Capítulo 14 - Começando de novo

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Quando o avião decolou, tentei ler, tentei admirar o oceano, mas não foi possível porque era noite, então abri meu computador e coloquei "Sob o sol da Toscana" para assistir. Em silêncio, chorei. Chorei até que peguei no sono. Acordei algumas horas depois, com a tela do laptop fechada, provavelmente pela aeromoça, e o dia clareando. Faltavam ainda três horas de voo. Comi, e então aproveitei a paisagem que mudava de cor com o nascer do sol.

Às seis horas da manhã do horário local, desembarquei. Mandei mensagem para todos os que estavam esperando uma notícia depois de tanto tempo de voo, peguei um táxi e fui para casa. Meus pais estavam me aguardando ansiosos, com café da manhã na mesa. Realmente, essa coisa de fuso-horário é bem confusa. Eu tinha comido no avião, já era para estar perto da hora do almoço.

- Minha filha! Que mudança no visual! Ficou maravilhoso! – Disse mamãe me abraçando até quase me deixar sem ar. – Conte tudo! Como foi a viagem? Como é a Itália? Como são as pessoas?

- Obrigada, mãe! Estava com muita saudade!

- Ficou linda mesmo, filhotinha, embora você fique linda de qualquer jeito. – Nos abraçamos forte e papai me tirou do chão como fazia desde que eu era criança. Percebi como senti falta dos dois.

- Obrigada, pai! Como vocês estão? Como foram as últimas duas semanas?

- O de sempre, muito trabalho, pouco descanso, seu pai pegou uma gripe que, por sorte, eu não peguei.

- Ah, e o Rodrigo esteve aqui para trazer os papeis do divórcio para você assinar. Aparentemente, a outra parte não se manifestou ainda.

- Ele se manifestou algumas vezes no meu celular durante a viagem. Onde está o papel? Onde eu assino?

- Calma, filha, não quer comer e descansar primeiro?

- Vou digerir melhor quando fizer isso.

Meu pai trouxe os papeis e eu assinei. Foi um alívio, senti tirar um grande peso das costas. Tomei uma chuveirada e sentei para comer. Contei sobre a viagem, sobre os lugares, sobre as pessoas. Eles ficaram animados, riram, ficaram preocupados quando falei que peguei táxi com um turista russo e depois impressionados com as fotos dele, quando mostrei o site da galeria de Vladimir. Contei sobre a família de Luigi, sobre os jardins, as plantações, os vinhos. Depois de contar o máximo de detalhes que pude e entregar-lhes os presentes que havia trazido, fui descansar. Luigi já tinha mandado mensagem para saber da viagem, se eu estava bem. Respondi que sim, que já havia assinado os papéis do divórcio e agora só faltava a outra parte. Falei um pouco com Rodrigo, combinei com ele de nos encontrarmos à noite e peguei no sono.

Sonhei com uvas, com flores, frutas, sonhei com Luigi, com a choupana. Acordei suada e com o coração apertado. Olhei o celular para ver se tinha mensagem dele. Tinha. Respondi-lhe e contei que tinha sonhado com ele. Estava com saudades.

Não dormi de novo. Almocei com meus pais, mas depois aproveitei para sair com minhas amigas. Dei sorte de as duas estarem de folga naquele dia, então antecipei logo o encontro, precisava vê-las e conversar com elas.

Contei tudo o que contei para meus pais sobre a viagem, e percebi que ainda teria que fazer isso uma outra vez com Rodrigo. Para Ana e Tina, no entanto, contei alguns detalhes que não contei para eles, falei da minha noite com Julieta, falei da boate, de Giovanni, Vladimir, e de Luigi, principalmente dele. Elas vibraram com cada história, xingaram Michel de todos os nomes que seriam proibidos em um programa de televisão infantil, e ficaram muito felizes com a mudança de visual, disseram que eu parecia mais "autêntica". Depois de algumas horas contando tudo para elas, pedi que me acompanhassem em algumas lojas, pois precisava comprar roupas. Ambas reviraram os olhos, tão acostumadas que estavam com minhas idas ao shopping para comprar roupas, elas sabiam que eu levava pelo menos quatro horas experimentando centenas de modelos até achar um que me agradasse. Quando me viram entrar em uma loja completamente diferente das que eu costumava frequentar, percebi que trocaram olhares de estranhamento, como se eu tivesse perdido o juízo. Escolhi algumas camisas básicas, sem aquela opulência da roupa social, mas ainda apropriadas a uma advogada, sapatos baixos e dois tênis All Star, fiquei apaixonada pelo par que Julieta usara no nosso primeiro encontro. Tina e Ana ficaram de queixo caído com a rapidez com que escolhi as peças e pelas próprias peças selecionadas.

Flores como EuOnde histórias criam vida. Descubra agora