Encantos do Café

Capítulo 21

Para comemorar o segundo aniversário de casamento, José Arutes preparou uma surpresa para a esposa: passar uma semana na casa de veraneio da família, em Petrópolis, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro. Para Gertrudes foi uma grande surpresa, pois desde a partida do Barão, Arutes esteve sobrecarregado com o trabalho, não tendo tempo para nenhum dia de folga sequer. Então, aquele era realmente motivo para comemoração.

Petrópolis é uma cidade de história interessante. A Cidade Imperial, como também é conhecida, surgiu do desejo do imperador D. Pedro I de construir um palácio de verão, a exemplo das monarquias européias. Certa vez, em 1822, quando o imperador estava a caminho de Minas Gerais, hospedou-se na região da Serra da Estrela e se encantou com o clima ameno e com a abundância da vegetação. Comprou, então, uma fazenda na região com o sonho de construir ali um palácio de verão, que seria denominado Palácio da Concórdia. Mas a obra não pôde ser por ele realizada, pois o imperador teve de retornar a Portugal, abdicando do trono em favor de seu filho Pedro II, em 07 de abril de 1831.
Herdando as terras, D. Pedro II decidiu realizar o sonho do pai. Em 1843, assinou um decreto que determinava o estabelecimento de uma povoação e a construção de um palácio naquelas terras, que foi construído com recursos próprios. Em seguida, um plano de povoação foi elaborado, promovendo a doação de terras imperiais a colonos livres, principalmente alemães.
Desde a construção do Palácio Imperial, por seis meses no ano, Petrópolis se tornava a capital do Império do Brasil. A presença do imperador e de sua corte atraía os mais nobres de todo o país para a cidade, que também transferiam-se para Petrópolis para a temporada de verão. Na cidade, palacetes luxuosos foram construídos para abrigar estes nobres; a cidade se desenvolvia pomposa.

Quando Arutes e Gertrudes chegaram a Petrópolis, já era noite e tudo que conseguiram fazer foi cair na cama, cansados devido à longa viagem.
No dia seguinte, Arutes foi o primeiro a levantar; estava empolgado em mostrar a bela cidade à esposa e rever antigos amigos.

— Já é dia, querida, acorde. — Sentado na cama, ele beijava-lhe suavemente o pescoço.
— Ah, não... Quero ficar na cama mais um pouco.
— Mas estamos em Petrópolis! Um paraíso que merece ser aproveitado. — O marido insistiu.
— Não estou me sentindo bem. Estou tonta e enjoada. Deve ser da viagem; com essas estradas tão ruins, difícil seria não passar mal!
— Ou pode ser por outro motivo. Será que finalmente teremos nosso filho? — Sorrindo, Arutes perguntou.
— Não fale isso nem de brincadeira! — Ela respondeu seriamente.
— Mas por que não? Estamos há dois anos casados. Já passa da hora de termos um filho.
— Ainda não estou preparada para ser mãe. — Gertrudes confessou.
— Toda mulher nasce preparada para isso.
— Engano seu. Algumas mulheres realmente têm o extinto materno, sonham em ter filhos. Mas algumas mulheres não sentem esse desejo, sendo este um assunto não muito confortável para elas.
— Tenho certeza de que será uma boa mãe. Você é boa em tudo que faz.
— Não sei. Talvez seja medo de ser responsável por alguém pelo resto da vida. Acho que podemos esperar mais um pouco.
— Prepare-se, pois o meu desejo é de ser pai de muitas crianças.
— Ah, para a minha sorte as crianças crescem, Arutes. Não gosto de crianças.
— Quando tiver os nossos, você mudará de opinião. Tenho certeza.
— Ou talvez não.

José Arutes estava certo; sua esposa estava realmente à espera do primogênito. Para ele era uma realização, mas para Gertrudes, um contratempo. Ela não gostava da ideia de se ocupar com a maternidade, pois acreditava que seria mais útil cuidando dos interesses da fazenda. Gertrudes não desejava estar presa a nada, mesmo que se tratasse do próprio filho.
A gestação foi sofrida. Devido a sangramentos frequentes, a italiana se obrigou a estar de repouso durante quase toda a gravidez, para a sua revolta, visto que gostava de participar de tudo que acontecia na fazenda.
"Deve ser castigo!" — Ela pensava.