ficar de boca fechada até lá. — Parou retomando o fôlego. — É bom demais, gata.
Com o olhar atento, ela esperou que Josh continuasse. Sentia o copo de mocaccino queimar suas impressões digitais. Apertou mais forte. Naquele momento a dor funcionava como um tipo de aliada.
— A agência vai abrir uma filial em Santiago. Querem que eu treine o pessoal de lá. — O rapaz deu um sorriso, esperando algum comentário.
— Que bom... E por que queria esperar dia dezessete para me contar?
Josh a encarou, surpreso, depois começou a rir. Sina ficou tensa.
— Poxa, doçura. É bem engraçado que só eu lembre as datas. — Deu um tempo para ver se Sina adivinharia sozinha. Não adivinhou. Josh fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, eles brilhavam. — Dia dezessete fazemos cinco meses.
A garota continuou em silêncio e ainda mais confusa. Alguém traga um especialista em entrelinhas porque eles não estavam se entendendo.
— Ah, claro. Você não fez a conexão, mas lá vai: quero que vá comigo. — Josh bateu as mãos abertas sobre a mesa como um jogador felizardo de pôquer. — Pense nisso como um presente de namoro. E também... um pedido de desculpas. Sei que fui um idiota, falei as coisas erradas, fui egoísta... quis mudar você, sendo que você já é perfeita do jeito que é.
Sina sentiu seu estômago embrulhar. Não soube mais o que dizer, as palavras do homem dançavam em sua cabeça e embaralhavam tudo o que havia preparado.
— Uau... — Ela forçou um sorriso. — Ir com você para o Chile? Assim, do nada?
— Será apenas um mês. E é em janeiro. Coincide com as férias escolares, não?
Ainda era inconcebível para o rapaz que a garota não tivesse se alegrado nenhum pouco. Cinco bancários, quatro homens e uma mulher, entraram na cafeteria. Sina distraiu-se por alguns segundos.
— São as férias escolares, mas... — Ela podia sentir o sangue queimando nas bochechas.
Josh apertou a mão dela, massageando o dorso com o polegar.
— Não se preocupe com o dinheiro. Eu te dou as passagens. A empresa vai fornecer o apartamento. Tudo o que você precisa fazer é ser minha linda acompanhante.
Pronto: ele a deixou totalmente sem alternativa.
Seu mocacinno de três camadas esfriava ainda intocado. A garçonete deixou o pedido de Josh sobre a mesa. Sina aproveitou o momento em que o rapaz desacelerou para dizer:
— Josh, a gente precisa conversar.
— Hum? Achei que já estivéssemos conversando. — Ele falou com a boca cheia.
— Eu não vou com você para o Chile.
Pode ter sido apenas impressão, mas pareceu que o rapaz realmente não chegou a cogitar que Sina fosse recusar a viagem. Ele pigarreou depois que tomou um gole do expresso, havia uma leve tensão na voz:
— Por que tenho a sensação de que não vou gostar desta conversa?
— Não está dando certo para mim. — Ela lançou de uma vez. Nada do pequeno discurso que havia ensaiado no caminho. Se fosse médica, não deveria ser atribuída de dar notícias a doentes terminais. Josh cerrou os olhos tentando entender. Na verdade, processando a informação. Ela havia sido clara o suficiente.
— Você está querendo terminar?
— Eu não estou querendo, eu... estou terminando. E não é nada com você. Acho que...
Ele soltou o cafe e fez um sinal para que ela não dissesse mais nada. Era uma expressão que Sina nunca tinha visto no rosto do homem. A fez se sentir desprezível.
— Para, Sina.
Achou que Josh não cobraria maiores explicações, mas a pausa foi só para puxar fôlego:
— Por quê? Por qual motivo você acordou e simplesmente decidiu isso?
Josh falava baixo (telespectadores demais), mas o maxilar estava tenso. Términos em cafeterias lotadas não eram uma boa ideia. Ou eram. Evitava gritos desnecessários e outros excessos.
— Não foi algo que eu decidi hoje, Josh. — Sina tentou ser firme, mas sua voz oscilava. A garganta ardia a cada palavra. — Na verdade eu venho pensando sobre há um tempo.
E a ligação de Noah alguns dias antes não teve nada a ver com isso. Com certeza não.
— É por causa de algo em especial?
— É por causa de muita coisa.
Ele apertou o próprio rosto contra as mãos, expirou, então segurou o braço dela. Tudo levava a crer que partiria para o apelo emocional:
— Não, doçura. Ei... íamos tão bem. Por favor, Sina.
Ele realmente estava implorando. Não eram só suas palavras, também estava nos olhos dele. Sina não imaginou que um homem como Josh fosse implorar. Se metade das mulheres daquela cafeteria soubesse que o loiro com pinta de galã global acabara de ficar solteiro, ele não passaria pela porta sem levar uma dúzia de número de telefones.
— Joshua, não faça isso.
Ele arregalou os olhos.
— Puxa. Você já está me chamando de Joshua.
— Josh, eu...
— Há quanto tempo, hein? Há quanto tempo estava pensando em terminar?
— Já tem algumas semanas... na verdade... quase um mês que...
O homem balançou a cabeça devagar, um nó de tensão parecia prestes a estourar no seu rosto.
— Um mês? Nossa... Parabéns. — Sorriu sarcástico. — Um mês... Você fingiu muito bem durante esse tempo. Deveria ser atriz. Seus orgasmos deste mês foram fingimento também?
Josh falou alto o bastante para que a mesa ao lado olhasse e começasse a cochichar. Sina ficou vermelha.
— Josh, por favor, não precisamos disso.
— Não, Sina, eu não preciso disso. Eu, realmente não preciso disso. — O homem deve ter repassado um sem-número de mulheres que dispensou para ficar com a garota. Justo. Levantou o indicador quando a garçonete entregou dois frappuccinos na mesa ao lado. Fez um sinal para que ela viesse. — A conta, por favor.
— Pode deixar que eu pago. — Sina prontificou-se e colocou suas mãos sobre as dele.
Ele a olhou com repulsa. Puxou o braço quebrando o contato.
— De jeito nenhum. Aliás, — tirou uma nota de cem da sua carteira grifada e a jogou na mesa — diga para a garçonete ficar com o troco.
cinco dólares teriam sido mais do que suficientes para quitar a conta e ainda deixar uma gorjeta generosa, mas claro que ele sabia disso. Foi um golpe baixo, com o único propósito de diminuir a, agora, ex-namorada.
— Eu sinto muito. — Tão logo disse, Sina soube que realmente era desnecessário falar que sentia. Na verdade, era algo inconveniente de se dizer.
A boca dele se abriu, parecia que iria falar alguma coisa, mas acabou desistindo. Apertou os olhos por breves segundos, depois se virou e simplesmente foi embora.
Sina acompanhou a porta se fechando atrás dele, imaginando como teria sido se os papeis daquela tarde estivessem invertidos.
Muito provável que não sentisse nada.
E também bem provável que, se abrisse sua bolsa agora, não encontrasse nenhuma nota de cem na carteira.

Don't Talk To Paparazzi - noart adaptation Onde histórias criam vida. Descubra agora