Capítulo 06.

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2011, Paraisópolis - SP.

Eu fiquei aérea após a invasão, não conseguia mais me concentrar em nada, apenas relembrar da morte bem de pertinho e de Guerra e seus olhos azuis. A nossa casa ficou toda destruída, eles derrubaram o portão e quebraram a porta de vidro toda. Augusto ficou possesso de raiva, não parou de falar um minuto que mataria Guerra. Eu só pude ficar na minha, não contei nada e nem mesmo me meti em algo... tudo ainda estava muito confuso.

Guerra havia levado vários papéis importantes de Augusto, vários quilos de drogas e armamentos... causou um prejuízo enorme para Augusto. Muita gente morreu, muita gente ficou ferida e o caos só foi parar em Paraisópolis hoje, uma semana após a invasão. 

Guerra deixou claro que só iria parar com as invasões caso Augusto se entregasse, ele estava marcado, vários crimes e a ficha podre de suja. Enquanto ele estava escondido, eu quase fui estuprada e morta. Era tudo culpa dele, mas me mantive calada para não gerar mais confusão.

Ele agora vivia na boca, estava tentando por tudo recuperar os prejuízos que foram causados com a invasão... em casa eu tentava reaproveitar algumas coisas e já havia comprado outras. Eles não deixaram nada para trás, até mesmo nossas fotografias foram quebradas.

Pedi que dona Joseane ficasse comigo durante esses dias, eu não estava bem, estava com uns pensamentos ruins e só queria paz. Só queria esquecer tudo isso e ir embora. Queria ir embora pra bem longe. 

Agradeci que Augusto não estivesse parando em casa esses dias, eu não queria ele perto de mim. Só de olhar na cara dele já sentia remorso, só queria que ele morresse e me deixasse em paz. Era pedir muito? Eu só me fodia por causa de Augusto. 

─ Filha, já vou indo, tá bom? ─ dona Joseane avisa beijando o topo da minha cabeça. ─ Você tá bem? Vai ficar bem sozinha?

─ Vou sim, logo Augusto chega em casa ─ digo gentil e abraço a mesma.

─ Qualquer coisa me liga, tá bom?

─ Tá bom, tia... muito obrigada por tudo.

E então ela vai embora. Já era oito da noite, Augusto passou o dia fora de casa resolvendo algumas pendências, não veio nem almoçar. Ainda bem.

Fui jantar após a saída de dona Joseane. Coloquei arroz branquinho, torta de camarão, feijão e salada... não estava com muita fome, mas precisava forrar meu estômago, não podia ficar viajando por causa daquele episódio. 

Comi rápido, tomei um copo cheio de suco e liguei a televisão no noticiário, estava passando o jornal de São Paulo, ainda falando sobre a invasão em Paraisópolis e as mortes dos bandidos no confronto. Meu corpo todo se arrepiou quando Guerra apareceu todo encapuzado, segurando sua fuzil, fardado... ele era alto, muito alto e forte. Não reparei muito bem nele no dia do confronto porque estava muito nervosa, mas agora o vendo pela televisão consigo reparar melhor. Os olhos azuis dele se destacavam na farda preta, ele emanava autoridade. Era comandante da operação em Paraisópolis. 

─ As invasões continuam, só vão parar assim que Coringa se entregar ─ ele fala para o repórter. ─ A polícia não vai desistir, nós vamos defender a sociedade até o último momento. Esse é o nosso trabalho.

Os cabelos do meu corpo ficam de pé, eu não sabia o que esse homem tinha que me incomodava tanto. 

Saio dos meus pensamentos quando a porta é aberta, nem notei Augusto chegando. Desliguei a televisão em imediato, me ajeitei no sofá e o encarei. Ele estava drogado, isso era notável de longe. Os olhos vermelhos, a braço cheio de picada de agulha, o fedor insuportável de maconha... ele prometeu que não usaria mais nada.

Paixão PerigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora