2011, Paraisópolis - SP.
Duas semanas depois.
Duas semanas se passaram voando, eu havia melhorado bastante e os machucados já estavam saradinhos. Nesses dias, Augusto me deixou de mão e cuidou bastante de mim. Fiquei cinco dias de cama porque meu braço estava doendo demais por ter saído do lugar, mas agora já nem sentia mais, mesmo assim Augusto pediu que eu ficasse em repouso total. Eu acatei.
Dona Joseane veio trabalhar aqui em casa durante essas semanas e até que o quesito da solidão havia melhorado bastante. Ela cozinhava, conversava comigo, arrumava a casa e me fazia uma companhia maravilhosa. Conhecia dona Joseane desde meus sete anos, ela era amiga de mamãe, sempre foi um ser maravilhoso e prestativa.
Augusto ficou ao meu lado durante essas semanas, quase não saía e estava sempre tentando me agradar. Eu não havia esquecido as agressões e não esqueceria, entretanto, fazia o possível para deixar de lado aquele dia e manter um clima agradável entre nós dois. Eu estava me esforçando mesmo. Um lado do meu corpo gritava para eu ir embora, mas outro me dizia para ficar e esperar.
Eu sabia que ele não mudaria, nem guardava esperanças, minhas esperanças foram embora faz tempo. Eu só estava esperando a próxima agressão e rezando para que ele me matasse.
Hoje era sábado, acordei cedo e preparei o café mesmo dona Joseane tentando me impedir. Coloquei o banquete no jardim e comi na companhia dela que conversava sobre tudo comigo. Augusto ainda dormia, ele não foi ao baile de ontem e preferiu assistir um filme comigo, como nos velhos tempos. Eu sei que era só uma máscara, logo o Augusto malvado estava de volta, não durava um mês.
Ele não largaria o tráfico, não largaria as drogas, não mudaria. Eu não iria mais me iludir.
Lá pelas oito da manhã ele desceu já banhado, me deu um selinho, tomou café e já foi vestindo a camisa e pegando seu revólver.
─ Dona Joseane, pode colar na tua goma hoje, tu já fez muito por nós ─ ele tira três notas de cem da carteira e entrega nas mãos de dona Joseane que fica toda sem jeito.
─ Não tem problema nenhum, gosto de fazer companhia para Madu ─ ela diz gentil. ─ Volto na segunda?
─ Sim, vai descansar um pouco ─ ele diz me olhando e observo ela se levantar indo buscar a bolsa dela.
Augusto se aproxima, senta ao meu lado e me dá um abraço de lado.
─ Cê tá melhor, patroa? ─ ele despeja um beijo no meu ombro, eu apenas balanço a cabeça, fiquei muda nos últimos dias. Namoral, não queria mais desperdiçar saliva com Augusto. ─ Vou buscar o menor, Thais vai passar o dia no asfalto e pediu que eu ficasse com o moleque.
─ Beleza, faz tempo mesmo que você não fica com seu filho.
Sim, Augusto tinha um filho. Ele havia me traído com Thais, uma menina que também já foi minha amiga um dia. De acordo com Augusto, ele me traiu quando brigamos e não usou o preservativo, Luís veio ao mundo, só descobri depois que ele nasceu. Nesse dia eu quis ir embora, tinha dezessete anos e fiquei extremamente triste por isso... Augusto implorou pelo meu perdão, disse que tinha sido um erro, eu o perdoei.
Me arrependo de não ter ido embora nesse dia.
─ Tu tempera a carne e coloca pra assar? Vou comprar umas cervejas e chamar os moleques.
─ Tudo bem ─ digo cabisbaixa.
─ Beleza, morena ─ ele beija minha testa e se levanta.
Ele espera dona Joseane vir e dá uma carona para ela, me despeço com um abraço apertado e agradeço por tudo que ela fez por mim. Ela sempre cuidou de mim, desde a morte de dona Maria.
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Paixão Perigosa
Ficção AdolescenteMaria Eduarda é casada com José Augusto, chefe do tráfico de drogas de Paraisópolis, que a faz sofrer diariamente com humilhações e agressões. Em uma tarde de invasão da polícia em Paraisópolis, entre tiros e perigo, ela conhece Guerra, que mudará p...