Paixão Perigosa

Capítulo 12.

2011, Paraisópolis - SP.

Comecei meu curso faz duas semanas. Quando estou na faculdade é quando estou em paz. Minha casa havia virado um inferno. Já torcia para amanhecer e eu poder vir correndo para a faculdade e passar a manhã por aqui, às vezes inventava que tinha aula até um pouco mais tarde mas Augusto havia descoberto meu horário. Sempre me inscrevia em palestras ou aproveitava outras disciplinas antecipadamente, eu não queria mais ir para casa.

Augusto brigava comigo por tudo, pela roupa que eu vestia e pela maquiagem que eu passava. Havia colocado em sua cabeça que eu tinha outro e que por isso queria fazer faculdade, que disseram para ele que eu estava tendo um caso com outro homem. O que mais me dava medo era que agora as ameaças eram reais, era Augusto mesmo, não era um Augusto drogado.

Ele também queria sexo, queria sexo todas as noites e até mesmo me obrigou a fazer enquanto eu sentia cólica. Ele jamais havia feito isso. Cortou minhas compras na farmácia da favela, eu não podia comprar as pílulas. Agradeci por ter feito amizade com uma garota da faculdade, ela sempre comprava as pílulas por mim. Ele não me dava mais dinheiro, não me dava mais o cartão. Augusto queria que eu engravidasse. 

Eu queria muito ir embora, mas ele já havia dito que me perseguiria até o inferno. Ele vivia repetindo que eu era a propriedade dele, que eu devia minha vida a ele. Não se importava mais com meus sentimentos, com minhas dores... ele me usava com bem queria. Fazia um abuso psicológico todos os dias em minha mente. Eu já não aguentava mais, só queria que ele me matasse de vez. Eu não aguentava mais.

Minha felicidade era poder fazer o que eu gostava, poder estudar e aprender mais sobre minha futura profissão. Se eu não morresse até lá.

Augusto tomou posse de sua verdadeira identidade, ele havia assumido sua identidade ''Coringa'' e deixado aquele homem carinhoso para trás de vez. Eu já havia tentado conversar, mas ele não conversava mais comigo, não me escutava, não se importava. Ele estava no modo automático e eu também. Eu sempre ficava calada quando chegava em casa, ele também. Não havia mais amor, não havia mais paixão e não havia mais lembranças.

Tudo havia acabado.

Hoje não era um dia diferente dos demais. Acordei cedo, tomei um banho e já fui correndo para a faculdade. Augusto não havia dormido comigo, inventei estar com muita dor de cólica e dessa vez ele pareceu acreditar. Eu chorei a cada toque que ele me dava, berrei de dor, mesmo sem estar sentido. Ele me deixou esses últimos três dias, só ficava apertando minha mente mesmo. Sim, eu havia começado a mentir e ser uma boa atriz. Eu precisava fazer isso para me salvar.

Cheguei na faculdade e fui direto para a minha sala, a aula só começaria em uma hora e eu usei essa hora para dormir em paz e pensar um pouco mais na vida. Eu não conseguia mais dormir, passava a noite toda com medo dele fazer o pior comigo. Me torturar, me matar, me espancar... eu sempre esperava o pior.

Acordei com Maria sentando ao meu lado, era a minha única amiga da faculdade. Ela era muito fofinha e meio antissocial. Era baixinha, usava óculos e tinha os cabelos loiros. Maria sempre conseguia me fazer sorrir, sempre me trazia lanche - muita das vezes eu não comia em casa justamente para não aturar Augusto - e me ajudava na questão das pílulas. Eu não entendia bem, mas Maria parecia ser de verdade. Toda Maria era um anjo na minha vida, essa Maria não era diferente.

─ Nossa, meu ─ seu jeitinho paulista me fazia sorrir. Ela era paulista raiz. ─ Sua cara está péssima. Como vai ser dona de uma clínica de estética com essa cara? Pega um pão de queijo para melhorar sua manhã.

─ Nunca entendi como pães de queijo podem melhorar minha cara cheia de olheiras.

─ A comida ajuda bastante, eu sempre fico feliz quando como.