Capítulo 22.

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2011, Paraisópolis - SP.

Ouço vozes, passos e sons irritantes. Meu corpo todo dói e minha cabeça também. Algo apita, o som faz minha cabeça doer. Abro meus olhos com muita dificuldade, minhas pálpebras estão pesadas e meus olhos ardendo. Parecia que alguém havia jogado pimenta dentro dos meus olhos. Eu solto um gemido de dor.

Sinto um perfume no ar. Um perfume forte. O perfume de Guerra. Logo sinto mãos fortes segurando minha mão. Abro meus olhos mesmo com toda a dor e sinto uma claridade enorme incomodar minha visão, mas logo minha vista volta ao normal e consigo enxergar o homem alto de olhos azuis em minha frente.

─ Estou sonhando ou você é gato assim mesmo? ─ pergunto com dificuldade. Minha garganta estava seca como uma lixa.

Vejo um sorriso brotar nos seus lábios e ele despejar um beijo em minha testa. Ele estava de camisa básica e calça jeans, exalava um perfume maravilhoso. Seu rosto estava abatido, seus olhos estavam fundos. Ele parecia muito cansado.

─ Oi, garota ─ ele segurou em minha mão e a balançou. ─ Já percebeu que dois dos nossos encontros aconteceram em hospitais?

─ Uhum ─ tento me remexer no leito mas tudo dói. Olho para o meu corpo coberto por um edredom fofinho e faço um esforço para tirar o edredom e encarar minhas pernas. Lágrimas brotam em meus olhos ao ver minha perna no mesmo lugar. Porra, eu fiquei muito feliz. Ela estava enfaixada, mas pelo menos estava ali.

─ Você não perdeu a perna, o médico fez o possível para recuperá-la. Tinha muito tecido necrosado então foi preciso fazer uma raspagem. Você ficará com uma cicatriz um pouco grande.

─ Não ligo para cicatriz ─ deixo que uma lágrima deslize pelo meu rosto. ─ Só o fato de ter minha perna aqui já me causa muita alegria.

─ Você terá que fazer fisioterapia também, foram cinco dias desacordada e horas sem mover a perna... seus músculos acabaram sofrendo um pouco com isso. Vai ser uma recuperação dolorosa, mas você logo estará andando.

Eu abro um sorriso e o puxo para um abraço quentinho, descanso minha cabeça em sua barriga e deixo que as lágrimas deslizem pelo meu rosto e molhem a camisa dele. Caraca, eu estava viva e com minha perna. Eu estava viva!

─ Você é um milagre, garota ─ ele diz baixinho. ─ Te perdemos por três minutos, você passou três minutos morta. Três minutos. E se você ficasse mais três horas com a coxa exposta, teria que amputar sua perna toda.

Deus havia me dado uma nova oportunidade, Ele havia me ajudado, Ele havia me dado três horas e três minutos. Eu não sabia descrever o quanto estava grata, não sabia descrever o quanto era bom poder respirar e abraçar Guerra por mais que todos os episódios passados tenham sido de pura dor. Eu confesso que queria morrer, mas porra, era ótimo estar viva.

─ Guerra, onde está Augusto? ─ ergo minha cabeça e ele limpa minhas lágrimas. Seus olhos azuis estão escuros, ele está sério, algo parece o incomodar muito.

─ Preso.

Eu suspiro de alívio.

─ Eduarda? ─ escuto alguém chamar meu nome e logo vejo Maria surgir. Ela corre para me abraçar e chora feito um bebê enquanto beija meu rosto. ─ Você finalmente acordou... finalmente.

Ela me abraça tão forte que fico com falta de ar. Eu amava aquela baixinha dos cabelos loiros. Eu amava ela. Não sabia explicar nossa conexão.

─ Hum, estou recebendo muito carinho... estou gostando disso.

─ E vai receber muito mais a partir de agora.

Encaro Guerra que estava de braços cruzados, ele me olhava sem esboçar nenhuma expressão, como sempre. Entretanto, sua irmã tira minha atenção e eu volto a olhar bem no rosto de Maria.

Paixão PerigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora