CAPÍTULO 24 - NEFERET
Como vai a busca do caos, minha impiedosa? A voz profunda do touro branco ecoou através da
mente dela. Neferet quase deu uma volta completa antes de ver seu dorso luminoso e mágico, seus
chifres enormes e seus cascos satânicos. Ele estava saindo detrás de uma sepultura, em cima da qual a
estátua de uma jovem angelical olhava para baixo, com a cabeça curvada. Uma das suas mãos de pedra
havia se desintegrado com o tempo, e Neferet achou a aparência, pela expressão do rosto da estátua,
que ela havia dado parte de si mesma como uma oferenda, talvez para o touro branco. Esse
pensamento fez Neferet arder em ciúmes. Ela caminhou para encontrar seu touro, devagar e lânguida.
Neferet sabia que era bonita, mas ainda assim ela se sentiu compelida a extrair poder das sombras ao
seu redor para realçar a si mesma. Seu cabelo longo e grosso brilhou, assim como a seda fluida do seu
vestido negro. Ela havia escolhido esse vestido porque ele a lembrava das Trevas - e do seu touro.
Neferet parou diante dele e se ajoelhou graciosamente. - A busca do caos vai bem, meu senhor. Eu sou
o seu senhor? Que interessante. Neferet levantou a cabeça e sorriu sedutoramente para o deus
gigantesco. - Você prefere que eu o chame de meu Consorte? - Ah, a nomenclatura das coisas. Há
poder nos nomes. - De fato, há - Neferet levantou a mão e tocou em um dos seus chifres grossos. Eles
reluziam como opalas.
- Eu aprovei o nome que você deu para o Receptáculo. Aurox, como os grandes e poderosos
touros Aurochs. (Aurochs são os ancestrais das raças bovinas atuais. Eram encontrados na Europa, Ásia
e norte da África. Com tamanho bem maior que os touros normais, foram extintos no século XVII. (NT))
de tempos antigos. Esse nome é algo que combina e parece certo. - Fico feliz que tenha
aprovado, meu senhor - ela disse, pensando que o touro ainda não havia falado se ela poderia ou não
chama-lo de Consorte. - E como ele serve a você, essa criatura feita por meio de um sacrifício
imperfeito? - Ele me serve bem. Eu não vejo nenhuma imperfeição quando olho para ele, apenas um
gentil presente seu. - Mas você vai se lembrar de que eu a avisei, não vai? O Receptáculo pode estar
danificado. - O Receptáculo propriamente dito não é importante - Neferet descartou o problema. - Ele
é simplesmente um meio de atingir um objetivo - ela se levantou e se aproximou mais dele. - Nós não
precisamos perder minutos preciosos falando sobre Aurox. Ele vai me servir, e me servir bem, ou vai
deixar de existir. - Você se desfaz dos seus presentes assim tão facilmente? - Oh, não, meu senhor! - ela
garantiu. - Eu apenas escutei o seu aviso. Será que agora nós podemos falar sobre algo mais prazeroso
do que um Receptáculo vazio? - Você falou em Consorte. Isso me trouxe a mente algo que eu gostaria
de mostrar a você, algo que talvez você ache interessante. - Eu estou às suas ordens, meu senhor -
Neferet fez uma reverencia. A enorme encarnação das Trevas se ajoelhou, oferecendo seu dorso para
ela. - Venha, minha impiedosa. Neferet montou nele. Seu pelo era gelado, lustroso e impenetrável. Ele
a carregou para dentro da noite, deslizando rapidamente de modo inumano através das sombras,
usando as correntes de vento e as coisas horríveis e escondidas que sempre, sempre o obedeciam. Até
que ele finalmente parou nas sombras mais espessas embaixo de arvores antigas e desfolhadas pelo
inverno em uma cordilheira de montanhas a sudeste de Tulsa. - Onde nós estamos? - Neferet teve
calafrios por se agarrar nele. - Silêncio, minha impiedosa. Observe silenciosamente. Veja. Escute.
Neferet observou, escutou e logo alguém que ela acreditava ser um homem alto e musculoso desceu
de uma das três cabanas de madeira que ficavam no alto da montanha diante dela. Ele andou até abeirada do precipício e se sento em uma pedra grande e chata de arenito. Foi só depois que ele se
sentou que ela viu usas assas. Kalona! ela pensou o nome dele, não o pronunciou, mas o touro
respondeu a ela dentro de sua mente. Sim, é o seu antigo Consorte, Kalona. Vamos chegar mais perto.
