thirty three.

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Sina conseguia apontar quatro motivos para justificar a viagem de última hora até Hamburgo.
Motivo número um: saber que a banda do ex iria fazer um show épico na capital.
Motivo número dois: receber dezenas de mensagens do outro ex dizendo que algumas tralhas esquecidas há meses no apartamento dela, de repente eram tão essenciais para a sobrevivência do homem que ele não poderia esperar até segunda para pegá-las de volta.
Muitos falecidos no mesmo dia. Berlim estava particularmente hostil aquele sábado.
Uma cadeira arrastou contra o assoalho de madeira e uma garota prestativa levantou-se logo em sequência:
— Senhora Alex, deixa eu te ajudar com os pratos. — Heyoon disse. A mãe de Sina acabara de impressionar a visita com uma receita de família saborosa. Heyoon repetiu duas vezes.
Motivo número três: quando a melhor amiga, roqueira convicta, abdica de ir ao show da Chump Change para lhe fazer companhia. Ônus que devem ser suportados em prol da amizade.
— Imagina, Heyoon! — Alex falou.— Fique sentadinha aí que vou trazer a sobremesa.
— Er... vocês querem ir para a sala, ver se tem algum filme legal na Neflix? Aliás, qual seu tipo de filme preferido? — A pergunta de Peter foi direcionada para Heyoon. Ele agia de um jeito estranho. Nenhuma dúvida que a camisa de gola e as borrifadas a mais de perfume tinham relação com a convidada, a quem o garoto encarava como se fosse um aperitivo.
— Ficção Científica! Mas também curto muito terror, suspense, aventura... — Ela lhe respondeu. Mexia excessivamente no cabelo, olhos brilhantes e lábios em formato de coração expandindo-se num sorriso.
Motivo número quatro: seu irmão caçula e sua melhor amiga estarem visivelmente interessados um pelo outro. E Sina nem teve a intenção de bancar o cupido quando convidou Heyoon para acompanhá-la.
Tá. Talvez um pouquinho.
Heyoon e Peter iniciaram uma conversa animada em direção à sala: séries. Geeks sempre se entendem bem. Sina aproveitou para deixá-los sozinhos e foi ajudar a mãe na cozinha. Pegou a bucha e começou pelos copos enquanto Alex separava um jogo de sobremesa para servir pêssegos com creme de leite.
— Acho que o Peter gostou da sua amiga.— Alex disse. — Ela é um doce.
— Ela é sim.
— O fato de vocês duas terem vindo para cá este fim de semana... foi por que a banda do Noah vai se apresentar em Berlim hoje?
Mãe realmente sabia das coisas. Mas naquele caso, ajudou o fato do filho viciado em Chump Change lamuriar a semana inteira sobre. É claro que Peter não iria ver a banda favorita. Que tipo de irmão ele seria se fosse? Sina não pediu, o garoto decidiu sozinho. (E ele ter estourado o valor da mesada com jogos de PS nem teve tanto peso assim).
— Mãe, não quero ser rude, mas podemos mudar de assunto? Eu realmente não me sinto bem falando do Noah.
Alex parou com o abridor de latas no ar e deu um olhar sugestivo para a filha.
— Ainda tem sentimentos por esse rapaz?
A garota não teve tempo de tirar os olhos da pia para responder, nem precisou, Alex era uma expert em entender nas entrelinhas:
— Achei que tivesse sido você a se afastar dele.
— Certa. De novo.
— E ele nunca mais te ligou?
— Não. Nunca.
— Nem depois daquela declaração que ele deu no Grammy?
Sina sorriu soturna, mesmo sentindo como se uma faca tivesse sido girada dentro do seu peito.
— Ele é uma celebridade, mãe. Talvez aquela declaração nem tenha sido para mim. Quantas garotas ele não deve ter conhecido antes, durante, depois... — Ah, a odiosa conclusão. — E ainda que fosse, são águas passadas. É razoável que ele tenha seguido com sua vida.
— Você realmente acredita nisso, Sina?
— Eu não posso me dar o luxo de acreditar em algo diferente. Ele está na Alemanha há cinco dias e vai embora amanhã. Se quisesse poderia ter me procurado, mas não procurou.
Pronto. Lá estavam elas, as lágrimas, reivindicando seu lugar de direito ao mundo e dando um espetáculo para quem quisesse ver.
— Ah, querida.
Sua mãe a abraçou. Sina se sentiu segura como no dia em que tinha sete anos e lhe contou sobre sua primeira desilusão amorosa. Se soubesse que as coisas ficariam piores no futuro, teria desistido do sexo oposto de vez quando teve a chance. Alex passou a mão pelos seus cabelos, sussurrando que tudo ficaria bem, e mesmo que Sina soubesse que aquilo não era totalmente verdade, foi a ideia certa ir até Hamburgo. Longe de astros de rock e todo o resto.
