Trinta ✓

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Fanfic de hoje 7/20

Obra original de umas das minhas autoras predileta JulieteBs





Priscilla piscou lentamente. Em quê, Natálie poderia ter mentido para ela? A garota não trajava o perfil de mentirosa, pelo contrário, sempre fora bem direta e sincera em relação aos seus pensamentos.

-- Como assim mentiu? Ao que se refere? -- Priscilla perguntou com cautela, vendo o rosto da menor tomar uma coloração rosada.

-- Sobre o carro e o celular. -- Ela disse, fitando as próprias mãos por um momento. -- Eu não fui roubada, eu os vendi.

-- E por quê? -- Priscilla perguntou. A menor exalou o ar de seus pulmões e Priscilla percebeu seu tom de voz baixar um decimal.

-- Porque a dívida da minha mãe era muito alta e eu, bem, não tinha outra forma de pagar. -- Confessou, coçando um dos olhos. O sono era evidente nela. -- Fui expulsa da casa onde eu morava na Flórida porque atrasei o aluguel e passei a viver em meu carro, mas antes de eu sair chegou a notificação da morte de minha mãe e da dívida.
-- Priscilla balançou a cabeça digerindo as novas informações.

-- Posso, huh, te fazer um pergunta? -- Priscilla perguntou e Natálie assentiu. -- Como conseguiu aqueles machucados?

-- Pedindo carona. -- Ela confessou baixinho, com a voz frágil e voltando a fitar suas mãos. -- Um grupo de mulheres achou que eu era, você sabe, prostituta porque eu estava pedindo carona de noite na beira da estrada e com um vestido. -- Priscilla abriu a boca incrédula e sentiu seu sangue fervilhar ao imaginar alguém machucando Natálie. -- Elas pararam e, o resto você sabe. -- Disse enrubescendo mais. -- Queimaram minha mala de roupas também, por isso eu só tinha um vestido. Agora tenho dois, Ally me deu o outro.

-- Então veio para cá para pagar o hospital com o dinheiro do seu carro e celular?

-- Sim, eu já não tinha nada lá mesmo. Tentei pedir carona para voltar, mas ninguém parou desta vez. -- A garota disse, soltando um suspiro derrotado. -- Então retirei algum dinheiro do que eu tinha guardado e estou limpando vidros. Pelo menos tenho o que comer.

-- Onde dormiu? -- Natálie realmente se sentia embaraçada com tal situação, pois cada vez corava mais.

-- Na rua. -- Priscilla sentiu seu coração se comprimir ao ouvir aquilo tudo. -- Eu tentei te contar aquele dia no restaurante, mas fiquei com vergonha ou medo de você me xingar por ter mentido.
-- A garota parecia tão derrotada e abatida que a qualquer momento desmoronaria, Natálie tinha certeza.

-- Naty, eu jamais faria isso. -- Priscilla disse, tocando em suas mãos suavemente.

-- Desculpe ter mentido. Eu geralmente não sou a favor de mentiras, mas eu tentei dizer a verdade e acabei apanhando e... -- Priscilla puxou Natálie para seus braços quando viu que a menina havia começado a chorar. Ela não se importou em colocar Natálie em seu colo, mesmo tendo algumas poucas pessoas olhando para elas.

-- Não chora, por favor... -- Priscilla pediu baixinho, acariciando as costas da menor.

-- Eu estou tão cansada disso tudo. -- A menor disse entre o choro, afundando seu rosto no pescoço de Priscilla; seu choro aumentou a intensidade, no entanto, ainda era baixo; Natálie não gostava de chamar a atenção.

-- Você deveria ter me dito isso antes, Naty. Eu jamais teria te deixado só, eu esperaria sem problema algum você efetuar o pagamento e depois a gente daria um jeito.

-- Desculpe. -- Natálie lamuriou novamente; pequenos soluços escapavam por entre seus lábios; ela não queria chorar, mas foi inevitável.

-- Não se desculpe, tudo bem?
-- Priscilla perguntou e Natálie assentiu. -- Vai ficar tudo bem agora. Entendido? -- Natálie desencostou-se do ombro de Priscilla e assentiu, levando uma mão ao rosto para enxugar as lágrimas.

[...]

Após acalmar a menor, a comida finalmente chegou e elas comeram quietas, Natálie se sentou em seu lugar e vez ou outra Priscilla contava algo para descontrair, fazendo Natálie rir.

-- E Allyson decidiu ficar lá. Iria transar, com certeza. -- Priscilla disse revirando os olhos, fazendo Natálie rir novamente.

-- Não acredito!

-- Sim, acredite. Não sei como fizeram, o homem parecia ter um braço entre as pernas. -- Outra gargalhada não tão alta de Natálie ecoou no lugar, fazendo Priscilla sentir seu estômago se revolver em êxtase ao ouvir tal som.

-- Andou reparando na bagagem dele, hm? -- Natálie perguntou sugestivamente, fazendo Priscilla revirar os olhos.

-- Era como se ele tivesse três pernas. -- Priscilla disse horrorizada. -- Eu não tinha reparado até o meninão dele começar a ganhar vida própria.
-- Disse fazendo uma careta.

-- Acabamos de almoçar, não fale coisas nojentas na mesa. -- Natálie brincou e Priscilla riu, respirando fundo e se levantando.

-- Vamos?

-- Vamos. -- Natálie disse tristemente.

-- As meninas não vão acreditar quando te verem. -- Priscilla disse, deixando o dinheiro sobre a mesa. Natálie lhe olhou confusa.

-- Como assim? Elas virão para cá? -- Natálie perguntou confusa.

-- Não, Natálie. Você vai para lá comigo. -- Priscilla disse, vendo as orbes castanhas se arregalaram surpresa. -- Você realmente acha que eu te deixaria aqui sozinha?

-- Priscilla, eu não tenho como retribuir. -- Natálie avisou sinceramente. -- O único dinheiro que tenho eu estou ganhando limpando os vidros. -- Priscilla sorriu de forma terna e esticou a mão para Natálie, que segurou um pouco relutante.

-- Eu só quero que nunca mais chore daquele jeito, morena. Se você estiver feliz e segura já estará me retribuindo. -- Priscilla disse e Natálie se levantou também, se jogando nos braços de Priscilla e a abraçando fortemente.

-- Você é o melhor ser humano deste mundo. Obrigada, Pris. -- A menor disse, se arrepiando ao sentir Priscilla lhe dar um beijo na curva de seu pescoço.

-- Agora vamos. -- Priscilla disse, se afastando do pequeno corpo e recolocando o chapéu em sua cabeça, já Natálie pegou suas próprias coisas.

E de dedos entrelaçados, saíram do estabelecimento. Natálie sorriu sem Priscilla ver, pois era a primeira vez em dois dias que sentia seu estômago completamente cheio, mas também sorriu por ter voltado a ver Priscilla. Ela jamais imaginou que aquilo poderia acontecer, afinal ela era uma azarada de mão cheia e em sua vida só costumava acontecer coisas ruins.

Seu coração se acelerou quando sentiu Priscilla acariciar com o polegar sua mão. A maior realmente se importava com ela, Natálie podia sentir. Não era dó, não era pena, era afeto. Puro e verdadeiro.

E muito bem retribuído.

☆Nᴀᴛɪᴇsᴇ☆ ✓ 𝐔𝐧𝐜𝐞𝐫𝐭𝐚𝐢 𝐍𝐞𝐝 𝐃𝐞𝐬𝐭𝐢𝐧𝐚𝐭𝐢𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora