Capítulo 3 - Julieta

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Dessa vez não tive pesadelos. Acho que estava tão cansada que apenas dormi. Acordei sobressaltada, de repente, mas ao olhar no relógio, percebi que apenas uma hora tinha passado desde que chegara. Por incrível que pareça, foi o suficiente para recuperar as energias. Troquei de roupa e decidi ir ao mercadinho comprar algumas coisas para deixar no quarto.

Fiquei maravilhada com o mercadinho. Muitas variedades, tudo bastante acessível, atendimento maravilhoso, todos muito simpáticos. Muitas coisas orgânicas. Parece ser uma "tendência" ali. Quando viram que eu não falava italiano, chamaram um dos atendentes que falava inglês para me auxiliar. Comprei o básico, algumas garrafas de água, pão, uns biscoitinhos, apenas coisas para beliscar caso desse fome enquanto estivesse no quarto. No caminho do mercado, passei por uma piazza, uma praça. Na volta, aproveitei para admirar o lugar. A praça era pequena, tinha um chafariz no centro, com uma imagem de mulher segurando uma ânfora, por onde saía a água. Ao redor havia alguns comércios, restaurantes, lojas de presente, roupas, cafés. Deixei as compras no quarto e desci novamente. Sentei em um dos bares e pedi uma cerveja. Aproveitei para mandar mais mensagens para minha família e para Rodrigo.

Contei a eles onde estava e mandei algumas fotos. Quinze minutos depois, uma moça morena, de cabelos cheios e cacheados, corpo voluptuoso, muito bonita, parou na minha frente e perguntou:

- Lidia?

Olhei espantada, e respondi que sim.

- Olá! Sou a Julieta, prima do Rodrigo! Ele me disse que você estava aqui, aproveitei a folga e vim te conhecer! Muito prazer!

Fiquei encantada com a garota. Um sorriso tão gentil e espontâneo. Sorri de volta e a convidei para sentar.

- Muito obrigada por me receber no hotel! Todos estão sendo muito gentis.

- Imagina. É um prazer receber uma amiga tão especial do meu priminho. Ele me contou o que aconteceu com você. Como você está?

- Estou melhor do que pensava. Vir para cá foi a melhor ideia que ele teve. Na verdade, parece que foi numa outra vida que tudo aconteceu. Mas não quero falar de coisas ruins. Você parece tão nova. Como veio parar aqui?

- Ah, nossa família é meio italiana. Há alguns anos eu entrei com o processo para conseguir a dupla cidadania. Dois anos atrás consegui. Então vim passar umas férias com a família aqui na Itália e acabei ficando de vez. Com a dupla cidadania, resolver questões burocráticas é bem mais fácil. E não sou tão nova, já tenho 27 anos.

- E como é a vida aqui? Tudo parece tão mágico!

- E é mesmo. A Itália é um país muito bonito. Repleto de história, mistérios, misticismos. Parece que não há tempo na vida suficiente para conhecer tudo.

- Imagino que não tenha mesmo. Aceita tomar uma cerveja comigo?

- Claro! Só vou trabalhar amanhã no turno da noite. Se você quiser podemos aproveitar e passear. Posso te mostrar as redondezas.

- Que maravilha! Aceito! Só preciso voltar no hotel para trocar de roupa.

- De maneira nenhuma! Essa roupa está mais do que adequada. Marcelo, me traz uma cerveja, por favor! Marcelo é meu amigo. Desde que cheguei venho a este bar. Eu moro ali na outra rua. Gosto muito daqui. Ambiente agradável, garçons lindos para ficarmos admirando, cerveja gelada e comida deliciosa! Aconselho a pizza. Você precisa comer a pizza da Itália!

- Provarei, com certeza. Uma viagem à Itália sem comer pizza não conta como viagem à Itália.

- Tem razão!

Conversamos por muito tempo sobre diversas coisas, trabalho, família, sobre o Rodrigo, sobre quando o Rodrigo declarou para a família sua homossexualidade, ela disse que no início foi um choque para todos, que os pais dele tiveram alguma dificuldade em aceitar, mas aos poucos foram percebendo que não era uma fase, como eles achavam, que aquele era ele realmente e que ele estava muito mais feliz e alegre por ter aberto seu coração para a família, então eles aceitaram e a vida de todos melhorou muito na casa deles. Julieta contou que antes Rodrigo vivia muito recluso e deprimido, que ela foi a primeira pessoa para quem ele contou e ela deu muita força para ele se abrir com os pais. Eu e Rodrigo nunca tínhamos falado sobre isso, quando eu o conheci ele já era bastante confiante nesse assunto, então nunca pensei que pudesse ter sido tão difícil. Ela me contou também sobre os diversos passeios que ela tinha feito na Itália, os amantes que tinha conhecido e as amantes que tinha conhecido. Julieta era uma mulher muito diferente de mim, corajosa, segura, autoconfiante. Eu até era autoconfiante, mas em geral com relação ao trabalho e, de preferência, em cima de um salto, maquiada. Jamais de all star, short jeans e camiseta de banda. Essa sensualidade natural que emanava dela, definitivamente, não tinha em mim.

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