Me olho no espelho, não muito certo se aquela roupa estava boa, mas de qualquer forma não iria trocar novamente. Hoje era um dia importante e eu realmente não queria distrações. Isso inclue Castiel.
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— Estou pronto. — Castiel apareceu no quarto, trajando um belo terno negro, com a camisa branca, mas fiz uma careta ao ver o nó da gravata mal feito. Me aproximo, ajeitando sua gravata, sentindo o clima esquentar ao ver aqueles olhos penetrantes sobre mim, e antes que me tocasse, eu me afasto, terminando de escovar meus cabelos, os deixando livres e soltos. Não estava criativo para penteados.
— Também estou. — Falo, pondo os brincos de argola e jogando algumas coisas básicas dentro da bolsa. Castiel sorriu, cruzando os braços.
— Você é muito corajoso, sabia? — Comentou, chamando minha atenção.
— Por quê?
— Porque eu tenho certeza, e já ouvi relatos de muitos, que queriam ter a cara e a coragem para andarem livremente na rua da forma como eles se sentem bem. Seja um transsexual ou um crossdresser. Muitos não têm forças ou coragem para se assumirem como realmente são para o mundo. — Sorri fraco, terminando de passar o batom nude.
— O mundo é cruel, Castiel. E se hoje sou assim, é porque tive o apoio fortíssimo dos meus pais, coisa que infelizmente muitos não têm. Eu não devo nada a ninguém, então os outros não tem que opinar no que eu visto ou deixo de vestir. — Rebato, passando meu perfume e jogando meus cabelos para o lado. — Vamos? Estamos atrasados. — Falo, passando por ele e seguindo para o estacionamento.
— Flynn, por que está tão distante comigo? — Castiel questionou, adentrando o carro. Dessa vez, eu que iria dirigir.
— Não vamos retornar a esse assunto. — Rebato, dando a partida.
— Ah, vamos sim! O que está querendo?! Me enlouquecer?! — Exclamou, irritado. O olho de relance, enviando um sorrisinho presunçoso.
— Não é hora para ficar de mal humor, querido. Coloca o seu melhor papel de ator e vamos convencer a todos que somos o casal mais apaixonado desse mundo de merda. — Ironizo, com uma animação forçada. Ele bufou, revirando os olhos.
— Se não fugisse de mim, seria bem fácil convencê-los. — Comentou, me fazendo notar nitidamente a malícia em sua voz. Apenas o ignoro, voltando minha atenção para a rodovia.
Hoje seria o primeiro desfile da minha empresa, com a coleção nova de inverno. Eu estava nervoso. Tudo dependeria especialmente de hoje a noite. Necessitava de fornecedores para a coleção e se eu não conseguisse, era capaz de cair na linha vermelha, prestes a cair na falência, já que meus pais sabiam administrar isso melhor do que eu.
Eu desenhei a maior parte da coleção, e confesso não ter muita certeza se meus modelos chamariam a atenção do público e da mídia, mas gastei uma fortuna com as modelos e os tecidos, resolvi endo arriscar MUITO em todos os sentidos. E pensar nisso o dia todo estava me deixando extremamente nervoso.
Assim que chego ao local, estaciono o carro em minha vaga. O salão estava lotado, tanto fora como dentro. Isso poderia ser ou muito bom, ou muito ruim. Saio do carro, junto com Castiel, que logo me ofereceu seu braço. O encaro, sem escolhas, e enlaço meu braço ao dele, seguindo pelo longo tapete vermelho, parando no meio para que os fotógrafos registrassem o momento.
E logo adentramos ao imenso salão. Olho em volta, vendo alguns funcionários da empresa e parentes distantes. Alguns empresários famosos que poderiam contribuir com minha coleção, caso gostassem dela. Eu realmente estava extremamente nervoso, e tendo quase a certeza de que meus modelos não eram de um profissional. Afinal, eu comecei a faculdade faz pouco tempo e só desenhava modelos por prazer, não por trabalho, não para todos verem e criticarem.
— Ora, veja só, o que temos aqui. — Minha avó apareceu na minha frente, com aquele mesmo olhar frívolo e enojado. — Quero muito ver esse seu lindo fracasso. Será a porta de entrada para a herança que meu filho realmente merece. — Zombou, com um sorriso debochado. Ergo a cabeça, com um olhar superior.
— Espero que esteja acomodada na primeira fila, para ter uma melhor visão do desfile, afinal... senhoras de idade tendem a ter a visão mais danificada. Espero que aprecie, pois realmente não vai ser nada do que você espera. — Retruco, puxando Castiel junto comigo até as cadeiras disponíveis ao redor do palco onde as modelos iriam desfilar.
— Quer um? — Castiel ofereceu uma taça de champanhe, na qual o garçom passou servindo.
— Não, obrigado. Preciso estar 100% lúcido esta noite. Será que está tudo certo lá no camarim? — Questiono, preocupado.
— Vai lá conferir. Eu guardo seu lugar. — Ditou, e eu não pensei duas vezes em fazer isso. Fui direto para o camarim, vendo minhas modelos já vestidas e terminando apenas os retoques da maquiagem.
— Oi, Amanda. Tudo bem, por aqui? — Questiono, olhando em volta.
— Sim, tudo como pedido, mas... tem certeza que vai querer o desfile... dessa forma? Seus pais tinha um padrão que todos estão acostumados a ver. Vai ser um choque para todos.
— Não ouse alterar absolutamente nada do ordenado. Eu quero que esse desfile seja apresentado exatamente da mesma forma que fora planejado. Entendido, Amanda? — Ela suspirou, não muito convencida.
— Tudo bem, mas é arriscado. Muito arriscado. Como sua assistente devo diver que isso não vai atrair os olhos de ninguém.
— Eu assumo a responsabilidade. Prepare as meninas e os demais modelos. Estou ansioso demais para esperar. — Ela assentiu, correndo pelos corredores e organizando a ordem de entrada dos modelos. Volto para o evento, sentando em meu lugar, ao lado de Castiel. E até mesmo aqui ele chamava atenção. Fotógrafos não paravam de tirar fotos nossas e Castiel realmente não parecia se importar. Algumas meninas ofereciam bebidas e sorriam para ele. E posso dizer que aquilo estava me deixando mais nervoso do que eu já estava.
Vejo mais um fotógrafo se aproximando, e rapidamente puxo o rosto de Castiel em minha direção, o beijando inesperadamente. Ele se assustou à princípio, mas sorriu durante o beijo, retribuindo e pousando a mão em meu rosto. Eu podia ouvir os incontáveis flashes em nossa direção, e talvez os olhares de derrota dos esperançosos que queriam Castiel essa noite.
Paro o beijo, vendo ele sorrir largo para mim.
— Saudades? — Questionou, fitando minha boca.
— Eu diria mas como uma marcação de território. — Rebato, vendo ele ri, pegando minha mão e a levando para seu colo, não a soltando mais a partir daí.
Logo anunciaram o início do desfile, e minha avó fez questão de se sentar ao meu lado, olhando torto para Castiel que estava de mãos dadas comigo. Sorri, encostando minha cabeça no ombro de Castiel, ignorando qualquer um que se sentisse incomodado com o nosso envolvimento.
Só espero que esse desfile não seja um desastre...
