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Narrado por Noah:

Eu acordei antes da Ayla chegar, eu vi meu irmão segurando minha mão e nada consegui dizer, nem mesmo a mim, quando ouvi a porta fechei os olhos, mas quando senti aquele afeto e aquela promessa, não consegui ficar quieta, me sinto como um alvo inocente clamando por minha vida, isso é um erro, mas é assim que me sinto, meu pai nunca falou comigo dessa maneira e menos ainda acariciou-me. Não consegui segurar a primeira lágrima e as outras seguiram surgindo mesmo sem minha permissão. Quando meu irmão começou a falar comigo vi seu rosto pela primeira vez, e era parecido com o meu, a cor dos olhos a mesma. O sorriso também.

Depois de comer aquela coisa maravilhosa, os dois ficaram me olhando.

-É. . . Eu vou. . . Dar uma saidinha!-disse Ayla saindo de costas pra porta.- Preciso comprar uma roupa pra você sair daqui né, não vai querer sair com a roupa do hospital, vou deixar vocês a sós.

Meu irmão suspirou ao vê-la sair pela porta.

-Noah. . .

-Fica tranquilo vou deixar vocês em paz!-falei.- Vou voltar pra casa, tenho um prédio pra demolir e muita coisa a fazer.

Ele pegou minha mão.

-Fica comigo?-disse ele.-Me da a chance de sermos uma família, de começar de novo.

Sorri com desdém, eu não tenho nada a perder, mas acho que ele não precisa de mim.

- Olha -Começou ele.-Eu preciso te contar uma coisa, que eu nem sei por onde começar. . .

-Eu sei, eu ouvi você falar que sou filha da sua mãe.

-Onde estava?

-No soton!-falei sorrindo.

-Me perdoa, eu não. . .

-Quem deveria me pedir perdão não está mais aqui, você deu seu jeito.

-Eu não o matei Noah, ele ia nos matar e a polícia chegou na hora.

-Por que ele iria fazer isso com você?

-Ele fez isso com a minha. . . A nossa mãe, ele a matou e ele queria uma fórmula, uma fórmula que você iniciou e a mamãe conseguiu concluir, mas essa fórmula destruiria o planeta se chegasse a mãos erradas, então teve uma intervenção digamos que espiritual, eu e Ayla destruímos a fórmula e por isso íamos morrer.

-Eu não imaginava. . .-Respirei fundo e confessei.-Eu nunca terminei as fórmulas de propósito!

-Pôr?

-Eu sabia o que elas poderiam vir a se tornar, sabia das armas que eu estava criando e quando eu tinha certeza de que elas dariam certo eu ia lá e modificava tudo, claro que eu era punida por não conseguir, mas eu sempre soube que eu poderia brincar de Deus se eu quisesse.

-Então. . .

-Eu não sou totalmente um monstro como pensa que sou, já matei animais praticamente a força, depois passei a aceitar pois iria para o inferno de qualquer modo.

-Como sabe sobre Deus e inferno? Nosso pai era ateu e cético.

-Uma das minhas babás era bem religiosa e passou a me contar histórias, quando ele descobriu ela parou de vir.

-Como era punida?- sussurrou ele.

-Ou ele me fazia treinar. . . Com armas ou me prendia em lugares escuros, como o labirinto, no breu completo até eu encontrar a saída, teve uma fórmula que deve ter sido a que você destruiu, essa eu fiquei no labirinto por quase um mês, foi a primeira vez que ele me colocou lá. Mas não quero falar disso.

-Como pode ama-lo?

-Era a única pessoa que eu tinha, quem mais eu amaria?

-Sinto muito!

-Você não tem culpa.

Toc toc.

Alguém bateu e entrou.

-Olá, olha só, nossa paciente acordou, como você está querida?

-Minha pressão sanguínea está boa 12. 8, temperatura devo estar com 36.7, a dosagem de paracetamol mais fosfato de codeína está perfeita, não sinto dor, e o cateter intravenosa foi posta com precisão, minha visão está perfeita , sem sintomas erráticos.

-Uau!-disse o homem de branco.-Você parece uma androide falando assim, se não fosse eu a ter operado você, até desconfiaria.

Ele veio me examinar.

-Desculpe, fui treinada pra saber monitorar meu corpo.

-Como sabe o medicamento que está no soro?

-Sinto na língua o gosto, o cheiro.

-Nossa, quantos anos tem?

-14, faço 15 daqui uns dias!

-Ok!-disse ele examinando meu eletro. 

-Acho que já posso ser liberada!

-Humm talvez mais tarde, vamos ver como seu corpo se comporta está bem?!

-Ok!

Ele saiu, e Ryan me olhou.

-Você é incrível! -disse ele.

-Não sou não. 

-O que me diz sobre o que te falei?

-Não tenho nada a perder não é mesmo?!

-Não, só a ganhar!

-Vamos tentar então!

Ele sorriu e me abraçou, um abraço, algo que. . . só ganhei de minhas babás sem meu pai saber, não consigo retribuir, mas é bom.

-Sabe, se você passar seu braço bom por minhas costas o abraço fica mais completo!-disse ele.

Eu ri e o fiz, era bom. 

-Voltei!-disse Ayla com sacolas.-Ryan pode me esperar ali fora?

-Claro!

Ele saiu e ela tirou umas roupas de dentro da sacola.

-O quê é isso?

-Um vestido!

-Não posso usar isso.

-Por quê?

-Se eu precisar me defender ele não é nada prático.

-Você não vai mais precisar atacar ninguém, agora você vai viver, viver de verdade.

Aquela palavra ressoou algumas vezes na minha mente "viver" "uma chance"

-Noah?

-Tá!-falei voltando a si. -Tudo bem!

-Amanhã vamos sair daqui e gostaria de saber se quer sair comigo, ir ao shopping, você precisa de roupas novas.

-O que é Shopping?

-O centro do universo de qualquer adolescente!-disse Ayla.-Confia em mim, você vai gostar.

-Tá bom!-Percebi um arranhão na mão dela, parece de unhas humanas, pois causam essa coloração na pele, arranhões de animais atravessam pelo menos até a segunda camada de pele, a humana tira a primeira camada só.-Quem fez isso em você?

Ela hesitou, sua respiração mudou e ela não olhou em meus olhos.

-Um cachorro pulou em mim e arranhou. . .

-Está mentindo!

-Não pode saber. . .

-Farejo uma mentira em segundos, porque acha que confio em vocês?

-Hummm. . . É uma história complicada, não se incomode com isso!-disse ela.-Olhe que lindo esse conjuntinho que comprei pra você. . .

Ela desconversou, mas fiquei curiosa.

BreakOnde histórias criam vida. Descubra agora