Vamos observar. A noite ao redor deles se ondulou e se transformou, encobrindo o touro e Neferet
sinistramente, de modo que parecia que eles eram apenas parte do tecido de sombras e da neblina
preguiçosa que de repente começou a se formar sobre a montanha. Neferet prendeu a respiração
quando o touro, invisível e em silencio, chegou mais perto de Kalona, tão perto que ela conseguiu olhar
sobre o ombro largo e perceber que ele estava segurando uma telefone celular. Ele começou a tocar na
tela e ela se acendeu. O alado imortal hesitou, com seus dedos pairando indecisamente sobre o celular.
Você sabe o que está vendo? Neferet encarou Kalona. Os ombros dele desabaram. Ele esfregou a testa,
abaixou a cabeça como se estivesse derrotado e relutantemente, colocou o telefone devagar na pedra
ao lado dela. Não, Neferet pensou. Eu não sei o que estou vendo. Kalona, guerreiro caído de Nyx, sente
falta de alguém que está longe dele. Alguém que ele não tem coragem de procurar. Ele sente falta de
mim? Ela não pôde evitar esse pensamento. A risada sem humor do touro ressoou pela sua mente.
Não, minha impiedosa. O seu antigo Consorte sente a falta da companhia do seu filho.
Rephaim! A raiva de Neferet começou a crescer. Ele sente a falta daquele garoto? Sim, apesar
de ele ainda não ter colocado esse sentimento em palavras. Você sabe o que isso significa? Neferet
refletiu antes de responder em pensamento. Ela descartou o ciúme, a inveja e todas as armadilhas do
amor mortal. Sim, significa que Kalona tem uma enorme fraqueza. Ele tem, de fato. Eles começaram a
desaparecer da montanha, deslizando de sombra em sombra, montados na noite. Neferet acariciou o
pescoço do touro, pensou em novas possibilidades e sorriu.
REPHAIM
-A gente tem que conversar sobre a visão de Aphrodite - Stevie Rae disse
Rephaim pegou um dos cachos dela e começou a enrola-los no dedo. Quando terminou, ele deu
um puxão leve de brincadeira. - Você falar. Eu vou mexer no seu cabelo. Ela sorriu, mas afastou a mão
dele com delicadeza. - Pare, Rephaim. É sério. A visão de Aphrodite é assustadora. - Você não me
contou que Aphrodite previu a morte de Zoey? Duas vezes? Assim como a morte da avó dela? Em
todos esses casos a previsão ajudou a evita-las - Rephaim acariciou a bochecha dela e a beijou
gentilmente. - A gente vai usar essa visão para evitar a minha morte também. - Isso soa bem para mim
- ela recostou a bochecha contra a mão dele. - Mas a gente tem que deixar uma coisa bem clara.
Dragon é algum tipo de chave, então você realmente precisa ficar longe dele.
- Sim, eu sei - ele passou a mão pela lateral da cabeça dela, adorando sentir a maciez do seu
cabelo, e deixou os dedos descerem devagar pelo pescoço e pelo ombro da sua amada. - Rephaim, por
favor, preste atenção - Stevie Rae segurou o rosto dele com as mãos e o fez parar de tocar o seu cabelo
e a sua pela. - Eu estou prestando - com relutância, ele concentrou sua atenção nas palavras dela. -
Cheguei a conclusão de que talvez ei estivesse errada. Talvez você tenha que ficar aqui, sem ir para a
escola. E com certeza você também não deve ir para qualquer ritual que a gente faça na fazenda da
avó de Z., ou pelo menos você precisa ficar afastado até que a gente descubra mais detalhes sobre a
visão de Aphrodite. Rephaim pegou as mãos dela, que estavam segurando o seu rosto, e as apertoucom firmeza. - Stevie Rae, se eu começar a me esconder agora, quando isso vai acabar? - Eu não sei,
mas o que eu sei é que você vai estar vivo. - Há coisas piores do que a morte. Ficar preso pelo medo é
uma dessas coisa - ele sorriu. - Na verdade, eu achei a coisa toda curiosamente positiva. A visão
significa que eu sou humano de verdade. - O que você quer dizer? É claro que você é humano. - Eu
pareço humano, pelo menos até o sol nascer. O fato de eu ser mortal me faz ser o que eu aparento. -
Mas você não fica triste por saber que o seu sangue não é mais imortal? - Não, isso me deixa um pouco
mais normal. Stevie Rae arregalou seus brilhantes olhos azuis. - Sabe o que mais? Isso faz com que você
não seja mais parte do sangue de Kalona. Rephaim tentou entender por que Stevie Rae negava o seu
pai. Ele realmente tentou, mas não conseguiu evitar a sensação defensiva e quase irritada que o
invadiu quando ela quis rechaçar o imortal alado.
