Capítulo 37.

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2011, São Paulo - BR.

Eu sinto minha cabeça doer muito e um gosto amargo tomar conta da minha boca. Abro meus olhos e estou num campo, um campo distante. Era um campo verdinho e cheio de flores, o campo mais lindo que já vi em minha vida. O céu estava azulzinho, completamente perfeito. Continuei deitada ali sem vontade alguma de levantar. Fechei meus olhos de novo mas logo senti alguém tocar meu braço. Abri meus olhos lentamente e dei de cara com dona Maria. Ela estava ali, toda de branco, com seus cabelos soltos e seus olhos verdes brilhantes. Era a mulher que conheci antes do câncer tomar de conta da vida dela. Era a minha mãezinha, a mulher que mais me deu força no mundo.

─ Oi, mãezinha ─ eu disse toda dengosa, ela me pegou no colo e me abraçou forte. Não disse nada, apenas me aconchegou em seu colo e fez carinho nos meus cabelos. ─ Onde nós estamos?

─ No paraíso, minha filha ─ ela diz baixinho, sua voz aquece meu coração e eu abro um sorriso enorme de pura felicidade. ─ Aqui é só paz.

─ Hummm ─ fecho meus olhos aproveitando aquele sol e a paz que emanava daquele campo. ─ Não quero ir embora daqui não.

─ Mas você precisa, meu amor ─ ela diz olhando no fundo dos meus olhos. ─ Você é uma Maria, todas as Marias são mulheres sofredoras e que lutam até o fim. Maria é nome de mulheres fortes... você é uma mulher forte.

─ Mas eu já lutei muito, mãe... tô cansada.

─ Está cansada, mas ainda não é sua hora. Você precisa cuidar do meu netinho, precisa ser feliz e ver que a vida não é só sofrimento. Tudo passou, agora vai ser só felicidade em sua vida.

─ Você promete? ─ eu abro um sorriso e ela concorda. 

Ela se levanta e estende sua mão para mim. Vejo uma criancinha correr em nossa direção e segurar nas pernas de dona Maria. Era um menininho lindo, de olhos verdes e cabelos castanhos... idêntico a Augusto quando criança. Ele me olha e sorri sapeco, vem em minha direção e me abraça forte. 

─ Quem é esse bebê gorducho e lindo? ─ pergunto apertando as bochechas dele.

─ Meu primeiro netinho... seu filho. Eu que cuido dele por aqui, ele é muito feliz e nós somos muito orgulhosos de você. Todos os dias olhamos você daqui e torcemos juntos por você.

Eu encaro aquele bebê e lembro do meu aborto. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu abraço forte aquele bebezinho, meu filho, meu garotinho lindo. Ele estava aqui, era a coisa mais linda e eu nunca mais queria o largar. Eu choro ao ver o quanto meu filho é perfeito, o quanto ele é lindo e o quanto ele está bem com sua vovó.

─ Eu não quero sair daqui, dona Maria ─ embalo meu filho no colo e acaricio as bochechas dele que eram grandes e rosadas. Ele ri para mim, seus dentinhos são curtinhos. ─ Eu quero ficar com você e cuidar do meu filho... por favor.

─ Mas e seu outro filho? O que está na sua barriga? ─ desço meu olhar e vejo minha barriga pontuda. Sinto meu outro bebê se remexer e abro um sorriso. ─ Se você ficar aqui, não vai conhecer seu filho e muito menos cuidar dele. 

─ Cuidar do irmãozinho, mamãe ─ meu filho diz e beija minha barriga, todo sapeca. 

─ Você é muito amada, minha filha... todos estão esperando ansiosos por você. Vai meu bem, eu cuido do meu netinho.

─ Eu te amo muito, mamãe ─ ele diz e me beija molhado no rosto. 

─ Nós te amamos muito, Maria Eduarda ─ dona Maria diz e me abraça forte.

Eu só consigo chorar... só consigo chorar e sorrir de felicidade. Uma felicidade que mal cabia no meu peito. Finalmente a tal felicidade.

Paixão PerigosaOnde histórias criam vida. Descubra agora