Nuvem Cinzenta

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Aconteceu alguma coisa essa última viagem de Nigthwolf. Não sei se por eu ter tido acesso a tenda dele ou Raposa comentou algo sobre mim. Eu o sentia mais próximo, como se ele tivesse tomado coragem de enfrentar a fera má que eu era. Não porque sentamos lado a lado para almoçar, pois em todas as vezes que ele estava na aldeia ele nem sentava ao meu lado. O importante é que ele não estava sendo indiferente a mim, e isso me deixava feliz.

Após terminarmos de almoçar, Coiote veio até mim e ia pedir algo quando Nightwolf interferiu:

- Já tenho uma tarefa para ela.

- Ah claro, com certeza é um trabalho leve que vai dar ela como sempre fez.

- Dá um tempo! - deixei escapar e logo coloquei as mãos na boca.

Já estava sentindo que ia levar uma reprimenda quando Nightwolf disse colocando sua mão em meu ombro:

- Vá para a entrada da aldeia e me espere lá.

Dei uma olhada sem graça para Coiote, que me fuzilava com o olhar e fiz o que Nightwolf me pediu. Enquanto o esperava, fiquei pensando em como eu tive coragem de peitar o Coiote. Comecei a rir sozinha da situação. Senti-me um pouco culpada, confesso, mas ele merecia. Era o mínimo que eu podia fazer depois de ele ter me ameaçado com um punhar apontado para a minha garganta.

Nisso vi algumas hortências próximas de onde eu estava. Lembrei-me de minha tia e de como ela gostava de dessas flores. Tinha várias plantadas em seu jardim e ela cuidava bem delas.

- Gosta dessas flores? - ouvi a voz de Nightwolf me perguntar.

- Minha tia também tem hortências. Cuida delas com muito zelo. - levantei falando.

- Sua tia tem bom gosto por flores. - ele falou com um sorriso terno.

Começamos a caminhar pelos arredores onde havia algumas árvores frutíferas das quais eu podia sentir nitidamente os seus aromas. Tudo aquilo me fazia sorrir como uma boba. Onde na cidade na qual eu morava eu teria aquela experiência olfativa? Fiquei surpresa ao ver Nightwolf me olhando. Aquela troca de olhares que tivemos mexeu comigo, foi um susto agradável, se é assim que posso dizer.

- O que houve? - perguntei como quem não quer nada

- Estou impressionado em como você está feliz por apenas dar esse passeio. Nunca veio aqui?

- Nunca me deixaram vir aqui. As vezes que saio é para ir ao rio me banhar. Estou sempre sob vigilância.

- Raposa comentou comigo - disse ele se sentando em uma pedra - que você lamentava por não te deixarem sair um pouco da aldeia. Mas você deve saber bem o motivo.

Sim, eu sabia. Dava para contar nos dedos os que confiavam em mim, e eu nem queria saber o que passava sobre as suas mentes, coisa boa não era. Apenas anui com a cabeça, mas o questionei:

Estranhos PássarosOnde histórias criam vida. Descubra agora