thirty four.

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Charles quem dirigiu, e duas horas depois, alguns limites de velocidade excedidos e presos num engarrafamento sem fim nas proximidades do ginásio onde iria ocorrer o show da Chump Change, escutaram as notas da guitarra de Ryan misturando-se ao clamor da plateia: a banda acabava de iniciar o show.
Alex estalou um beijo na bochecha de Sina antes que a filha saltasse do carro acompanhada de Peter e Heyoon. Pais não precisavam fazer parte dos encontros amorosos dos filhos. Aliás, não deveriam. Principalmente quando isso envolvia hard rock e um ginásio abarrotado de jovens. Não era bom para a labirintite da senhora Deinert. Ela e o esposo torceriam confortavelmente do apartamento da garota. (E a pedido de Sina, aproveitariam para conversar com a síndica sobre o tal estrago feito no jardim por dois homens exaltados).
Luzes do ginásio refletiam contra nuvens carregadas. A chuva havia escolhido a pior das horas para dar as caras e São Pedro não parecia disposto a dar trégua. Mas o tempo era só um coadjuvante, sua falta de colaboração não impedia a atuação das principais estrelas da noite que arrancavam gritos eufóricos do público. Sina pisou numa poça d'água, mas abstraiu. Não deixaria que um tênis encharcado a tirasse do sério agora que estava tão absurdamente feliz.
Na entrada principal, fãs retardatários protestavam pela fila demorada. Um sacrilégio perder a música "Your Toxic Love", single do último disco. Era melhor que a bilheteria andasse mais rápido ou então seria preciso conter um motim.
— Ele deve ter deixado seu nome autorizado em algum lugar, certo? — Peter disse, foi mais uma pergunta retórica.
— Assim espero. Vamos procurar alguém da equipe técnica, tipo... aquele carinha ali. — Sina disse e foi na direção do homem parrudo que carregava uma credencial no pescoço. Esperou que ele deixasse o walk-talk de lado, então sorriu na esperança de anular o semblante de poucos amigos do homem.
— Oi. Você trabalha para a equipe técnica da Chump Change?
Ele encarou com um ar prepotente antes de dizer:
— Sou o chefe da equipe. Por quê?
Que doce.
— Porque ela — Heyoon entrou na frente da amiga, e grande trunfo da noite — é a garota da declaração que o Noah fez agora a pouco.
Sina sorriu meio sem graça. Não combinava muito com sua pessoa este tipo de introdução. Mas parece ter funcionado. Já que o homem arregalou os olhos surpreso.
— Uau! — Ele exclamou. — Acho então que devo colocá-los na parte VIP!
Eles deixaram de encarar o encarregado da equipe técnica e se entreolharam em êxtase.
— Pode apostar que sim!— Heyoon respondeu extasiada. Peter acenou entusiasmado e Sina fez um agradecimento mental por não ter que se utilizar do discurso preparado no carro. Até que o homem continuou:
— E também chamar um massagista, servir um cafezinho... — O desmancha-prazeres revirou os olhos, deboche a cada palavra. — Sabe quantas garotas já me abordaram hoje com essa mesma história?
O sorriso dos três diminuiu gradativamente.
— Mas é ela! — Heyoon gesticulou aflita. — Pode ver a identidade, ela se chama Sina!
— Claro que se chama, assim como outras vinte antes dela.
— Sina Deinert? — A dona do nome perguntou incrédula. Alguém deveria baixar uma lei referente à exclusividade de denominação. Ou demitir aquele idiota.
— Sina Deinert, Sina Deinert Alkimi, Sina Deinert Müller, Sina Weber Deinert... A primeira conseguiu entrar, eu acabei acreditando. — A boca do homem retorceu em sinal de protesto — Mas então mais outra e mais outra... — Ele permaneceu de braços cruzados, encarou a professora. — Você tem alguma prova?
— Prova?
— É. De que você é a verdadeira. Fotos com ele, vídeos. Essas coisas.
— Não... eu... não tenho mais fotos. Não queria que ele achasse que eu estivesse interessada em contar vantagens para tabloides e... o contato telefônico...excluí depois que brigamos.
Meu Deus. Soava idiota quando dito em voz alta. Alguma das impostoras deve ter dito a mesma coisa.
— Sei. No mínimo muito estranho, se você é a Sina "íntima de Noah Urrea", não guardaria nada que te relacionasse ao cara? — O homem parou por alguns segundos, deu-lhe uma olhada crua dos pés à cabeça. — E sinceramente? Uma garota como você, não combina com aquele músico em cima do palco.
Ela sentiu as bochechas queimarem. Não teve força para responder. Yoon apertou a mão da amiga e Peter gritou alguns xingamentos para o homem que sumiu por entre um aglomerado concentrado na portaria principal.
— Peter. Não adianta. — A professora suspirou enquanto o cérebro ainda tentava resolver toda problemática física que a separava do vocalista.
— E o que a gente faz agora? — O irmão perguntou.
Sina abriu a carteira. Procurou o cartão de crédito que deveria ser utilizado apenas em emergências. Exatamente o que aquilo era, não? Totalmente aceitável se endividar para garantir encontros com astros do rock.
— Fazemos o lógico: compramos os convites.
E que os momentos posteriores valessem cada centavo.

Don't Talk To Paparazzi - noart adaptation Onde histórias criam vida. Descubra agora