Capítulo 2

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            Quem vê uma xícara de café nem imagina quanta história o pequeno fruto carrega; o longínquo caminho que teve de percorrer para hoje estar incrivelmente em nossas mesas.
              Conta a lenda que, por volta do século III d. C, o café foi descoberto por um jovem pastor chamado Kaldi. Ele estava com seu rebanho nas montanhas da Abissínia, atual Etiópia, quando observou que alguns animais desapareciam durante a noite e retornavam bastante agitados. O pastor seguiu os animais e viu que eles se agitavam após comer certa planta. Então Kaldi experimentou do fruto vermelho daquela planta e logo se sentiu mais enérgico. Colheu alguns e os levou até um monge, que preparou uma infusão e, após bebê-la, sentiu também uma agradabilíssima sensação e agitação. O monge passou a consumir a infusão durante suas noites de oração e percebeu que a bebida o ajudava a manter-se acordado. Em pouco tempo,  a notícia se espalhou e todos queriam consumir o café; o fruto misterioso cheio de energia.
            Por séculos, os árabes tiveram o domínio sobre a planta; acreditando em seu mágico poder energizante, guardavam o café como algo muito valioso. Até que um monge indiano, chamado Baba Budan, que peregrinava por Meca, contrabandeou sete sementes de café. Elas foram levadas à Índia onde cresceram e prosperaram. Posteriormente, graças ao comércio marítimo com a Índia, a Holanda começou a comercializar o café na Europa, cultivando-o em suas colônias. Os holandeses, então, presentearam o rei Luis XIV da França com uma muda de café, que foi colocada em uma belíssima estufa para ser preservada. Mas um soldado ambicioso desejava que a França também comercializasse o fruto e pensou que a colônia francesa de Martinica seria o lugar ideal para o seu cultivo. Então, durante a madrugada, ele foi até a estufa do rei e pegou uma muda da planta. Em seguida, tomou o caminho da colônia. E ele estava certo, da pequena muda surgiriam milhões de pés de café!
         Aos poucos, o café foi conquistando todo o mundo. No Brasil, sua chegada ocorreu em 1727 e deve-se ao governador do Estado do Grão-Pará, que, interessado em comercializar o café, encarregou o sargento-mor Francisco de Melo Palheta, homem bem afeiçoado, a conseguir algumas mudas da planta. Para realizar a missão secreta, o sargento-mor se dirigiu à Guiana Francesa com o pretexto de resolver questões da fronteira. Aproximou-se da esposa do governador da capital, a Madame d'Orvilliers, e, ganhando sua simpatia, ele conseguiu a tão desejada planta. E desta forma o Brasil conseguia sua primeira muda de café.
           Assim, as primeiras plantações ocorreram no Pará, na região Norte, e posteriormente na região Nordeste, mas, devido às condições climáticas, a plantação não prosperou. Tentou-se, então, a re- gião Sudeste do país e foi no Vale do Paraíba, região localizada entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, que o café encontrou um meio perfeito para se desenvolver, como também desenvolver o pró- prio Brasil.
               O café se tornou o grande propulsor da economia brasileira no século XIX e inúmeras foram as transformações causadas por ele. O acúmulo de capital proporcionado pelo negócio do café permitiu que novas tecnologias fossem implantadas e que cidades se desenvolvessem. Estradas e ferrovias foram construídas para facilitar o escoamento do café. Casarões simples foram transformados em verdadeiros palacetes e o luxo europeu foi incorporado pela classe social em ascensão. Imigrantes aportavam no Brasil para trabalharem nas grandes lavouras, trazendo em sua bagagem uma nova cultura a ser assimilada pelo povo brasileiro. O acúmulo de capital gerado pela economia cafeeira permitiu, ainda, que se iniciasse o processo de industrialização no Brasil, mudando radicalmente a realidade do país. Era o Ciclo do Café.
         Neste contexto, destacou-se a família Arutes; uma tradicional família do Estado do Rio de Janeiro, conhecida por seus grandes êxitos nos negócios cafeeiros e que muito contribuiu para que o Brasil se tornasse o maior exportador de café do mundo.
           Joaquim Arutes, o Barão de Boa Fé, era um homem muito poderoso e influente no período em que o Brasil era império, tendo recebido do imperador D. Pedro II o título de Barão, em 1873, e mesmo após a extinção dos títulos nobiliárquicos, todos continuavam a tratá-lo assim. Sua principal propriedade, a Fazenda Boa Fé, foi herança de seu pai e estava localizada na cidade de Vassouras, na época considerada a capital mundial do café, na região do Vale do Paraíba.
          A fazenda possuía 500 mil pés de café, que rendiam ao Barão uma verdadeira fortuna. Sua estrutura era composta por um suntuoso casarão, onde o Barão de Boa Fé morava com a esposa Eleonora e com o filho José Arutes; o terreiro para a secagem do café, a tulha para a estocagem dos grãos, a vila de imigrantes, constituída por casas bem pequenas dispostas lado a lado; e a capela de São Sebastião, que bem representava a crença da família.
           O Barão era um homem sisudo e de poucas palavras. A barba acinzentada denunciava que a velhice estava próxima. Seu corpo, de estatura mediana, estava sempre vestido por paletó de cor escura e uma bengala era costumeiramente carregada por suas mãos. Sua esposa, a Baronesa Eleonora, era uma senhora discreta e generosa. Corpulenta, aparentava ser mais baixa do que realmente era e seus cabelos pretos e cacheados permaneciam presos o tempo todo. A Baronesa se encontrava depressiva desde a partida das filhas, Loreta e Geórgia, que se casaram com estrangeiros e foram morar em Portugal. O filho caçula, José Arutes, moço culto e reservado, tanto era magro como alto. Tinha a pele parda, como a mãe, e cabelos pretos. Ele era o exemplo de elegância da época; vestia-se como se estivesse sempre preparado para uma ocasião especial. Esta era a importante família Arutes.

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