Capítulo 10

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O dia amanheceu nublado e todos os empregados se concentravam na tulha, preparando um carregamento que seria enviando aos Estados Unidos.

Com o clima ameno e a tranquilidade proporcionada devido à ausência dos empregados, Arutes saiu em direção ao cafezal.

Da janela do casarão, Gertrudes atentamente o observava caminhar. Olhou para dentro de casa, certificando-se de que ninguém es- tava presente na sala e, impulsivamente, dirigiu-se também ao cafezal. Concentrado em seus pensamentos, Arutes não percebeu a aproximação da moça.

— Posso acompanhá-lo na caminhada? — Gertrudes perguntou.
— O que a senhorita faz aqui? — Surpreendeu-se — O tempo está fechando; não é um bom lugar para estar agora.
— Vi quando saia em direção ao cafezal, então quis aproveitar a oportunidade para também fazer uma caminhada. Este é mais um passeio para organizar as ideias?
—Você já consegue me entender. — Ele fez que sim com a cabeça.

— Então devo estar atrapalhando...
— Não foi o que quis dizer. — O filho do Barão respondeu encarando-a.

Um silêncio aconteceu por alguns segundos.

— Gostei bastante do passeio que fizemos e espero que meus conselhos tenham lhe servido em algo. — Disse Gertrudes.
— Sim, suas colocações fizeram muito sentido, embora tenha muita coisa ainda envolvida. — Devolveu Arutes. Sua preocupação estava contida em cada palavra proferida.

E, sem nenhum aviso prévio, o céu jogou sobre eles uma forte chuva.

— Temos de voltar. — Falou Arutes.
— De nada adianta, já estamos encharcados! — Gertrudes falou abrindo os braços — Ainda prefiro estar aqui. — Olhou bem dentro dos olhos de Arutes.
— Mas você sentirá frio. — Ele insistiu.
— Caso eu sinta, seu corpo será capaz de aquecer-me. Precisarei apenas que me abrace.
— Falta-lhe juízo! — Disse ele sorrindo largamente.
— Vamos aproveitar a chuva! — A italiana correu, entrando ainda mais no cafezal. Ele a acompanhou.

Gertrudes começou a girar com o rosto inclinado para cima, para que a água da chuva molhasse ainda mais o seu rosto.

— Isso é liberdade! — Bradou ela.

Arutes a observava fixamente, encantado com sua leveza. A água que escorria pelo seu corpo parecia fazê-la flutuar.
Ela continuou:
— Acompanhe-me. Vai sentir-se melhor.
— Prefiro apenas observar.
— Não seja sem graça! Eu insisto, venha!
Arutes cedeu ao pedido de Gertrudes. Deixou de lado a timidez e os dois divertiram-se na chuva como crianças, em meio aos pés de café.
A roupa molhada de Gertrudes delineava bem as suas curvas e sua beleza tornou-se ainda mais evidente, deixando o jovem estonteado.

O vento estava cada vez mais forte. Então a Arutes não restou outra alternativa: aquecer o corpo da bela moça. Ele a abraçou e sentiu cada centímetro de seu corpo. Era impossível resistir a ela. Era impossível pensar em outra coisa a não ser beijar aquela mulher. Ele levou a mão ao cabelo de Gertrudes, acariciando-os. Olhando para Arutes, ela permanecia calada, consentindo as carícias. Em seguida, ele a tocou no rosto, fazendo-o inclinar em direção ao seu. E então seus lábios tocaram os lábios dela.

— Perdão por minha ousadia. Não consegui resistir a tanta beleza. — Ele confessou.
— Não precisa se desculpar. Aconteceu porque era também o meu desejo.
E Arutes declarou:
— Na verdade, estava difícil evitar que isso acontecesse, pois desde a sua chegada no casarão eu não consigo parar de pensar em você.
— Então sabe muito bem ocultar o que sente, pois jamais desconfiei.
— Você é a mulher mais linda que conheci, Gertrudes.
— E você é o homem capaz de encantar a qualquer mulher.

Ele a olhou novamente. Sua boca molhada era um convite para mais um beijo. Ele a abraçou, desta vez com mais firmeza, certo do que estava fazendo, e a beijou outra vez.
O alto som de um trovão interrompeu o momento.

— Agora sim está na hora de voltarmos. — Afirmou a italiana.
— É melhor você ir para a sua casa. Deverá trocar logo de roupa para não ficar resfriada. Vou acompanhá-la até lá.
— Não precisa, Arutes. Você também está molhado e corre o mesmo risco de se resfriar.

Ele a beijou novamente e ficaria ali por muito mais tempo, se não fosse uma forte ventania a forçar a despedida.

Gertrudes chegou em casa, trancou-se em seu quarto e caiu na cama, mesmo molhada, dando risadas. Arutes parou em frente à ja- nela do quarto, observava a chuva paralisado, ainda com o sabor dos beijos de Gertrudes em seus lábios.

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