Aos 25 anos, eu era uma advogada com alto número de casos ganhos na vara de família. Sempre gostei dos casos de divórcio, mas os meus preferidos eram aqueles em que a mãe estava processando o pai por abandono. Esses eu ganhava com prazer.
Concluí a graduação aos 22 anos, passei na prova da Ordem na primeira tentativa e fui trabalhar na Rodrigo e Henrique Advogados Associados. Havia feito estágio lá e eles viram meu talento logo no início.
Não é que eu tivesse algum problema pessoal com o abandono paterno, não. Ao contrário, minha família é bastante estável. Pais casados há mais de 30 anos, mãe chef de cozinha e pai professor, verdadeiramente apaixonados até hoje. Nunca presenciei uma briga de verdade entre eles. Umas discussões, de vez e quando, mas, mesmo assim, casos raros.
Eu mesma tinha um relacionamento estável, com o meu namorado, Michel, havia cinco anos. Michel também era advogado, mas não gostava da profissão e não tinha feito a prova ordem. Queria fazer concurso. Na verdade, queria fazer biologia, estudar animais marinhos, mergulhar. Mas seus pais eram advogados e sonharam com a carreira da família durante toda a vida.
Mas o que eu não suportava era a injustiça. Por que o pai podia simplesmente desaparecer e não assumir o filho? Se a mãe fizesse algo assim, seria considerada um monstro pela sociedade. Sempre tive verdadeiro pavor dessas diferenças. Para mim, a justiça precisava valer igualmente para todos. Ponto. E por isso eu lutava com todas as forças para tentar fazer valer a lei sempre, mas principalmente nesses casos.
Ao contrário do que eu via praticamente todos os dias no escritório, minha vida conjugal era excelente. Meu marido era tudo que eu sempre sonhei, carinhoso, gentil, inteligente... Eu era muito feliz. Nossa história começou há muitos anos, quando eu tinha 17 anos, mal tínhamos começado a faculdade, Michel era o garoto mais bonito da turma e com seu jeito extrovertido, logo se tornou o mais popular também. Qual não foi minha surpresa quando ele me chamou para sair durante uma aula de filosofia. Eu nem imaginava que ele podia ter reparado em mim:
- E aí, Lídia, tudo bem? – Eu devo ter corado tão intensamente que acho que todo mundo viu.
- Ahm... tudo e você?
- Essa aula está um tanto maçante, mas fora isso, tudo bem. Escuta, eu estava pensando, vai ter uma reunião na república dos caras, e ia ser legal se você fosse. Eu nunca te vejo nas festas.
- Não sou muito chegada a festas, mas já fui a algumas. Já vi você em algumas. – ele, claro, sempre cercado de meninas.
Resumidamente, fui à festa e foi onde tudo começou. Começamos a sair, a namorar, nos formamos juntos e continuamos juntos depois da faculdade.
Em agosto de 2015, pouco depois do meu 26º aniversário, eu e Michel nos casamos. Foi uma linda cerimônia, discreta, apenas para alguns amigos, mas memorável. Lembro como se fosse ontem. Flores brancas e cor de champagne enfeitaram o salão. As mesas foram forradas com toalhas brancas, com bordados dourados. A iluminação estava perfeita: era fim de tarde e o céu estava cor de abóbora. Meu vestido era de cetim cor de pêssego, um pouco acima dos joelhos, não usei véu, claro. Essas coisas tradicionais demais não são para mim. Exceto pelas flores... eu amo flores, coloquei flores em tudo o que pude. As cadeiras eram de ouro velho, muito confortáveis. Quando entrei no salão estava tocando a nossa música, "I do", do grupo Abba. Apenas os amigos mais próximos e a família foram convidados. Devia haver cerca de oitenta pessoas presentes. Michel tinha família grande. Os votos foram sinceros e muito emotivos:
- Lidia, você pegou meu mundo que estava de cabeça para baixo e colocou tudo no lugar. Você é minha melhor amiga, minha parceira, meu porto seguro. Com você, tudo faz sentido. Obrigado por ter me escolhido. Obrigado por ter me aceitado. Eu amo você.
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Flores como Eu
RomanceApós descobrir a traição de seu marido, Lidia parte em uma viagem de reencontro consigo mesma. Na Itália, ela conhece pessoas que a fazem repensar sua vida e rever suas prioridades. Em um mágico encontro com a natureza e as pessoas, Lidia descobre q...