madrugada

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pov Adora on

-A família que te adotou Catra, a que veio de outro estado -expliquei o que eu sabia- eu fiquei feliz por você quando soube, de verdade.

-O quê? Você tá drogada? -a felina berrou ferozmente

-A diretora Weaver...

-ELA ME JOGOU NA RUA! Foi isso que ela fez Adora, um ano depois de você me abandonar, ela me expulsou. Eu nunca fui adotada diferente de você.

Os olhos da felina se encheram de lágrimas, meu coração se partiu em mil pedaços ao vê-la assim. Catra não merecia isso.

-Catra eu não sabia desculpa -coloquei minha mão em seu ombro tentando passar uma imagem de apoio

A felina abruptamente segurou meu pulso e o soltou longe de si, baixou os olhos por alguns segundos e os voltou para mim. As lágrimas haviam secado, e eu pude ver uma mistura de raiva e frustração.

-Você prometeu, e me abandonou Adora.

Catra se virou e me deixou sozinha naquele banheiro de bar.

Uma semana se passou, e Catra me ignorou todos os dias, sem exceção. Eu não tinha a mínima noção da real situação dela, pelo o que ela devia ter passado? Se meter com a Horda não era boa coisa, e ainda mais ser jogada na rua com doze anos.

Shanon Weaver mentiu para mim, e provavelmente mentiu para ela também. Era isso que ela fazia, quando lembrava de nossa existência, nos manipulava.

Eu ainda tinha pesadelos com ela. E quem sofreu muito mais na mão dela foi Catra, o trauma que ela deve sentir..

Chorei, chorei a madrugada inteira, até secar. Eu prometi que nunca abandonaria ela, éramos duas órfãs crescendo juntas, se apoiando e amando uma a outra. Eu precisava dela tanto quanto ela precisava de mim.

Então uma manhã, a diretora me chamou enquanto Catra ainda dormia. Lembro de suas palavras exatas:

-Uma família aceitou acolher Catra, e ainda melhor, outra te quer Adora!

-O quê? A gente não vai mais se ver?

-A família dela é de outro estado querida, mas pense em como ela vai ficar feliz quando descobrir, eles vão buscá-la ao meio dia. Enquanto isso arrume suas coisas, a sua chega daqui dez minutos

Como eu não percebi que algo estava estranho? Eu era inocente, isso é fato. E Weaver se aproveitou disso. Assim pelo menos não fomos separadas à força.

Peguei meu celular e vi que já eram seis da manhã de sábado. Eu não podia esperar, precisava falar com ela. Eu soube que algumas pessoas da Horda moravam numa pensão, a mesma onde Kyle morava.

Kyle e eu fazíamos vários projetos juntos, e acabamos nos tornando amigos. E além do mais, ele soltava as coisas muito fáceis, não existia um segredo que não virasse fofoca ao passar pela boca dele. Como ele era parte da Horda ainda?

Mandei uma mensagem para Kyle perguntando se Catra estava lá. Pouco tempo depois ele respondeu que ela não morava lá. O menino estava madrugando também, mas jogando lol e não desidratando de chorar por alguém que amava.

Perguntei seu endereço e quinze minutos depois eu já estava no carro com o waze me mandando para o endereço, sabia que era uma área perigosa, mas isso não seria problema. Esse aplicativo já mandou tanta gente pra favela.

Para minha surpresa, ela não morava na Fright Zone, e sim algumas ruas depois da pensão. Era um prédio pequeno, sem porteiro, havia apenas um portão e eu conseguia enxergar o hall de longe, dois elevadores.

Um interfone estava no portão, porém se eu ligasse ela não desceria. Olhei ao redor, nenhuma câmera no edifício, tinha uma num poste na calçada da frente, mas eu seria rápida.

Subi o portão, não muito alto, e logo estava dentro do prédio, corri até o hall e chamei um dos elevadores. Droga, elevador deve ter câmera. Sem
pensar duas vezes subi correndo até o quinto e último andar. Chegando lá toquei a campainha do apartamento que Kyle havia dito ser o dela.

Ouvi um "Vai embora" fraco e insisti. Na terceira vez em que toquei a porta se abriu.

Catra trajava uma regata preta colada ao corpo esbelto e um shorts verde musgo. Seu cabelo estava mais bagunçado que o normal, fixei em seus olhos e vi que estavam chorosos.

Sem hesitar, entrei no apartamento e abracei a felina. Não queria soltar ela nunca. Senti seu corpo tenso se relaxar aos poucos e ela retribuir o abraço.

-Me desculpa Catra, eu não sabia, nunca quis te abandonar, eu pensei que era verdade, fui enganada...- comecei a chorar novamente

Catra se afastou um pouco e segurou minha mão.

-Tudo bem Adora, já passou.

Ela abriu um meio sorriso e me abraçou.

Meu coração se aqueceu repentinamente, eu não havia percebido até aquele momento o quão congelado ele estava.

kill our way to heavenOnde histórias criam vida. Descubra agora