Flores como Eu

Capítulo 12 - Dias de chuva

Acordei tarde no dia seguinte. Aparentemente, além de curar ressaca, o chá também dava bastante sono. Precisava pedir a receita para Nonna. Levantei já eram quase dez horas, mas estava como nova. Poderia beber tudo de novo a qualquer momento. Mas julguei que seria melhor não arriscar.

- Bom dia, bela adormecida! Como está se sentindo?

- Excelente, Luigi! Obrigada!

- Venha comer e repor as energias. Vou te levar para conhecer o estábulo hoje. Coma bastante, pois certamente não voltaremos para o almoço. Vou levar provisões para nós.

- Que legal! Vamos montar? – Fiquei ao mesmo tempo empolgada e tensa, eu nunca tinha de fato chegado perto de um cavalo na vida, e apesar de na TV parecer muito simples montar a cavalo, eu duvidava seriamente de que na vida real seria fácil mesmo.

- Bom dia, Lidia! Como você está?

- Excelente, Giovana! Muito obrigada! Preciso da receita desse chá fantástico da Nonna.

- Ele faz maravilhas, não é mesmo?

- Sim. Mas me desculpe pelo vexame.

- Vexame nenhum, meu bem. Todos nós já passamos por isso. Nosso vinho é forte. É nosso orgulho!

Achei engraçado eles terem orgulho de as pessoas passarem mal com o vinho, mas percebi que não foi isso que ela quis dizer. Depois do café, calcei meus tênis e saímos. O dia estava lindo, quente, bem mais do que os últimos dias. Caminhamos até o estábulo. Luigi levou uma mochila com coisas para comermos. No caminho ele foi dando algumas dicas de como se fazia para montar um cavalo, sabendo que eu nunca tinha feito isso na vida.

O estábulo era bem afastado, de forma que levamos cerca de meia hora caminhando. Havia uma choupana um pouco adiante. Luigi explicou que o caseiro ficava ali antigamente. Estava sem ninguém fazia tempo, mas Mamma mantinha o local sempre organizado e limpo para o caso de uma necessidade, caso algum dos funcionários precisasse passar a noite, ou mesmo quando algum familiar vinha passar férias na vinícola. Ao chegar ao estábulo, ele me apresentou os animais. Todos tinham nomes e sua própria baia. Havia um rapaz cuidando de um dos cavalos. Era um animal castanho, enorme, com uma crina mais bonita que o meu cabelo. O rapaz estava dando banho nele.

- Todos eles são muito tranquilos, mas não aconselhamos que você chegue colocando a mão no nariz deles. Podem se assustar. Venha pela lateral, passe a mão nas costas e vá chegando até a frente. Converse com eles para que conheçam sua voz.

Fiz isso com todos eles. Fiquei encantada. São animais incríveis os cavalos. Uma das éguas pareceu mais receptiva comigo, deu uma narigada na minha mão quando cheguei ao rosto e encostou a cabeça em mim. Pedi para montar essa.

- Essa é a Estrela.

- Olá, Estrela. Tudo bem? Você me permite montar você?

Ela fez um "brrrrr" e baixou a cabeça. Luigi pegou o arreio dela e a preparou para eu montar. Levou ela para fora e deixou o outro rapaz segurando a Estrela. Fiquei conversando com ela enquanto ele buscava o próprio cavalo. O cavalo de Luigi era preto, lindo, imponente, parecia uma criatura mágica. Combinava perfeitamente com ele.

- Muito bem. Vou montar no Lancelot. Preste atenção como eu faço. Não suba sozinha. Vou te ajudar.

Ele mostrou onde deveria colocar o pé esquerdo e onde minhas mãos precisavam segurar. Depois deu impulso e cruzou a perna direita sobre o lombo do cavalo. E de repente estava vendo um príncipe encantado em seu corcel negro. Ali, me apaixonei por ele. Perdidamente. Ele tinha os mesmos encantos da prima Julieta. Tinha um pouco da magia de Vladimir, da doçura de Giovanni, da leveza de Gabriele. Luigi reunia todas as coisas lindas que vi na Itália. Como não me apaixonar pelo conjunto da obra se já havia me apaixonado por todas as suas partes antes? Então ele desceu do cavalo e me ajudou a montar na Estrela. Fiquei com um pouco de medo, mas ela era uma doçura, se comportou muito bem comigo e, por incrível que pareça, subir não foi tão difícil. Restava agora saber como eu faria para "dirigir" um cavalo.