Capítulo 4 - Óstia

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Eu voltei para o hotel, troquei de roupa e me informei sobre como chegar na praia. O rapaz que estava na recepção do hotel me deu algumas direções e disse que eu conseguiria ir de metrô sem problemas. Sugeriu que eu fosse à praia em Óstia. Explicou como chegar e eu, com muito medo, fui. Durante o trajeto, conversei com meus pais e contei como foi meu primeiro dia. Não com riqueza de detalhes, claro, mas que tinha conhecido a prima do Rodrigo e que tínhamos saído à noite. Também não contei muitos detalhes para Rodrigo. Fiquei imaginando se Julieta contaria.

Cheguei à praia e realmente era uma paisagem inacreditável. "Se existe um paraíso, provavelmente é aqui", pensei. Havia muitas cadeiras e barracas, escolhi uma e sentei. Logo um senhor veio me oferecer algo para beber. Eu estava me sentindo um pouco enjoada da noite anterior, então disse que escolheria depois. Ele se retirou e eu fiquei a sós com meus pensamentos e o barulho do mar. Sempre gostei de sentar na beira da praia quando precisava relaxar. Deitei na cadeira, fechei os olhos e apenas fiquei ouvindo o mar. Logo os pensamentos começaram a invadir minha mente. Michel, suas doze amantes. Doze! Por quê? Para quê? Eu não era boa o suficiente? Não dava atenção o suficiente? O que será que estava faltando na nossa relação? Como ele conseguiu esconder durante cinco anos? Ou melhor, como eu não percebi durante cinco anos? Havia evidências por todo lado. Será que eu estava focada demais nos estudos e no trabalho? Será que foi por isso? Ele se sentiu deixado de lado e foi buscar atenção com elas? Mas por que ele não tinha falado que estava sentindo minha falta? Bom, talvez não estivesse. Mas e esses cinco anos de relacionamento? Tudo parecia sempre tão bem. Nem a frequência do sexo havia diminuído. Ele não tinha mudado em nada. Continuava atencioso, carinhoso. Lembrava datas e dava presentes. Então, qual era o problema? Será que ele simplesmente era assim? Será que ele não pensou em como isso iria acabar comigo? Será que ele se importava?

De repente me dei conta de que eu não o conhecia de verdade. Meu celular vibrou. Mensagem de Michel. Inacreditável. Agora ele lia pensamentos também? "Olá, Lili, como você está? Onde você está? Você desapareceu. Não vejo nem postagens suas no Facebook. Precisamos nos encontrar. Preciso explicar o que aconteceu. Não é o que você está pensando. Por favor, me dá uma chance. Mande notícias. Estou preocupado. Amo você. Beijos."

- Sério, Michel? Faça-me o favor.

Apenas ignorei a mensagem e não respondi. Mas meu coração não teve mais sossego. Sentei na cadeira, chamei o moço que tinha me oferecido bebida e perguntei se eu poderia deixar minhas coisas ali para mergulhar no mar. Ele sorriu e disse que não tinha o menor problema. Deixei meu celular embrulhado nas roupas e fui para o mar. Era o que eu precisava para lavar a alma.

Os benefícios que um banho de água salgada traz para o corpo e para a alma, não é mesmo? Na mesma hora me senti melhor. Percebi que sentia falta de praia e que fazia anos que não ia a uma, mesmo indo para a casa de praia da família da Tina. As poucas vezes que fomos, eu ia com o pessoal para a praia, mas não estava lá realmente. Estava pensando no trabalho. Nos casos, nos depoimentos, nos clientes, no que eu teria que fazer quando voltasse para casa. Não conseguia realmente relaxar. Então respirei fundo, senti o aroma do mar, mergulhei para afogar todos os pensamentos e fiquei ali, boiando, mergulhando, nem sei por quanto tempo, apenas respirando, sentindo as ondas, o sol, tirando aquele peso das costas. Então, de repente, ouvi chamarem meu nome.

- Lidia! Ragazza!

Era o surfista da noite anterior. Ele continuava tão bonito como eu lembrava. Percebi a roupa de banho que ele estava usando, ele era o salva-vidas da praia. Por isso que parecia um surfista. Provavelmente era mesmo.

- Olá!

- Você se afastou muito da orla, vamos nadar de volta, tudo bem?

Foi quando percebi como eu estava no fundo. Nadamos de volta e ele me acompanhou até a cadeira onde tinha deixado minhas coisas.

Flores como EuOnde histórias criam vida. Descubra agora