— Dizem que as oportunidades aparecem em nossa vida apenas uma vez. — Sina disse — Eu tive a oportunidade perfeita. E... eu estraguei tudo.
— Não, estragou não. Se for pra dar certo entre vocês, o universo vai conspirar para que tenham outra chance.
De repente uma voz forte: Charles. O homem devia estar na sala vendo as notícias quando Heyoon e Peter chegaram. Escolheu dar privacidade para os dois, e de quebra, intrometer na conversa da filha:
— Ela fez a coisa certa, Alex. Então não confunda a cabeça da Sina com essas bobeiras.
O policial foi até o refrigerador e retirou uma long neck. Rodou a garrafa na ponta da camisa para abri-la, depois sorveu um gole da bebida.
— Não são bobeiras, Charles. É o coração da sua filha.
Tristeza, arrependimento, raiva: Sina sentiu um misto de tudo. Além, é claro, de descobrir que o vidro da taça não era a prova de descargas de nervosismo durante a lavagem.
— Merda!
Um rastro vermelho escorreu pela pia em direção ao ralo, à cor combinando sublimemente com os frutos das pimenteiras enfileiradas na janela da cozinha.
— Sina! — Alex exclamou.
— Meu Deus, Sina, tudo bem? — Charles perguntou.
— Sim, sim. Está tudo bem.
— Parece que você vai precisar de uns pontos, querida. — Alex teve tempo de colocar as mãos sobre a boca antes de correr e pegar uma toalha para estancar o ferimento.
— Não mesmo. Já basta o corte, não quero levar agulhadas.
— O médico vai decidir. — Charles lhe disse.
— Meu Deus. Parem vocês dois. — Sina exigiu, o algodão da toalha tomado por escarlate vivo. — Eu vou esperar. O corte não foi fundo.
— Não custa ir até o hospital.
— Pai. — Ela rosnou e Charles franziu os lábios, sabia que a garota era tão geniosa quanto ele: discussão perdida. Tanto Charles quanto Alex ficaram de boca fechada, o que não evitou que lhe dirigissem olhares de preocupação. Sina os ignorou e caminhou em direção à sala, esperando que Peter e Heyoon já tivessem falado sobre todas suas séries favoritas.
— Ei, pessoal. — Sina avisou, só no caso dos dois terem se esquecido de que estavam em um ambiente familiar, ninguém respondeu. E não foi por conta de mãos bobas nem línguas fora da cavidade bucal de origem.
Mas porque os dois estavam encarados no televisor.
— É o saguão do hotel Fasano! — Heyoon disse animada, batendo as mãos sobre as pernas. — Vão ser eles!
— São mesmo! O Ryan, o Collin... Ah! E o Sam! Ali atrás daquela pilastra! — Peter complementou, tão ansioso quanto.
Sina permaneceu imóvel no centro da sala. Tudo parou. Seu coração, seu pulmões, seus pés. Ela teria bastante utilidade sendo um exemplar na vitrine do Madame Tussauds naquele momento.
A garota pigarreou, voltando ao mundo dos vivos:
— O que... vocês estão vendo?
— Ah, Sina. É... — Heyoon atrapalhou-se, como se estivesse fazendo algo bem errado. De fato, estava. — Uma coletiva com a Chump Change... Nossa! O que aconteceu com a sua mão? — Fez uma cara de dor quando viu a toalha manchada de sangue.
— Um cortezinho à toa.
— Não é melhor ir ao hospital? — Peter perguntou e Alex, atrás dele, fez uma cara de que concordava com o filho.
— Não. — Sina sorriu e tomou assento ao lado da amiga. — Quer saber? Vamos ficar aqui e assistir TV, juntos.
— Tem certeza?
— Sim, Yoon, eu tenho certeza.
— Ok. Quer... escolher outra coisa? — Peter perguntou sem firmeza na voz.
— Não. — Sina respondeu e deu um sorriso forçado. — Vamos ver a coletiva.
Peter e Heyoon entreolharam-se.
— Tem mesmo certeza?
— Sim! Façam silêncio que quero escutar.
As palavras de Sina ecoaram contra as paredes e silêncio foi lhe devolvido em troca. E caso fosse julgada por esse mini ataque psicótico, ela atribuiria a culpa ao fato de ter perdido sangue agora a pouco. Oh, sim, genial.
