Sonhei que voava. Via toda a vinícola do alto. De repente via Luigi com outra mulher. Quando olhava de perto era Julieta. Ela olhava para mim, apontava e ria. Então eu caí. Acordei assustada com a sensação de que realmente estava caindo, mas ainda estava na cama. Senti um peso sobre minhas pernas e vi Lasanha em cima delas. De repente olhei para o lado e vi o outro gato, Ravióli. Ainda não o tinha conhecido. Ele era lindo também. Branco e cinza rajado, bastante gordinho também, como o Lasanha.
- Olá, Ravióli.
Ele piscou e ronronou. Baixou a cabeça e voltou a dormir. Senti-me acolhida e protegida. Logo peguei no sono de novo.
Quando acordei o sol estava nascendo. Levantei e fui para o jardim. Sentei na entrada e fiquei observando o céu mudar de cor. De repente ouvi um barulho e vi Nonna com seus vasos. Fiquei impressionada por ela já estar de pé e trabalhando no jardim. Não aguentei de curiosidade e fui até o famoso jardim particular.
- Ciao, Nonna. Buongiorno.
- Ciao, Lidia.
Ela acenou para que eu me aproximasse. Nonna não falava nada de inglês e eu não falava nada de italiano, então nossa comunicação verbal era impossível. Ela fez alguns sinais mostrando os vasos com pequenos brotos e vasos vazios. Pelo pouco que entendi, ela estava trocando de vaso para que as mudas tivessem mais espaço para crescer. Sinalizou para que eu observasse. Ela pegou um vaso pequeno com uma muda verde, pegou um vaso duas vezes maior, pegou um punhado de terra de um saco grande no canto, outro punhado no outro lado em outro monte de terra e misturou no vaso. Em um canto mais afastado, se abaixou, cavou e pegou duas minhocas. Sim, ela pegou duas minhocas com a mão, aparentemente era um terrário de minhocas. Para minha surpresa, não tive nojo, apenas fiquei intrigada com aquilo. Ela colocou as minhocas na terra do vaso, e em seguida retirou a muda com toda sua terra do vaso menor e colocou no vaso maior. Terminou de preencher o vaso com terra do primeiro monte e regou. Mostrou-me sua obra de arte, sorrindo. Em seguida me empurrou e mostrou outro vaso de muda.
- Voi. Voi.
- Eu? Mas eu nunca plantei nada. A única coisa que plantei foi feijão no algodão, quando eu estava no primário. – Não que ela tivesse entendido uma só palavra.
Ela continuou gesticulando, então percebi que não teria opção. Peguei o vaso com a muda, em seguida um vaso maior e gesticulei perguntando se era aquele mesmo.
- Sí.
Peguei um punhado de terra do primeiro monte, coloquei no fundo do vaso e mostrei para ela, ela fez gestos mostrando que havia pouca terra, então peguei mais um pouco.
- Sí! – Ela disse.
Prossegui para o próximo monte de terra e olhei para ela, achei que aquela terra parecia diferente da outra e com um cheiro bem mais forte, estranho, mas peguei um punhado, com as mãos mesmo, tal qual ela estava fazendo e mostrei a quantidade para ela, ela acenou afirmativamente e coloquei no vaso. Chegou então a hora de pegar as minhocas. Fiquei nervosa. Comecei a cavar no terrário, mas não encontrei nada. Nonna veio até mim, colocou a mão na minha mão e balançou a cabeça negativamente. Fez gestos imitando a forma como eu estava cavando, como se estivesse indo com força demais ou violência demais. Colocou as mãos no peito, fechou os olhos e respirou fundo, então cavou. Olhou para mim, apontou para meu coração e disse "qui", depois apontou para os olhos e disse "non qui".
Fiz como ela recomendou. Fechei os olhos, senti minha respiração. Quando ela desacelerou, coloquei as mãos na terra e cavei sentindo o que estava fazendo. Parecia que a terra respondia à minha vibração, pude sentir a energia da terra nas minhas mãos, minha respiração aprofundou e ao longe ouvi Nonna dizer "madre terra". Era como meditar, como mágica. Então senti a minhoca mexendo na ponta dos meus dedos. Peguei uma e logo consegui outra. Abri os olhos e olhei aqueles dois pequenos seres que certamente estavam apavorados sem entender nada, se sacudindo na minha mão. Sorri para Nonna e ela me acompanhou até o vaso novo onde coloquei as minhocas, peguei o vaso da muda, soltei a terra das bordas e transferi muda com terra e tudo para o vaso novo. Em seguida reguei a pequena planta e fiquei admirando, orgulhosa, minha pequena obra de arte.
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Flores como Eu
RomanceApós descobrir a traição de seu marido, Lidia parte em uma viagem de reencontro consigo mesma. Na Itália, ela conhece pessoas que a fazem repensar sua vida e rever suas prioridades. Em um mágico encontro com a natureza e as pessoas, Lidia descobre q...