Anahí
— Você tem que ir embora. – Digo, depois de alguns minutos em silêncio. Ainda posso sentir o calor do corpo nu ao meu lado. Alfonso, assim como eu, está fitando o teto, o peito subindo e descendo ainda meio descompassado.
Se estou arrependida? Não sei se essa pode ser a definição certa para o que estou sentindo agora, mas ao fechar os olhos e lembrar do que acabou de acontecer sinto uma vontade imensa de proferir os piores palavrões possíveis. Não posso dizer que não foi bom ou que não gostei, estaria traindo meu próprio corpo, aliás, o mesmo corpo que agora, estranhamente, se encontra completamente relaxado depois do... não sei, quarto orgasmo? Não me lembro da última vez que isso aconteceu, não me recordo sequer da última vez em que perdi as rédeas desta forma enquanto gemia e tentava controlar gritos desconexos no meio de um bilhão de sentimentos conforme as mãos, e a boca de Alfonso, se me permitem dizer, estavam me conduzindo para uma explosão de sensações das quais ainda tento me recuperar.
— Isso não deveria ter acontecido – retorno a falar depois de mais alguns minutos de silêncio, não estou olhando suas feições, mas posso ouvir o suspirar baixo que ele deixa escapar ao meu lado.
— Você quis tanto quanto eu – ele finalmente diz algo.
— O que não altera o fato de que não deveria ter acontecido – reafirmo, puxando o lençol fino até a altura dos meus seios. Me apressei em sentar na cama, somente para me arrepender no mesmo instante do movimento brusco; minhas coxas estão doloridas, bem como a pontada que sinto no interior de meu sexo. Não é um desconforto ruim, afinal.
— Espera – Alfonso diz rapidamente, tocando meu pulso, me impedindo de levantar de vez. Engulo em seco antes de olhá-lo.
As palavras ainda que não proferidas em voz alta parecem rodopiar pelo ar.
Qual seria o próximo passo? Tenho certeza que essa é uma dúvida que temos em comum agora.
Alfonso parece repensar umas mil vezes o que quer que tenha para dizer. Sinto sua mão afastar-se de meu pulso, seu rosto se transformar em várias expressões das quais me sinto impossibilitada de decifrar.
Inferno, posso ver seu rosto relaxado, apesar da tensão pelo que provavelmente está prestes a falar. No entanto, ao invés de dizer algo, ele parece desistir no meio do caminho enquanto ergue o próprio tronco, faz tudo numa rapidez tão grande que de repente já está pegando suas peças de roupa no chão para vestir-se.
A ausência de seu corpo próximo ao meu me causa um desconforto incomum. Talvez eu devesse pedir para que ele ficasse? Quem sabe se deixássemos as explicações e os questionamentos para amanhã? Meu corpo poderia facilmente encaixar-se ao seu, adoraria recostar-me em seu peito e deixar que seus braços me acolhessem, então deixaríamos aquela noite passar e como em um passe de mágica, quando estivéssemos acordando no dia seguinte, seríamos como a Anahí e o Alfonso de anos atrás, a mesma cena que se repetiu inúmeras vezes enquanto eu ainda era a sua Anahí, a adolescente inconsequente e arredia, e ele era meu Alfonso. Sem paradoxos, sem um muro de metros incontáveis entre nós dois.
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O Preço de um Sonho
FanfictionPlié... Demi Plié... Grand Plié ... O que te move? Para onde você quer ir? Qual seu objetivo? O que te faz feliz? Ou melhor, o que você faz para alcançar a própria felicidade? Não escolhemos os próprios sonhos, eles nos escolhem. Acredite no seu so...