— Tá... De qualquer forma, ele não parece estar lá mesmo. — Peter começou a dizer, todo cuidadoso. "Ele" era Noah, claro. As pessoas evitavam falar o nome do vocalista na presença da professora, como se fosse algum tipo de enfermidade grave. A doença que começa com B.
Charles chegou pouco tempo depois, perdendo todo o drama. E de repente, todos já estavam assistindo à reportagem ao vivo confortavelmente sentados. O pai de Sina fez um ruído curto de lamentação quando notou o que maculava seu canal favorito. Mas ele era voto vencido. De qualquer forma, era menos incômodo ver Noah Urrea materializado na tela do seu televisor do que na sua sala de jantar.
— Sei que o assunto é delicado, mas o que virou aquele caso envolvendo o Noah e a ex-namorada? — Charles perguntou.
— Sabina Hidalgo retratou-se publicamente com o Urrea. Deu uma declaração dizendo que levou um tombo dentro da própria casa, havia misturado alguns remédios para dormir e acabou ficando confusa. — Peter falou.
— Já as más línguas, contam que ela estava tendo um caso com o motorista e que eles armaram contra o Noah. — Heyoon complementou. — E eu prefiro essa versão.
O senhor Deinert bufou incrédulo.
— O quê? Não. Duvido. Inventar uma coisa dessas? Claro que foi um tombo.
Em pleno século XXI e pessoas achando que lobos se escondendo em peles de cordeiro não passam de invenções contadas pelas fábulas para assustar criancinhas...
Uma loba em especial agradece por ainda existir gente assim.
Aquela entrevista no saguão do Fasano não parecia fazer parte dos planos da Chump Change, ou então Kyle não estaria visualmente incomodado carregando sacolas de compras feitas em terras tupiniquins, nem a esposa de Samuel precisaria ter corrido para se esconder quando a câmera focou o grupo de estrelas e seus acompanhantes não tão famosos.
Samuel foi o primeiro entrevistado. O baixista respondeu a uma série de perguntas triviais feitas pela jornalista antes dela notar o alguém tentando passar despercebido até os elevadores: Noah Urrea, a expressão sem graça de quem é pego de surpresa por uma visita inconveniente numa manhã de domingo. O flash da câmera iluminou seu rosto revelando um corte no lábio inferior e outro logo abaixo da sobrancelha. O homem estava péssimo. Parecia ter acabado de sair de uma briga.
Ingrid, Sam, Ryan, Collin e Kyle encararam o vocalista, assustados. Entreolharam-se logo depois. Então sorriram como se nada estivesse acontecendo: típico de celebridades treinadas para camuflar algo. Essa sequência de atos foi bem sutil e talvez nem todos na sala tenham percebido.
— Oh! Puxa, Noah! — A jornalista, falou ao microfone, transformando em notícia sua pseudopreocupação com o vocalista. — O que aconteceu?
Urrea sorriu antes de responder à mulher:
— Uma esteira de hotel muito rápida para minha falta de coordenação motora.
Noah Urrea ao vivo. Puta merda. A terrível sensação de estar afundando em areia movediça tomou conta de Sina. O coração dela arranhava o peito na tentativa de rasgar suas entranhas e alcançar o televisor: ou para lambê-lo ou para quebrá-lo em pedacinhos. As chances eram as mesmas. Meu Deus. Não, não, não. Aquilo não poderia estar acontecendo.
Kyle e Collin disfarçaram olhando para o chão, Ingrid cochichou algo no ouvido de Sam, e Ryan segurou uma risada. Pois Noah Urrea estava mentindo, obviamente.
— Espero que não atrapalhe o show. — S repórter deu um sorriso reservado para o horário nobre.
— Não vai. Minhas cordas vocais estão intactas. — Noah deu uma piscadinha, olhos instigantes encarando telespectadoras de todo o país. Os machucados no rosto não atenuavam sua beleza. Na verdade, conferiam-lhe até um certo glamour de pugilista. A cara abobada da repórter era prova disso.
— Claro! Que tolice a minha. — A mulher expôs os dentes para cuja perfeição a mãe natureza não fora responsável. — Bem, vocês encerram hoje a turnê sulamericana de Still of Night. Como foi se apresentar em terras Alemãs?
— Ótimo. O público alemão é realmente foda.
— Opa! Sem palavrão ao vivo.
Era só não traduzir, querida. Sina revirou os olhos.
— Desculpe. O público alemão é F-O-D-A. — Ele soletrou.
Sina gargalhou e todos a encararam com olhos arregalados. Ela pigarreou e se recompôs. O sangue do ferimento pareceu ter parado e não doía tanto. Ver homens bonitos na televisão talvez tivesse algum efeito anticoagulante-anestésico.
— E o que as pessoas podem esperar do show desta noite? — A mulher perguntou para o vocalista.
— Bem... podem esperar um encerramento no alto padrão que a Chump Change oferece aos fãs de todo o mundo. Vamos apresentar nossos singles de maior sucesso e também algumas faixas do álbum novo. Vai ser bacana. — Ele disse.
De repente Kyle colocou-se entre a repórter e o vocalista, dispensando-a com um sorrisinho amarelo. Aquela presença nada deslumbrante certamente tiraria o público feminino do estado de torpor.
— Os músicos precisam se preparar para o show. Obrigado. — Kyle falou.
A câmera focalizou apenas a repórter, o flash reluzindo seu sorriso branco irritante. Sina não prestava atenção no que ela dizia, apenas lutava para enxergar por trás do ombro dela, qualquer milímetro a mais do perfil de Noah. A contragosto, Kyle com sua camisa social quente demais para a atmosfera, era muito mais visível.
Foi Peter quem disse primeiro:
— Parece que eles estão discutindo...
— E a pamonha da repórter nem percebeu. — Heyoon completou.
Algo estava realmente acontecendo. A mulher ainda tagarelava enquanto Kyle e Noah levantavam dedos um para o outro. A garota desejou mandá-la calar a boca para poder ouvir um trecho da discussão.
— Filha! — Sua mãe a repreendeu, então Sina se deu conta de que havia materializado sua vontade com palavras de baixo calão. Ela não respondeu e continuou com os olhos fixos no aparelho. Na outra ponta do sofá, Heyoon e Peter riram.
Finalmente a jornalista percebeu a confusão no saguão do hotel. A mulher ficou com uma expressão perplexa quando Noah ignorou as ameaças incompreensíveis do empresário e caminhou na direção dela. O interessante era que Ingrid e os rapazes da Chump Change estavam se divertindo com a cena. Fora Kyle estar à beira de um ataque cardíaco, não parecia haver nenhum outro problema ali.
— Com licença. — Urrea retirou o microfone da mão da repórter que não fez nada para impedir.
Onde estava à jornalista bem preparada mesmo?
Sina deu uma olhada ao redor, ninguém na sala ousava piscar.
— Mas o que ele está fazendo...? — Heyoon quebrou o silêncio sem esperar resposta em troca.
A câmera deu um zoom no rosto de Noah. Cacete... Mesmo ferido e com o lábio partido o homem ainda era bonito como o inferno e fazia a desordem de jornalistas, os olhares de repreensão que Sina recebia na sala, o risco de extinção que ursinhos pandas corriam... Tudo ficar em segundo plano.
Então com a ajuda do microfone recém-usurpado, a voz de Noah se fez límpida e inconfundível:
— Sina.
Sensações vertiginosas como as de um parque de diversões. A cabeça de Sina girou e girou presa um looping infinito enquanto o restante do seu corpo afundava em queda livre. As pessoas presentes na sala possivelmente haviam acabado de lhe perguntar algo, mas ela não respondeu, estava ocupada demais segurando-se aos braços da poltrona para não cair.
Era como se o homem tivesse se materializado ali. Olhos diretos e certeiros nos seus. Se não tivesse visto de relance e conferido que os outros estavam tão surpresos quanto ela, Sina acreditaria se tratar de um mal entendido.
Que todos mal entendidos tivessem olhos tão lindos quanto àqueles e atendessem pela alcunha de Noah Urrea.
Noah continuou:
— Se estiver assistindo... — correu as mãos pelos cabelos numa demonstração de nervosismo. Oh. Noah Urrea nervoso. Isso era algo novo. — eu quero pedir desculpa pelo nariz do seu namorado... e... ahn...também pelo enfeite no jardim do seu prédio. Mandei alguém cuidar de tudo e vou arcar com os custos. — Pestanejou algo antes de continuar — Droga. Eu sei, não deveria estar me intrometendo na sua vida, só que não posso ignorar o que você me disse da última vez em que nos falamos. Não posso voltar para L.A. antes de te dizer algo pessoalmente. Você pode me odiar pelo que estou fazendo agora, mas prefiro correr o risco de acreditar que queira escutar o que tenho para falar. Não precisa ser tarde demais para fazermos tudo certo desta vez. Eu... adoraria que fosse ao show esta noite, Sina. Eu realmente adoraria.
Os momentos seguintes aconteceram muito rápido. O próprio segurança de Noah o puxou sem muita delicadeza, o microfone caiu no chão produzindo um som agudo. As mãos grosseiras de Kyle foram ao encontro da lente da câmera que passou a focar apenas o chão de mármore lustroso e um embaralhado de pés e pernas agitados.