- Você acha que é preciso mais do que sangue para que alguém seja pai? - ele falou devagar,
tentando raciocinar em meio aos seus sentimentos e encontrar a verdade por baixo deles - Sim, é claro
- ela respondeu. - Então é lógico que a ausência do sangue não faz automaticamente alguém deixar de
ser pai também - antes que ela pudesse retrucar, ele continuou: - Kalona é imortal, mas eu estive ao
seu lado por tempo o bastante para vislumbrar humanidade dentro da sua imortalidade. - Rephaim, eu
não quero discutir sobre o seu pai. Eu sei que você pensa que eu o odeio, mas não é isso. Eu odeio que
ele machuque você. - Eu entendo - ele a puxou para os seus braços e beijou o todo da cabeça dela,
inalando o aroma doce e familiar da garota, xampu e sabonete. - Mas você precisa me deixar encontrar
meu próprio caminho. Ele é meu pai. Nada vai mudar isso. - Tudo bem, eu vou tentar parar com esses
discursos sobre ficar longe de Kalona, mas quero que você me prometa que vai pensar em ficar longe
de Dragon, pelo menos por um tempinho. - Essa é uma promessa fácil de fazer. Eu já tento evitar o
Mestre da Espada porque eu sei que ele sente dor quando me vê, mas eu não vou me esconder. Eu não
posso me esconder de Dragon assim como não posso me esconder do meu Pai. Ela se afastou e olhou
para ele. - Nós estamos juntos nessa, não estamos? Ele encontrou o olhar dela. - Estamos. Sempre. -
Cento. Vamos ficar juntos, mesmo se for perigoso. Eu vou proteger você - ela afirmou. - E eu vou
proteger você - ele concordou. Então Rephaim deu um beijo longo e demorado nela. Ele a abraçou
forte por mais alguns momentos, deixando que o perfume e a doçura dela o encobrissem. - Você tem
que ir agora? - ela falou com o rosto enterrado no peito dele. - Você sabe que eu tenho.
- Vou parar de perguntar se eu posso ir até lá em cima com você, pois sei que você não quer,
mas se algum dia você mudar de ideia eu vou ficar com você até o ultimo instante. Porque, mesmo
quando você é um pássaro, você é o meu pássaro. Ele riu. - Nunca pensei nisso dessa forma, mas eu
sou o seu pássaro, e o seu pássaro precisa ir lá para o céu de manha esticar suas asas. - Beleza - Stevie
Rae se soltou dele primeiro e ele gostou que ela deu um sorriso entusiasmado, apesar de não parecer
muito verdadeiro. - Vou estar aqui quando você voltar voando para casa. - Ótimo, pois eu sempre vou
voltar voando para você - ele deu um beijo rápido nela, vestiu a camisa e saiu do quarto. Ele estava
contente por ter saído antes de começar aquele comichão terrível na sua pele. Ele odiava a sensação
de pânico que tinha ao correr pelos tuneis, ansiando com cada vez mais força o mundo lá em cima e o
céu à sua espera. Apenas um pouco antes da saída do porão, ele viu algo se mover nas sombras e
automaticamente assumiu uma postura defensiva. - Ei, relaxe. Sou eu. Ele realmente relaxou quando
ouviu a voz de Shaunee e logo em seguida a garota em pessoa emergiu dos tuneis à direita. Ela estava
com o cabelo despenteado e carregava uma cesta de plástico grande. - Sim, eu acho. Eu tenho mais
uma leva de coisas para tirar do quarto de Erin e levar para o meu novo quarto aqui embaixo - ela
apontou com o polegar para a escuridão atrás dela. - Sim, eu sei que vou ter que colocar luzes aqui.Você precisa de luz? Ela sorriu, levantou a mão com a palma voltada para cima, assoprou nela e uma
pequena chama apareceu, dançando alegremente. - Bem, não exatamente, mas se alguém quiser me
visitar vai precisar de luz. - Posso ajudar você a fazer isso amanhã se quiser - ele se ouviu dize e de
repente preferiu não ter dito. E se ela fosse como os outros novatos e realmente não quisesse ter
muito contato com ele? Mas ele não precisava ter se preocupado. Shaunee não o rejeitou. Na verdade,
o sorriso dela se ampliou.
