Capítulo 19

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Começava um novo mês, para a ânsia da Baronesa, que ainda sofria por estar distante das filhas; uma mãe jamais se conforma em se separar de suas crias. E era na primeira semana do mês que as correspondências chegavam ao casarão.

A última carta trazia ótimas notícias: Loreta estava esperando um filho e Geórgia estava de mudança para morar ao lado da irmã. A Baronesa se encheu de alegria. Desde que suas filhas casaram, ela sonhava com o momento que seria avó. A carta também trazia um pedido: Loreta desejava a presença da mãe no momento do parto. Ela abraçou a carta como se estivesse abraçando sua filha amada e correu para compartilhar as boas novas com o Barão, que lia seu impresso tranquilo, na varanda da casa.
— Querido, seremos avós! Loreta está esperando um bebê! — A Baronesa comunicou entusiasmada.
— Ora, que maravilha! Já estava na hora de ganharmos um neto!
— Ela também escreveu que Geórgia e o marido se mudaram para Porto e estão morando numa propriedade que fica ao lado da casa dela.
— Outra boa notícia! Estando próximas, uma fará companhia à outra. — Concluiu o Barão.
— Assim fico mais tranquila. Mas Loreta, tadinha, está com medo do parto e solicita minha presença. Pediu para passarmos algumas semanas em Portugal. Por favor, querido, tranquilize meu coração de mãe! — Suplicou.
— Não podemos deixar a fazenda por tanto tempo. Não, não. — O Barão respondeu balançando a cabeça.
— Mas, meu marido, são apenas algumas semanas fora. A vida inteira estivemos trancados nesta fazenda.
— Não seja ingrata, Eleonora. É esta terra que nos dá o sustento!
— Eu sei disso, meu querido. E não amo esta terra menos que você. Mas a nossa filha necessita de nossa presença! A fazenda pode funcionar na nossa ausência, pois Arutes sabe cuidar dos negócios tão bem quanto você. Já a nossa filha estará desamparada com um bebê recém-nascido, sem saber como cuidar!
— É... Arutes é um bom administrador e do jeito que Loreta é desajeitada, pode não cuidar bem da criança. — Analisar os fatos fez com que o Barão se agitasse. — Ah, não! Loreta não saberá cuidar da criança! Lembra como ela era displicente com as próprias bonecas quando era criança?
— Claro que lembro. — A Baronesa sorriu ao lembrar — As bonecas estavam sempre quebradas ou descosturadas.
— Tudo bem, estou convencido; passaremos uma temporada com nossas filhas em Portugal. Afinal, não podemos correr o risco de Loreta quebrar o braço da criança! — Ele riu — E também quero ser o primeiro a colocar o meu neto no colo!
— Antes mesmo que o pai? — Questionou a Baronesa.
— Claro! É filho da minha filha; tenho todo o direito!

Arutes e Gertrudes conversavam sentados no sofá da sala de estar, quando a Baronesa entrou gritando a novidade.

— Deus ouviu as minhas preces!
— O que aconteceu de tão bom, minha mãe? — Arutes perguntou. A Baronesa se acomodou na poltrona ao lado do casal e fez o comunicado:
— Sua irmã, Loreta, está grávida! Serei avó!
— Que ótima notícia! Parabéns, minha sogra. — Disse Gertrudes.
— Posso imaginar como a senhora e o Barão estão felizes com a chegada do tão sonhado neto.
— Obrigada, minha querida. E para completar minha felicidade, presenciarei o nascimento do bebê.
— Que maravilha! — Exclamou Arutes — Então Loreta virá ao Brasil para ter a criança?
— É até difícil de acreditar, mas seu pai e eu passaremos uma temporada em Portugal e a fazenda ficará sob sua responsabilidade. E você, minha estimada nora, ficará responsável pela casa. — A Baronesa informou eufórica.

Os olhos de Gertrudes brilharam com a notícia. Ela finalmente poderia viver sob suas próprias regras.
Toda mulher quando se casa sonha em ter o próprio lar, quer ser dona de sua casa, e embora a Baronesa fosse uma mulher de bom convívio, Gertrudes não se sentia à vontade em dividir a casa. Quando casaram, Arutes não quis deixar o casarão, alegando que não havia necessidade para sair, pois a casa era tão grande, que seria um desperdício deixá-la apenas para os pais, além de ser o seu local de trabalho. Outra opção seria construir uma casa tão boa quanto, mas levaria tanto tempo que essa ideia foi logo descartada. Resolveram ficar no casarão, para a alegria da Baronesa, que queria o filho perto.

— Minha sogra, como estou feliz com a notícia! Certamente Loreta precisará muito do seu auxílio. Ela é inexperiente, deve estar bastante nervosa! Graças a Deus a senhora estará lá para ajudá-la! — Disse Gertrudes.
— Um verdadeiro milagre! — Respondeu a Baronesa.
— Sem falar que, finalmente, a senhora conhecerá um mundo mais civilizado. Os limites do mundo vão muito além dessas terras. O mundo é muito mais que plantações de café! — E voltando-se para Arutes, Gertrudes falou — Logo faremos uma viagem também.
— Quando as coisas estiverem mais calmas por aqui, faremos. — Ele respondeu — Agora tenho que voltar ao trabalho. — Inclinou-se para a mãe— Estou muito feliz com as novidades. Quando escrever a Loreta, diga-lhe que estou feliz com a notícia de que terei um sobrinho e que torço para que a criança nasça com saúde plena.

Gertrudes esperou a saída do marido para continuar a conversa com a sogra.

— Serão dias incríveis. Até acho que não quererão mais voltar. — Disse ela sorridente.
— Isso é impossível. Fazer o Barão passar semanas longe da fazenda é um milagre, sinto-me satisfeita. Meu marido jamais pensaria em morar longe daqui.
— É porque ele não conhece nada ainda. Penso que o Barão já trabalhou muito nessa vida e se eu fosse a senhora, o influenciaria a trabalhar menos para que ele possa se dedicar um pouco mais à família. Tenho certeza de que a senhora gostaria de mais atenção da parte de seu marido.
— Sim. Ele sempre foi tão preocupado com os negócios, que lhe faltou tempo para as crianças e também para mim.
— Mas o Barão já conquistou sua fortuna! O tempo passou, as crianças cresceram! Agora ele pode desacelerar e dedicar-se um pouco mais à senhora. Porém, também creio que ele não faça por mal e que apenas precise de sua ajuda para abrir-lhe os olhos.
— Como eu poderia fazer isso? — A Baronesa perguntou interessada.
— Apenas seja mais esperta, minha sogra. Comece a tratar sobre o assunto discretamente, em tom amável, para não parecer cobrança. Os homens não gostam de serem cobrados, tampouco que apontemos os seus erros. Portanto, o melhor a se fazer é orientá-lo gentilmente. A senhora pode conduzi-lo sutilmente, sem que ele perceba que, na verdade, está fazendo a vontade da senhora.
— Adoraria viver tranquilamente, longe das preocupações da fazenda. — A Baronesa confessou.
— Vocês poderiam passar um tempo em Portugal, depois retornariam para uma temporada aqui. Viveriam os dois mundos!
— Seria um sonho! Tem razão, minha nora. Para que tanto dinheiro se somos incapazes de usufruí-lo? Não faz sentido. Até o presente momento, nossa vida foi dedicada ao trabalho e agora está na hora de desfrutarmos dos frutos de nossa colheita. — Animou-se — Querida, você é uma ótima conselheira.

Gertrudes caminhou até o seu aposento com um grande sorriso de satisfação no rosto. A sogra era ingênua o bastante para deixar-se facilmente convencer.

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