Adentro o imenso local sendo abraçada pelo ar gelado, porém desejado, do ar condicionado como um cumprimento de boas vindas. Assim como nas últimas três vezes.
Ando apressadamente pelo aeroporto até chegar onde seria o meu "destino". Passo pela porta giratória e pego uma ficha. A ficha oitenta e três.
Sabe o que isso significa? Que tem exatas oitenta e duas pessoas na minha frente. É, definitivamente isso levaria a manhã inteira.
Sento em uma cadeira um pouco afastada do acúmulo de pessoas. Pego no bolso lateral da mochila que usava, uma garrafa de água onde alterno goles e a atenção ao celular.
O relógio marcavam onze da manhã quando fui chamada.
Foram três longas e torturante horas de espera e pensamentos tão aleatórios. Eles fizeram-me pensar se em algum dia, distante ou próximo, seremos tratados como números e não como pessoas com nomes, vidas e famílias. Pois é, me sentia assim lá dentro após todo esse tempo vegetando.
Levantei da cadeira e joguei a mochila não tão grande sobre meu ombro esquerdo. Caminhei rapidamente a atendente que me chamava, ou melhor, que chamava o meu número.
A entreguei a ficha que segurava durante todo esse tempo sem olhar em seu rosto, estava ocupada mandando mensagens para Joe cancelando nosso almoço, já que iria me atrasar e consequentemente atrasar o mesmo para voltar ao trabalho.
— Bom dia, sente-se. Qual o seu problema e como posso resolvê-lo? — Se pronúncia pela primeira vez.
A voz baixa, suave com um resquício de rouquidão me fez tirar os olhos do celular, deixando o mesmo na mesa a qual nos separava a medida que me sentava.
Finalmente falo alguma coisa depois de bons segundos de silêncio.
— Ah perdão, estava resolvendo algumas coisas no celular. Mas sim, você pode me ajudar a resolver. — Sorrio.
— Qual seria seu problema? — Questiona prestativa terminado de amassar o papel que passou entre os meus dedos nas últimas horas e jogá-lo no lixo.
— Preciso de um visto para a Europa. Faz mais de dois meses, tentei tirar pela internet algumas vezes e deu erro então vim aqui 'pra tentar fazer mas deu erro, de novo. Fiz novamente há duas semanas e espero que dessa vez dê 'pra retirar. — Sorrio minimamente.
Estava preocupada, a viagem seria na próxima semana e fazem dois meses que estou tentando tirar o visto. Espero muito que dê certo, não quero decepcionar Joe, já planejamos diversas viagens e nenhuma ocorreu realmente.
— Vou checar se seu pedido de visto foi autorizado. Seu nome por favor? — Pede.
— Maya Emília Morris. — Digo rapidamente.
A observo concordar com a cabeça e digitar em seu computador, pelos movimentos dos seus olhos via que estava procurando, já que os passava rapidamente pela tela e mexia no mouse.
— É senhorita Morris. Seu visto foi negado. Mas aponta erros que não tem, pode ser que seja um erro lá e não com o seu visto. — Franze as sobrancelhas.
— Não tem nada o que possa fazer? Minha viagem é na próxima semana, só preciso disso. — Peço mais uma vez.
— Posso ler novamente e tentar achar algo 'pra corrigir. Mas talvez só mandem o resultado na Segunda-Feira.
— Pode ser. Não tem problema. — Sorrio sem mostrar os dentes e vejo a mesma concordar com a cabeça voltando os olhos para o computador.
A observo, olhos azuis claro mas ao mesmo tempo fortes pela intensidade que observavam as coisas. Sobrancelhas marcadas em castanho claro o que denunciava que seus cabelos podiam ser loiros mas estavam descoloridos em um tom escuro quase preto.
Olho para o seu crachá que caia sobre seus seios na regata branca justa que usará. Billie. Billie Eilish Pirate.
Okay é diferente vamos concordar. Não conheci muitas Billie's mulheres na vida. Eilish é bem desconhecido. E Pirate é o auge da originalidade.
Não entendia os meus olhos que por nenhum segundo se desviavam dela. Nunca tinha visto uma mulher tão bonita.
Na verdade o ser humano em um geral é único. Beleza é algo particular e intimista, por tanto, Billie portava uma beleza bem intimista que me fazia querer olhá-la o tempo inteiro.
Ela seria um quadro ou uma obra de arte perfeita. Venderia ou seria mais famosa que a famigerada Monalisa.
— Então... — Para de falar quando percebe que já estava a olhando e sorri me fazendo sorrir de volta.
— Pode falar, sou toda ouvidos. — Brinco arrancado uma risada dela.
— Então... — Recomeça. — ... Pelo que percebi tem alguns problemas com nacionalidade. Tem certeza que colocou certo?
— Sendo sincera, não. — Rio fazendo a mesma me acompanhar. — Tenho dupla nacionalidade por núcleo familiar. Nunca estive nesse segundo país então não sabia o que colocar.
— Você deve sempre colocar dupla nacionalidade, pois se sua mãe é de um país e seu pai de outro você ganha a dupla cidadania independentemente. — Explica e concordo com a cabeça.
— E agora? Faço tudo de novo? — Questiono.
— Não. Eu edito aqui mesmo e você responde mais umas perguntinhas 'pra mim assim já mando e a resposta vem Segunda-Feira. — Avisa.
— Okay. — Concordo.
— Dupla nacionalidade de quais países?
— Brasil e Estudos Unidos.
— Nasceu no...?
— Nos Estados Unidos.
— Passaporte?
— Americano.
— Tempo de estadia nos Estados Unidos?
— Vinte e um anos.
— No Brasil?
— Nenhum.
— Mãe?
— Americana.
— Pai?
— Brasileiro.
— Pronto. Agora envio de volta, você pode entrar no seu perfil nesse app e checar daí emprime em casa mesmo e coloca entre o passaporte. — Me entrega um papel com o nome do aplicativo.
— Oh obrigada, isso é muito bom, não ter que vir de novo. Toda essa fila é bem chato. — Comento guardando o cartãozinho na mochila.
— Tenho que concordar, ainda mais porque odeio esperar. — Continua o assunto.
— Quem nos dias de hoje gosta né? — Sorrio.
— Estamos um pouco imediatistas, no geral. Precisamos relaxar. — Divide sua opinião.
— Concordo mas tem coisas que não consigo esperar. — Sorrio.
— Dessa vez irá ter que esperar. Seu visto foi enviado. Resultado em 48 horas. Boa sorte. — Avisa tirando os olhos da tela do computador.
— Obrigada. Obrigada mesmo. Tenha um bom dia de trabalho. — Me despeço estendendo a mão para a mesma que a aperta firme mas carinhosamente.
Isso mexeu comigo e não vou negar. Já sou adulta, e cansei de negar sentimentos, apenas os aceito e lido com eles.
Mas esse, olha, não vai ser fácil. Espero nunca mais cruzar com a dona da beleza mais intimista já vista.
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"A visa for Europe, please" • Billie Eilish
FanfictionMaya estava presa no aeroporto há exatas três horas para conseguir um visto e finalmente estar pronta para sua tão esperada viagem romântica à Europa. Nunca pensou, ou sequer imaginou, que desejaria tanto reviver esse momento - mesmo com as três ho...