Capítulo 12

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Alguns dias depois, os moradores do casarão receberam uma visita inesperada: a família do prefeito de Vassouras. O Prefeito era uma figura engraçada: homem baixo e corpulento, era tão efusivo que jamais passava despercebido em lugar algum. Contrário à sua imagem era a esposa Heloisa: senhora alta e esbelta, falava baixinho e com delicadeza. E dessa junção de características foi gerada a senhorita Alice; moça distinta e educada, tinha a pele rosada, cabelos lisos e pretos, corpo esbelto e estatura média. Tinha tantos predicados, que era cortejada pelos melhores partidos do estado.
A empregada anunciou a chegada dos visitantes. A Baronesa, que estava na sala de estar com sua dama de companhia, correu para recebê-los na sala de recepção da casa.
— Uma surpresa realmente agradável! Bom dia, senhor Prefeito, Heloisa... Alicinha!
— Bom dia, Baronesa. — Responderam sincronicamente.
— Que bom vê-los! Vamos à sala de estar, lá nos acomodaremos mais confortavelmente.

Dirigiram-se então ao cômodo destinado a exibir o poder da família: sofás aveludados, lareira e lustres formavam o ambiente.

— Estou curiosa para saber o motivo da visita tão prazerosa. — A Baronesa falou enquanto entravam na sala.
— Ora, pois a senhora acredita que essa menina não sossegou até vir aqui para conferir como está a saúde de José Arutes? — Respondeu o Prefeito.
— Ah, imaginei! E agradeço a preocupação. Mas o que esperar de um doce de menina como ela? — Disse a Baronesa olhando carinhosamente para Alice.
— Essa menina quando coloca uma coisa na cabeça... é cabeça dura que nem o pai! — Brincou Heloisa.
— Ele está melhor? — Alice perguntou timidamente.
— Sim. Graças a Deus, foi apenas um resfriado. Arutes já está em meio a papéis e anotações no escritório, como você deve imaginar.
— Será que eu posso vê-lo?
— Claro! Meu filho ficará muito feliz quando souber que você está aqui. Ele lamentou muito por não ter comparecido ao jantar em sua casa. — A Baronesa confortou a moça — Querida, você já sabe o caminho, pode ir até lá.

Imediatamente, Alice se dirigiu ao escritório.

— E o Barão, onde está? — O Prefeito perguntou.
— Acompanhando um carregamento que irá para os Estados Unidos. O senhor gostaria de vê-lo?
— Enquanto os jovens conversam, quero dar uma palavrinha com ele. Tenho um convite para fazer-lhe — Retirou-se. A Baronesa se voltou para Heloisa:
— Sente-se, querida.

Ao sentar no sofá, Heloisa percebeu a presença de Gertrudes, que estava sentada, quase imperceptível, numa poltrona no canto da sala.
— E esta linda moça? É sua sobrinha?
— Não, não. Esta é Gertrudes, minha dama de companhia. Depois que minhas filhas partiram, fiquei tão sozinha que quase entrei em depressão. Gertrudes está aqui para preencher o vazio deixado por minhas meninas.
— Fico imaginando como será o dia em que isto acontecerá comigo. E penso que já está próximo. — Animou-se — Alice tem muito afeto por José Arutes. Ainda bem que a Fazenda Boa Fé não fica tão longe! — Comemorou Heloisa.
— Meu filho sente o mesmo afeto, ou até afeto maior, por Alicinha. A união de nossas famílias seria um presente de Deus! Iria tornar-nos uma só família! — Empolgou-se a Baronesa — Ah, perdão, Heloisa, a conversa é sempre tão agradável, que esqueci de oferecer-lhe algo. Você prefere café ou chá?
— Não se preocupe com isso, Baronesa. Mas claro que escolho o café! Estou na maior produtora de café do Brasil, seria uma afronta sair daqui sem apreciá-lo! — Brincou Heloisa.
— Por favor, Gertrudes, peça a Cassandra para trazer-nos café e algo para comermos.
— Claro, senhora. Com licença. — Respondeu a italiana.

Enquanto Gertrudes deixava a sala, pôde escutar Heloisa comentar:
— Muito bonita essa menina. Até parece da alta sociedade.

Que raiva Gertrudes sentiu! Aquele não era o melhor momento para alguém lembrá-la que ela não pertencia àquele meio. A moça italiana, então, deixou a sala de estar com o coração na mão; em seguida, foi até a cozinha dar o recado à cozinheira; depois, virou-se para o escritório e imaginou o que estaria acontecendo por trás daquela porta. E, antes que alguém aparecesse, correu até o banheiro, sentou-se no vaso e pôs-se a chorar. E dizia a si mesma:
— Calma, você tem de manter a calma. Você não está nesse jogo para perder!

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