- Isso seria incrível. Eu ia tentar colocar as luzes depois que eu trouxesse a última leva de coisas,
mas fazer mudança é muito cansativo e tudo o que eu realmente quero é me jogar na minha cama
nova e super confortável e assistir ao ultimo episodio de "A guerra dos Tronos" no meu iPad. Eu
realmente adoro a Daenerys. - Stevie Rae e eu também estamos assistindo. Você sabe que tem corvos
na série. - Sim, e também tem dragões, coisas mortas e um anão bacana, o que parece ser uma coisa
totalmente louca e sem noção, e é, mas num bom sentido - ela mordeu o lábio e pareceu que estava
decidindo se ia dizer mais alguma coisa, então Rephaim ficou ali, esperando, mesmo quando a sua pele
começou a formigar. Finalmente, Shaunee falou com uma voz bem baixa: - Erin nunca gostou da série.
Ela dizia que era uma versão mais idiota de Dungeons e Dragons, e eu concordava em voz alta com ela,
mas costumava assistir quando ela estava dormindo. Rephaim não sabia muito bem como responder.
Ele realmente não entendia por que as duas garotas antes costumavam agir como se fossem uma
pessoa só e, por isso, ele também achava difícil entender por que as duas pareciam tão perturbadas e
perdidas agora. - Quem sabe você queira assistir comigo e com Stevie Rae quando a nova temporada
começar? - ele ofereceu. - Stevie Rae ainda faz pipoca com manteiga? Ela fazia uma pipoca com
manteiga incrível. - Ela ainda faz, sim, então com certeza ela vai fazer a pipoca. Com manteiga. - Ah,
nham-nham. Estou dentro. Obrigada, Rephaim. - De nada. Agora eu preciso ir... - a voz dele morreu
quando ele começou a se afastar em direção à saída do porão. - Ei, ouvi falar sobre a visão de
Aphrodite. Só quero dizer que eu espero que você não morra. - Também espero que eu não morra - ele
fez uma pausa e então acrescentou: - Se alguma coisa acontecer a mim, você poderia ligar para aquele
telefone que você deu para o meu pai e contar a ele?
. Dungeons & Dragons (calabouços e dragões, em tradução livre) é um dos jogos de RPG mais
conhecidos no mundo. Deu origem a uma série de animação exibida no Brasil como Caverna do
Dragão. (NT)
- Sim, é claro. Mas não vai acontecer nada com você. Eu espero. Além disso, você não precisa
morrer para que a gente use o telefone, você pode ligar para ele quando quiser, você sabe, só para
falar com ele. Rephaim percebeu que ele nem tinha pensado em algo tão simples, tão mundano, tão
normal como apenas ligar para o seu pai. - Eu vou ligar. Em breve - ele disse com convicção. - A gente
se vê depois do por do sol. - Até mais - ela respondeu. Então Rephaim teve que correr na ultima parte
do túnel e subir apressado pela escada de ferro até o porão, mas ele não se importou. O seu último
pensamento, antes de o corvo e o céu se apoderassem da sua mente humana, foi que ele estava
contente por Shaunee e Erin não serem mais uma pessoa só, pois Shaunee sozinha era uma pessoa
legal. E ao lado de Zoey e talvez Damien, os três poderiam ser os primeiros amigos verdadeiros que ele
já teve na vida...
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Destinada the house of nigth
VampirosHá novas forças trabalhando na Morada da Noite. Algumas delas ameaçam sua estabilidade. Zoey está finalmente em casa, segura, ao lado do guerreiro Stark, se preparando para enfrentar Neferet. Kalona lançou seu poder sobre Rephain. E, após terem sido...