Alguém levantou o instrumento e a repórter conseguiu recompor a pose confiante que por longos segundos ficou perdida sob um ar embasbacado:
— Uau. Isso foi intenso! — A jornalista ajeitou o ponto atrás da orelha e sorriu atrapalhada. — Noah Urrea gosta de se utilizar da mídia para declarações imprevisíveis, não? — Concluiu em referência ao incidente envolvendo Sabina Hidalgo no Grammy. — Agora o que a Alemanha e o mundo querem saber é: quem é a misteriosa Sina?
A mulher aguardou o sinal ser cortado. A imagem da entrevistadora deu lugar à vinheta da novela preferida de Alex. Peter abaixou o volume, a expressão atordoada como todos os demais na sala.
Sim. Sina ainda estava viva, obrigada por perguntar.
— Não seria mais fácil ele ter ligado? —Heyoon quebrou o silêncio e enrugou a testa pensativa. — Aliás, o que ele quis dizer com nariz do seu... Oh meu Deus! OH MEU DEUS! — A boca de Heyoon trabalhou todos os músculos enquanto invocava o santo nome. —Ele e Josh devem ter se encontrado... e aquele filho da mãe... mentiu que ainda estava com você! — As sobrancelhas da garota franziram de um jeito nervoso — Espero que ele tenha ficado pior do que o Noah nesta história.
Sina permaneceu atônita, encarando o rosto da amiga e comprimindo a toalha mais forte.
— Quem este Noah Urrea pensa que é? — Charles vociferou. — Expor minha filha desse jeito? Eu vou matá-lo!
— Matá-lo? Pai! Isso foi demais! — Peter não conteve a emoção. — Ela precisa ir ao show!
— O que você vai fazer, Sina? — Yoon questionou para a amiga que continuava em estado de choque.
— Eu... — A voz de Sina era quase inaudível no meio de turbilhão de opiniões sobre sua vida. Ignoravam o fato de ela ser uma mulher adulta e, o primordial, estar presente na sala.
Alex olhou de Heyoon para Sina, evitou os olhos do esposo no percurso:
— Filha, para que a dúvida? Você acabou de confessar na cozinha que ainda tem sentimentos por ele.
— Sim, mas... — Sina começou a dizer antes de ser interrompida. De novo.
— Ela o ama sim, mas ainda tem medo. —Heyoon encarou a amiga. — Não é? Tem medo de que não dê certo entre vocês. Mas sabe, Sina? Isso pode nunca acontecer, o que pode ocorrer de verdade, é vocês dois serem felizes. Só isso. E você só vai saber se tentar.
— Bem, Sina. — Alex disse. — Você queria uma nova chance, e parece que ela acaba de sair daquele televisor.
O silêncio se fez novamente. Então Sina notou o pai pensativo. As sobrancelhas cerradas e os olhos reflexivos fitavam algum ponto imutável do vazio:
— Ok. Vocês querem saber minha opinião?
— Na verdade, não. — Peter disse.
Charles arregalou os olhos para o filho, mas deixou passar, e só continuou:
— Eu acho que este rapaz vai fazê-la sofrer mais cedo ou mais tarde... e se isso acontecer...
— Bem, se isso acontecer, eu e seu pai estaremos aqui por você, certo Charles? — Alex falou depois encarou a filha, a voz tenra. — E então, Sina?
Era a mesma pergunta feita em um apelo quase palpável pelos demais.
Decisão muito importante para ser tomada assim, de uma vez e sob pressão. A garota precisava pelo menos refletir alguns pontos.
Era claro que ela ainda gostava dele. Mas... Uma vida tranquila, um parceiro presente todos os fins de semana, almoço em família aos domingos... provavelmente essas coisas não funcionavam com um astro do rock. Por outro lado, no entanto, ela poderia acompanhar uma banda em turnê pelos quatro cantos do mundo, assistir aos shows mais incríveis dos bastidores, e claro, isso quando não estivesse ao lado de Noah, só os dois, numa casa escondida entre colinas que possuía um simpático tigre de bengala vivendo no jardim.
Caramba. Quais eram as dúvidas dela mesmo?
Para que ser forte e racional quando não havia qualquer outro lugar que ela gostaria de estar, senão ao lado dele?
Seu cérebro de exatas finalmente estava entendendo que talvez não sejam a força e razão as melhores conselheiras para responder às dúvidas do coração.
Claro que não eram.
E ela não tinha mais nenhuma dúvida quando finalmente disse:
— Calcem sapatos confortáveis, porque vamos a um show de rock.

Don't Talk To Paparazzi - noart adaptation Onde histórias criam vida. Descubra agora