Capítulo 7

937 80 105
                                    


Postura...

Alongamento...

Sinta os movimentos...

Ame a dança...

Deixe seus pés a guiarem para o mais sublime paraíso...

Esqueça o mundo lá fora, se concentre no seus passos...

Aqui é apenas você e suas sapatilhas...

Tolere a dor, mas não deixe que ela lhe domine...

Força, rigidez, dor... Amor...

Seja seu próprio desafio, persista...

Pague todos os preços para alcançar seu sonho!

Todas essas frases martelavam a cabeça de Anahí, desde o primeiro dia da aula de Ballet. A dança que lhe motivava a mentir para os pais, era a mesma que lhe fazia imensamente feliz. Não que ela gostasse de enganá-los, mas estava disposta a fazer o que fosse preciso, para seguir o seu sonho. Não contar com o apoio deles a machucava, mas a ideia que era a única responsável por buscar a própria felicidade a encorajava a prosseguir. No entanto, a rotina estava no mínimo exaustiva.

Para não levantar suspeitas, nos dias que precisava ir ao Studio, Anahí não almoçava em casa, inventava uma desculpa para os pais que iria estudar na casa de Sophia, e eles acreditavam, uma vez que as notas não estavam nada boas e ela precisava se dedicar. Quando na realidade, as atividades escolares só eram feitas por ela na madrugada, quando o despertador programado para acordá-la a lembrava das suas obrigações e responsabilidades.

Tudo parecia bem, a felicidade por rodopiar em cima das suas sapatilhas era o suficiente para que ela não desistisse, mesmo quando o corpo parecia pedir descanso. E ela descontava tudo em infindáveis horas de sono, principalmente nos finais de semana, em que se abstinha de sair com os amigos para dormir. Alfonso enviava inúmeras mensagens, e ela sequer respondia, Sophia e Maite reclamavam da ausência da melhor amiga, mas Anahí sempre tinha uma boa desculpa.

Era noite de sexta-feira, Jesse e Alfonso jogavam vídeo-game na sala, concentrados na final do campeonato de futebol, quando Anahí chegou fazendo o mínimo barulho possível com as chaves, e seguiu rumo a escada sem cumprimentá-los.

Alfonso

Desviei o olhar para a esquerda, e pude ver o vulto subindo as escadas apressadamente, mas não rápido o suficiente para que eu deixasse de notar as meias rosas por baixo de um vestido do mesmo tom, talvez para disfarçar o verdadeiro motivo de usá-las. Já faziam alguns dias que não conversávamos, a garota estava sempre com sono, o que começou a realmente me preocupar. Principalmente pelo fato de ter certeza que ela levaria o próprio corpo ao limite para não dar um passo sequer atrás em sua decisão. Insisti em ligar inúmeras vezes, mas sempre rejeitava e me respondia com um boa noite ou bom dia.

Quando Jesse pausou o jogo para atender uma ligação, inventei a desculpa que iria ao banheiro para vê-la. Bati na porta algumas vezes e ela não respondeu, então abri vagarosamente, e a avistei deitada na cama, os cabelos espalhados pelo colchão, os pés estavam pendurados para fora ainda com a tal meia, enquanto bombeava o bronco dilatador entre os lábios.

— Você sabe que assim diminui a eficácia, não sabe? Precisa estar em uma posição ereta para absorver a medicação. – Me adiantei encostado no vão dá porta.

— Eu sei, mas não consigo ficar em outra posição, que não essa. – Anahí respondeu, a voz falha quase inaudível.

— Garota... – Ponderei alisando as têmporas, antes de dar mais alguns passos e sentar ao seu lado na cama. – Você precisa descansar, eu não consigo imaginar as loucuras que anda fazendo para dar conta de tudo.

O Preço de um SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora